Entrevista a Revista Claudia
Gabriela Abreu: - Como elas podem aprender de novo a incluir isso na rotina, já que é um outro tempo, os códigos são outros, o que é preciso fazer? Algo bem prático.
Primeiro se dar conta que há uma mudança real, que mesmo que o desejo existe em manter viva a memoria, a sensação de estar junto com a outra pessoa, isso não é mais verdade. A partir daí começa o tempo de luto, de término emocional, de despedida de uma fase de vida. Para algumas pessoas leva mais tempo, que aliás precisa ser respeitado. O equilíbrio entre ter uma atitude perversa consigo mesmo se afastando de tudo e de todos e o outro lado, sair desbragadamente para afogar as mágoas sem se respeitar, é a questão. Cabe cada uma ver o que é mais genuíno e não encomendado para ter uma boa imagem no mundo.
Na verdade não é para incluir nada, só modificar internamente a estrutura que tinha na vida para vive-la. O que aconteceu foi somente um rompimento de uma estrutura afetiva que criava uma maneira de viver. O código era com o número dois e agora é com o número um.
Gabriela Abreu: – O que é mais difícil quando a mulher acaba de se separar?
A dúvida do que é mais adequado para aquele momento, que vai desde a comunicação ao mundo do que ocorreu, com mais ou menos detalhes, que vai aparecer na hora que tiver que aparecer sozinha. Muitos sentimentos podem surgir: vergonha, culpa, medo e uma sensação de se sentir diferente, quase esquisita de estar desse novo jeito com as pessoas.
Gabriela Abreu: – Quais os sintomas que elas apresentam, físicos e emocionais?
Fisicamente aparecem desde distúrbios nos diversos aparelhos como o circulatório, endocrinológico, gastrointestinal, ginecológico aos psiquiátricos como depressões, dependências de álcool e drogas e ansiedade generalizada. Nesses mais de 40 anos de profissão como psicoterapeuta e psiquiatra, já acompanhei situações ode mulheres foram acometidas de doenças que deixaram danos irreversíveis no organismo, mesmo tendo passada a fase mais difícil da separação. Da mesma forma, os danos emocionais provindos dessa fase deixam marcas que afetam bastante os relacionamentos seguintes.
Gabriela Abreu: – Como faz para botar o nariz para fora?
Buscar parentes e amigos é a primeira condição. Se interessar pelo que está ocorrendo fora de casa, programas com atividades que fazem parte do seu universo, das coisas que gosta. Aprender a sair sozinha mesmo sem estar acostumada. Se for difícil começar em fazer isso durante o dia. Aceitar o maior número de convites, mesmo que seja só para dar uma passadinha.
Gabriela Abreu: – Como ela reaprende a retomar a vida amorosa com outros pares?
Precisa quebrar os paradigmas que criou em termos do que seria traição. Muitas continuam pensando que estariam traindo mesmo que a relação já terminou e até com o homem já ter seguido adiante na vida dele, até com outra mulher. Há pessoas que criam regras tão estritas quanto ao que é estar traindo alguém, que não se desvencilham delas tão fácil.
Gabriela Abreu: – Por que os códigos de ficar, namorar, transar mudaram muito rapidamente, como elas aprendem isso?
Essas mudanças muitas vezes não atingiram por estar dentro de um relacionamento sem acesso a mudanças, sem discussões nem abertura para se propor uma nova maneira de ver o que é um relacionamento. Entender que é impossível uma só pessoa no mundo completar totalmente a outra e que se a relação terminou há a possibilidade de haver um outro e novo jeito de amar, já é um grande aprendizado.
Gabriela Abreu: – O que ela tem que reconsiderar na vida de transição de uma mulher de um par fixo para um mar de oportunidades que se abrem?
É bem isso…quanto mais “par fixo” ela estiver, mais fixa sem movimentos estiver, mais ela tem que perceber que não dá para sair mergulhando sem nem saber se sabe nadar nesse mar. Tomar cuidado com a liberdade repentina é tão importante quanto aprender a fazer movimentos que destravem e passem a ser de descobertas de como é a vida fora das regras aprendidas. Ser tão precavida nos seus impulsos como corajosa com as repressões.
Gabriela Abreu: – Ou não há tantas oportunidades assim?
Há muitas sim, que não devem ser vistas somente em relação a iniciar um novo amor. Viver mais amplamente, ultrapassar as fronteiras do que está acostumada a fazer, descobrir novos ambientes, novas pessoas, novos assuntos. É se expondo que vai se descobrindo uma mulher diferente do que se via e aprendendo um jeito de viver que abre o campo para entrar uma nova relação de amor.