Do ponto de vista psíquico, o que é ser mulher?
Sem saber defini-la pois é impossível restringir a uma só visão, arrisco que são tantas quantas as variações que indicariam os tons do Pantone, cartela que se usa para definir as cores. O psiquismo feminino sofre influências enormes do ambiente, que por sua vez estão atreladas à educação que elas recebem, às experiências que vivem ao longo da vida e às condições particulares individuais para enfrentá-las.
Há aspectos em comum? Sim, pode ser, mas ainda de acordo como cada uma pode tomar para si o cuidado com o seu emocional. As que estarão se permitindo viver as emoções que se apresentam, responderão com mais sensibilidade, deixarão seus desejos e seus sonhos povoarem seus momentos, independentemente se os afazeres, compromissos e obrigações tomarem espaço extremamente invasivo na sua vida.
Outras, que não podem, não se permitem ou enrijecem seus atributos do sentir, se afastarão deles com uma chance de retomá-los como parte da sua essência feminina.
Esse Ser Mulher passou por transformações nos últimos anos? Se sim, quais?
As transformações em seu comportamento refletem ao que a sociedade provoca nelas. O aumento da sua exposição pública e, ao mesmo tempo, o aumento explícito do seu empoderamento, provocaram compromissos também muito maiores. Enquanto ela poderia deixar mais implícito o que queria, hoje explicita de tal maneira que também cobra dela posicionamentos perante suas atitudes e desejos, que a coloca no centro, e não como consequência dele.
Se não gosta ou não quer, e reclama exigindo que a respeitem como um todo, também a expõe para níveis decisórios mais amplos. Ao não obedecer aos mandos do marido, é cobrada de uma participação mais efetiva no caminho da família do ponto de vista econômico por exemplo. Ao se ver galgando mais responsabilidades e cobrada em performances profissionais cada vez mais sofisticadas, se estabelece em uma posição de alta performance. Isso demanda um nível de eficiência, preparo, capacidade e adequação muito elevado.
Isso só como exemplo e também mostrando que o que se espera dela ao conciliar os vários âmbitos em que está envolvida, será se maior satisfação, mas também de imenso desgaste.
Como a mulher se relaciona com as outras gerações (mais antigas e mais novas)?
Com outras mulheres depende muito de como ela está com os seus traumas psicológicos de mães invasivas, filhas abusivas ou relacionamentos sócio profissionais mais ou menos respeitosos e competitivos. Em cada uma dessas áreas, a mulher estará se confrontando com as suas dúvidas sobre como pode conciliar a que sente e a que faz, ou tem que fazer.
Com os homens, tenho-as visto se impondo melhor, mais exigentes quanto ao respeito que querem ter deles. Bem menos amedrontadas, com os mais velhos mostram mais o que já sabem e com os mais jovens, ou da mesma geração, deixam claro a igualdade que querem ter em relação aos seus limites.
No manejo clínico, quais são as principais queixas das mulheres nas relações interpessoais (trabalho, família, etc.)?
De serem enganadas, sofrerem com traições ou desrespeito ao vínculo que têm com os homens, do desrespeito dos filhos, da exigência constante de apresentarem mais resultados no trabalho chegando a perfeição ou além dela, de precisarem um alto nível de controle emocional mesmo quando é quase impossível tê-lo, de serem manipuladas por homens sem ética ou moral etc.
Quais são as dicas para essa mulher do presente, que trabalha, investe na carreira, cuida da família e ainda não pode deixar de cuidar de si?
A maior e o foco principal de um trabalho psicoterapêutico como o meu, de confirmação e resgate da essência feminina, é colocá-la em contato com a sua capacidade e habilidade em lidar com as adversidades. Ao mesmo tempo é resgatá-la para uma condição de observar a construção da sua história, mesmo que tenha um hábito de se desvalorizar e compulsivamente se culpar pelo que “não fez”, “não é” ou “não foi”. Cuidar-se muito para não se deixar envolver em suas crenças de incapacidade ou menos valia que os outros. Resgatar-se confirmando o Poder que tem em relação aos outros e ao que a rodeia, que dá o direito de se orgulhar por tudo que é: ESSA MULHER!