Traição e site Ashley Madison

TAB UOL – Jornalista Paulo Sampaio

9/03/2021

O nome do site é Ashley Madison, não sei se você já ouviu falar. Agrega 70 milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com uma pesquisa que eles encomendaram em 2020, 55% os adúlteros se tornaram “monogâmicos” na pandemia — para evitar risco de contaminação. Traem como uma pessoa só.

TAB UOL – O que levaria alguém a frequentar um “site de traição”, se ele/ela pode trair no dia a dia (no trabalho, entre casais de amigos, em encontros furtivos)?

Luiz Cuschnir- Pelo que vi, não é só um site de traição. Tem também esse perfil de pessoas casadas/comprometidas. Nesses 2 primeiros ambientes que você mencionou, pessoas muito dentro do mesmo círculo social são mais suscetíveis de serem expostos, mas, até incluindo com relação ao profissional, desmascarariam que têm desejos e até ações em relação a eles, que afetariam imagens que não querem desmanchar…como eu sou a favor da monogamia, família é sagrada, sou uma pessoa “séria”, etc.

TAB UOLEu fiquei surpreso com a informação de que há pessoas que tem mais de um amante, além da mulher. Isso talvez seja um fenômeno surgido do relacionamento virtual — a traição que começa na Internet pode acabar na Internet, e se transformar em vício (de conquistar), sem consequências “físicas”. Será que é a essa traição virtual que eles se referem, ou é mesmo comum trair com mais de uma pessoa, fora do virtual? O que leva a essa necessidade?

 Luiz Cuschnir – Não vejo como vício. Sempre existiu. A internet pode ter liberado mais, o anônimo, a busca, a coragem etc. Há sim, e sempre houve pessoas que têm traços compulsivos de conquistar…independentemente até de realizar quaisquer ações concretas. Outros até para concretizarem, em relacionamentos meteóricos ou até colecionar amantes. Não que seja a mesma coisa, mas há homens, principalmente, que necessitam ir em casas de massagens, ou mesmo dependentes de sites de filmes pornográficos. Mas sem envolvimento afetivo nenhum, mas uma maneira de completar as necessidades sexuais individuais.

TAB UOL – Pelos números que eles me enviaram, a proporção entre homens e mulheres no site é de 1 para 2,2 — menor apenas que na Colômbia (1 homem para 2,8 mulheres) e na França (1 homem para 2,5 mulheres). As mulheres de fato traem mais na vida real, ou é um fenômeno virtual?

Luiz Cuschnir – Não estou vendo uma correspondência ao que conheço. Claro que o incremento da internet também facilitou bastante para elas. Um marketing específico para mulheres pode ter falseado nesse específico site, ou é um estudo demográfico mais amplo?

TAB UOL –  Até que ponto a traição que se mantém no virtual é tão procurada porque possibilita a realização de uma fantasia, sem comprometimento “moral” (a sociedade é mais moralista com as mulheres) nem incorrer em riscos “reais”. Seria uma espécie de “meia-traição”. Pode ser?

Luiz Cuschnir – Sim, é mais moralista para elas. Mas também a sociedade mudou: liberou muito mais as mulheres, como um todo, nas últimas décadas. Transformaram-se os valores, não só do ponto de vista sexual, mas de família casamento, fidelidade, informação maior de conteúdos que são bem amis permissivos e ampliam asa. Informações. Ao mesmo tempo, estimulam as buscas de um novo estilo de vida…

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