Jornal Estado de São Paulo – Jornalista Camila Tuchlinski
10/07/2022
Camila Tuchlinski – O que é a solidão? A partir de qual momento o indivíduo se sente sozinho?
Luiz Cuschnir – A solidão destrutiva, propiciadora da infelicidade, por vezes na sua maior intensidade, chegando até a um quadro depressivo, aparece pela falta do aprendizado a partir dos tantos momentos que ocorreram, impactantes no percurso da vida de cada um. Não houve a incorporação de tudo de maravilhoso que ocorreu na própria vida, incluindo os relacionamentos, mesmo os piores pois ficou o sentimento do que não se tem, o que foi embora, ou do que não poderia ter acontecido. Vem muitas vezes junto com o sentir-se sozinho, empobrecido, sem pessoas com quem poderia compartilhar a sua vida. Pode vir acompanhado de culpa, raiva, vergonha, fracasso, incompetência etc., que são “temperos” ao irem somando a outros e constituírem perigosamente o lugar da vítima e da falta de opções para seguir em busca do melhor presente que é estar vivo.
Mas claro, falo brincando com meus pacientes: “A vida não é para iniciantes, ela é para profissionais…kkk”.
O momento que isso inicia é o da impossibilidade de conceber é somente uma nuvem, o céu azul está lá por trás…
Camila Tuchlinski – O que leva uma pessoa à solidão (essa aqui é uma das perguntas mais feitas no Google)?
Luiz Cuschnir – Não há como não a sentir como desvalorizadora, identificando-a com a dor, a tristeza, mesmo que seja em situações inviáveis, proibidas ou destrutivas. Vem à tona quando tem o substrato de quem se afastou do verdadeiro sentido de si mesmo, parou de nutrir-se em sua essência, quando deveria estar se confirmando como um ser intensamente vivo. Tudo que se vive é uma conquista. Sem movimento, sem busca, sem criar e recriar paramos o nosso desenvolvimento existencial. Não somos só um corpo físico, uma coleção de tramas psicológicas, uma série de conceitos socioculturais que nos denominam. Somos seres humanos e Seres espirituais, divinos como muitos denominam. Todas as relações concebidas no nosso percurso vital devem estar no sentido da nossa vida e por isso a busca constante para estarmos conscientes, acessarmos a nossa essência permanente do nosso Propósito. Senão corremos o risco de acabarmos nesse encontro com a solidão. Propósito é abrangente, e localizá-lo começa com: Estou vivo por quê? Para quê? Qual o sentido da minha existência?
Precisamos chegar a entender bem o que estamos vivendo, que estamos transitando para um Ser pleno, genuíno e libertado para transmitir o que somos e iluminar a tudo e a todos. Pode-se traduzir essa luz como uma energia, fazendo parte de um todo, sem ter qualquer base em um aspecto religioso como parâmetro, mas ancorado nas noções da espiritualidade.
A física quântica baseia-se no que é conhecido como o que não é, ou pelo menos não acessível pelo raciocínio lógico ou conseguimos visualizar facilmente, muitas vezes só inferimos como o “Buraco Negro”. Indicam as ondas vibracionais que somos e fazemos parte desse todo, como um oceano que somos e ao mesmo tempo estamos nele. A energia, as frequências dessas ondas, que essa ciência estuda, das partículas que vibram e nos conectam a todos.
Nada muito diferente quando se caminha pela trilha em busca, sobretudo, de autoconhecimento.
Esse agora é o que componho nos meus trabalhos.
A World Psychiatry Association (Associação Mundial de Psiquiatria) tem uma recomendação que os psiquiatras abarquem também os aspetos da espiritualidade no entendimento e tratamento clínico.
Isso coincide com a minha atuação como psicoterapeuta e a metodologia “Despertar do Ser” que pratico e que se baseia na espiritualidade e associação com a física quântica.
Acredito que esse “adormecimento” que ocorre de várias maneiras, em como as pessoas levam a sua vida, impedem a plena realização delas, inclusive podem propiciar essa solidão.
Meu trabalho, mesmo sem ser evidente nas sessões de psicoterapia, foca no Ser que vive adormecido em cada um até que gentilmente possamos acordá-lo por meio do Amor como substância superior, uma possibilidade de estar mais presente e verdadeiro na própria vida.
Quem desenvolve esta consciência de Ser Amor não estará só, mas terá a si próprio sempre.
A solidão aparece quando não ampliamos o conhecimento para o nosso potencial mais amplo e nos apegamos ao que perdemos. É quando fica tudo escuro e não se enxerga nada a não ser o que está faltando.
Precisamos comemorar e valorizar a vida para ser vivida como algo maravilhoso, não como cheia de perdas e lamentos, mas de frutos e conquistas. Especialmente nestes tempos desafiadores em que estamos vivendo.
Necessitamos celebrar muito mais a vida sob uma premissa integrada, sem egoísmo, em que nos reconhecemos como partes de um todo. De um Universo que vibra dos níveis mais elementares, menores que as partículas que nos constituem, às maiores estruturas conhecidas e desconhecidas pelos seres humanos nos confins do Cosmos.
Camila Tuchlinski – Existe diferença entre solidão e solitude? Poderia nos explicar, se sim?
Luiz Cuscchnir – No latim, solitude é a “gloria de se estar sozinho”. Nos deparamos e constituímos um campo mórfico, que a física quântica mostra como energias que o compõe, do que temos, do que é nosso, do nosso poder. É uma oportunidade de refletirmos, como se estivéssemos silenciando para nos conectar com um estado que vai propiciar aproximar-se do sentido da nossa vida. É o melhor campo de energia condensada que nos protege da sensação do vazio, da falta de companhia, do abandono.
Com a solitude conseguimos o aprendizado maior para ampliar o “amar alguém”, o relacional, e passar a “Ser Amor”, além do somente amar outra pessoa. Esse é um processo muito difícil para quem não faz um trabalho profundo consigo para redimensionar como está vivendo, e é o que eu mais gostaria de ampliar a minha distribuição do meu desenvolvimento como profissional e ser humano.
Reconhecer-se sozinho e, ao mesmo tempo, como um Ser capaz não só de amar, mas de ser o próprio Amor, serve como iluminação para seguir a vida com mais verdade e completude.
Na solidão encontrará campo fértil para instalar a tristeza, o desalento, a desesperança com a dor emocional que devasta quaisquer possibilidades de ver uma saída que traga alegria.
Há um ciclo de constante retorno, em se viver eternamente uma biografia lamentando-se por quem se foi, pelo passado, pelo que não deu certo. O ataque a autoestima vem poderoso. A interferência nos dons e habilidades é prejudicial ao seu desenvolvimento pessoal. Os riscos de deixá-la tomar conta de toda a sua vida é grande.
Desenvolvi uma abordagem investigativa como uma maneira de avaliar esses riscos e ter uma noção maior para os meus estudos sobre a solidão.
Quem desejar responder a esse instrumento não científico nem de sequência de atendimento, mas só de estudo meu pode enviar para https://forms.gle/iDnEyiJJRrikQ9x99
Atualmente, não só mais como escritor, como foi nos meus 17 livros publicados sobre a temática homem/mulher, adoto várias possibilidades de abordar esse assunto dirigindo inclusive um grupo muito grande de pessoas como já aconteceu em eventos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Tenho pré roteiros de episódios e quero associar tudo isso a um seriado “Solidão e o Despertar do Ser” que gostaria de fazer, se encontrasse uma produtora interessada nesse tema.
Quero promover autoconhecimento profundo, por meio de exercícios e meditações guiando e propiciando que cada pessoa possa acordar dessa paralisia incapacitante do seu potencial como ser humano.
Camila Tuchlinski – Existem pontos positivos e negativos para o indivíduo que se sente sozinho?
Luiz Cuschnir – Esse tem sido o meu trabalho como psicoterapeuta a partir da minha formação como psiquiatra.
Discernir o positivo e o negativo de tudo na vida nos tira da confusão do que somos, do que queremos ser, do que temos a obrigação de ser, das nossas crenças sobre realização, felicidade ou segurança. Só indo fundo para se conhecer mais e desmascarar o que se cria para atender isso tudo, será a plataforma para avaliar isso.
A máscara encobre o que se é. É como pintar uma tela: saber como manuseamos os pincéis, nas tintas que escolhemos, nos revela instantaneamente. Perceber que a tela se tornou livre para expor tantos elementos, reconhecer as camadas de tinta que usamos na pintura, dá a chance de descobrirmos mais e mais sobre nós mesmos.
Saindo dessa confusão volta-se para ver o que se está fazendo para lidar com esse sozinho que não surge do nada…chegou ali por muitas razões.
Aí segue mais trabalho ainda: “O que quero e vou fazer com isso?”
Caminhar por essa trilha em busca, sobretudo, de autoconhecimento do Ser vive adormecido em cada um de nós até que gentilmente possamos acordá-lo por meio do Amor como substância superior.
Quem desenvolve esta consciência de Ser Amor não estará só, mas terá sempre a si próprio.
Camila Tuchlinski – Gostaria que falasse também sobre uma situação muito comum entre casais que é o ‘sentir-se’ sozinho. O sentir-se acompanhado é basicamente uma interação de qualidade entre as pessoas?
Luiz Cuschnir – As relações afetivas, assim busco com cada paciente meu do consultório, devem propiciar o reconhecimento dos aspectos vitais para que o melhor de cada um alimente os caminhos necessários para trocas saudáveis e duradouras dos relacionamentos.
Só se alcança o nível de autoconsciência exigido para nos relacionarmos – conosco e com os outros – se corrigirmos a forma como nos enxergamos na solidão diante do espelho.
Não destruir o que já conquistamos, nem romper os entrelaçamentos mais profundos e legítimos é o mais recomendável num primeiro momento.
Rememorar os mais longínquos recantos de suas memórias e guardá-los preciosamente, pode servir para revermos como chegamos a esse estado de solidão como casal.
A mágica é como permanecermos vivos nessa relação sem nos destruirmos. Pelo contrário há uma enorme possibilidade que temos desse relacionamento ser muito mais do que concretamente vemos. Somos infinitos assim como os casais estão vivendo!
Mas precisamos partir da Consignia: “Não dependo negativamente do outro para viver, mas vivo ao seu lado a partir de meu Propósito, inclusive para nutri-lo com meu eterno aprendizado”.
Por isso, precisamos saber lidar com nossa solidão, criando mecanismos para torná-la construtiva. Às vezes imaginamos que o outro irá nos salvar, de algo que nem conhecemos. Nos vemos, pior do que somos e que nem reconhecemos tudo que já temos.
Camila Tuchlinsky – Quais iniciativas o leitor poderia tomar sobre a solidão? Poderia dar algumas dicas?
Luiz Cuschnir – Primeiro é abrir o canal do apaziguamento, da afirmação própria e principalmente se confirmando do potencial das infinitas condições de viver uma vida melhor.
Sabemos que oração, meditação ou cultivo de valores edificantes alteram o cérebro e o corpo todo positivamente. A meditação com a intenção de desenvolver um estado pessoal vibracional positivo e amoroso, assim como a que fazemos nos conectando com pessoas, grupos, ambientes ou com o Universo, nos cria essa disposição à retribuição do que recebemos.
Todos esses caminhos levam ao autoconhecimento que por sua vez é a maior proteção a auto destrutividade da solidão.
Como dicas ofereço alguns exercícios que podem ajudar:
– Em uma meditação ou relaxamento por alguns minutos, visualizar: “O Amor maior vive dentro de você e esbanje a visualização da sua criança e se veja derretendo amor nela ao dormir”.
– Faça uma reflexão: “Fazemos parte de um Todo maior; somos partículas, sempre vinculadas às outras partículas. Aproveite um tempo em silencio o que você conseguiu nesse exercício.”
– Se veja como uma Luz com potencial de iluminar sempre outras Luzes. Fique um tempo com isso, também em um exercício de relaxamento.
– Busque um processo, se possível com um profissional competente para guiá-lo no Autoconhecimento profundo que leva ao Despertar verdadeiro da Consciência e cura a solidão torturadora.
– Entenda fortemente que as pontas soltas do passado incomodam até que as aparemos ou amarremos tecendo uma linda manta que nos envolve.