Entrevista concedida para a Agência Estado
A figura paterna na educação dos filhos nestes novos tempos
Fabíola Girardin: A participação mais ativa na educação dos filhos gera algum tipo de atrito com a mãe? As mulheres estariam se ressentindo ou aplaudindo o comportamento deste “novo pai”?
Luiz Cuschnir: É claro que toda mudança gera reaçôes em sentido contrário, de igual intensidade para equilibrar novamente o status quo, pelo menos na intensidade da proposta transformação. Pai com uma presença tão marcante como nos nossos dias, provoca diretamente uma mudança no papel da mãe. Ela era a dona da casa mas também com toda a responsabilidade pelos filhos, desde a educação formal, como no acompanhamento do crescimento e evolução deles. Cuidava sozinha da saúde, do acompanhamento escolar e decidia diretamente e prontamente as dúvidas que surgiam no dia-a-dia da casa.
Por trás de uma possível crítica delas, quando podem se sentir superadas por eles, também estão aproveitando um pouco do espaço que têm e também vão conquistando atualmente.
Estão aplaudindo-os mas ainda se cobram muito a respeito do que não conseguem atender sozinhas, nem como gostariam de ser ajudadas por eles.
Fabíola Girardin: O pai se cobra mais hoje em dia para estar mais próximo do filho? Há eventuais crises de consciência por se ausentar de eventos importantes (como uma reunião ou homenagem escolar)? Como o homem lida com a divisão do tempo a fim de que sua performance profissional e familiar seja equilibrada?
Luiz Cuschnir: Não se percebe uma cobrança de si mesmos sobre o que não estão fazendo com os filhos. Eles têm uma maior facilidade em se desligarem desta função. Aproveitam muito essa proximidade, tanto para transmitirem seus valores como para aproveitar o que recebem de afeto dos filhos.
Muitos fazem o máximo para participarem, mas não vivem uma sensação de culpa como as mulheres. Ele sempre tenta equilibrar o profissional e o familiar, mas ao ser muito cobrado profissionalmente, não tem tanta capacidade em gerenciar esse conflito e muitas vezes o familiar é que sai perdendo.
Fabíola Girardin: Persistiu durante muito tempo o mito de que o homem não deve revelar sua sensibilidade, suas emoções. Trata-se de um episódio superado atualmente? Em caso afirmativo, como ele transmite essa nova percepção ao filho? Caso contrário, a falta dessa superação afeta de que forma a educação das crianças?
Luiz Cuschnir: Não dá para dizer que está superada totalmente a aversão a se expor emocionalmente. Claro que ele tem um controle mais fácil do que sente ou o emociona. Pelos meus estudos de 16 anos exclusivamente nesta área, além dos 32 anos como psicoterapeuta, faço questão de declarar que eles têm um alto grau emocionalidade. Provei em minhas pesquisas que revelo nos meus livros sobre o Masculismo (termo correspondente ao feminismo), que existe uma emocionalidade restringida que os impede expressá-la adequadamente. É muito comum o pai educar os filhos para serem melhores que eles. É mais fácil agirem fora do que uma transformação interna.
Fabíola Girardin: Se é que é possível, como o senhor definiria o pai do século 21?
Luiz Cuschnir: Vamos ter claro que ainda está em transformação o papel de pai. Nada ainda estabelecido com parâmetros estáveis. Assim como a mulher também está em evolução, com muitas dúvidas e apreensões, os homens-pais não têm a estabilidade neste papel.
O pai hoje tenta equilibrar com imensa dificuldade uma integração entre a emoção e a razão, entre a execução e a elaboração de um conteúdo interno atrelado no que sente. Basicamente o pai, sofrendo toda a mudança dos paradigmas como homem, aprende a ser mais humano consigo mesmo e passa a aproveitar mais dessa fonte de afeto e desafio da paternidade.