Programa Inês de Castro – Bandnews – 07/2011
Inês de Castro: Almas gêmeas (que “milagre” é esse que acontece no encontro? É sorte encontrar uma dessas? É casualidade ou é disposição? Como se identifica o par ideal? Como abandonar a crença de que, se não for um par perfeito não vale à pena? O que é melhor, relações simétricas ou assimétricas? Para quê ter uma relação se sozinho tem mais liberdade? O quê se ganha com um relacionamento estável?
Luiz Cuschnir: Não dá para se dizer que a alma gêmea dura para sempre, se gêmea quiser dizer “ideal”. A melhor pessoa hoje pode não ser a daqui há dez anos ou em uma outra fase de maior maturidade, de uma mudança profissional importante ou de momentos do casal distintos como quando não tem filhos, quando são pequenos ou quando já casaram.
Encontrar o seu par pode ser somente uma loteria ou uma pessoa pode usar instrumentos importantes de conhecimento e vivências pessoais que auxiliam muito uma escolha.
Quanto maior o conhecimento de si mesmo, de suas necessidades, seus sonhos, seus valores, seus conflitos e dúvidas, seu potencial de entrega etc, melhor a chance de se ter uma boa escolha.
Relações estáveis protegem o indivíduo da solidão e por conseguinte de doenças ou quadros psíquicos mais graves. Isso significa que não adianta estar junto com alguém e ter um relacionamento péssimo pois não terá estabilidade, nem propiciará segurança nem companhia.
Inês de Castro: Infidelidade (em tempos de internet o que configura a infidelidade? É igual às outras de outros tempo ou podemos ter um desenho diferente da infidelidade? O que trai se recupera ou será um traidor contumaz? Qual é o perfil do traidor ou não se pode falar sobre isso? Há um perfil de relacionamento que vai terminar em traição? Podemos dizer que homens traem mais do que mulheres ou vice-versa?) Poderíamos falar um pouco sobre traição e vingança. A vingança cura algo? Descobrir a traição resolve? Até que ponto saber os detalhes podem ser masoquismo?
Luiz Cuschnir: A infidelidade só configura o imaginário que já existe em cada um. Se ele não tem essa via de formatação, ele não transborda a mente e fica no seu pensamento e desejo. Há uma gama enorme de conceitos e dimensões para definir o que é infidelidade. Ela pode se basear somente no real, quando há um encontro físico até quando ela se interpõe nos desejos e suprime a possibilidade de querer alguém outro. Na sociedade há uma tendência a se considerar fiel quem não tem um contato físico ou uma expressão mais concreta desse desejo.
A internet, como é virtual, tem uma instância muito semelhante ao desejo com a diferença que toma uma forma visual seja escrita seja com imagens. Ela agride mais que o simples desejo pois coloca o terceiro excluído mais exposto à rejeição.
Contumaz, alguém que persiste em procurar alguém fora do seu relacionamento, está mostrando algo que não está satisfazendo completamente. Pode ser algo que vai além do seu controle, do seu impulso, como pode ser uma busca de algo que não encontra perto ou dentro de si.
Hoje temos muito menos homens precisando trair, com relações fora da oficial, do que antigamente. Os valores masculinos mudaram comparativamente com homens, eles traem menos do que antes. Não precisam se provar tanto por aí.
Mas se compararmos com as mulheres, elas tendem a procurar mais do que antes procuravam se satisfazer, mas ainda menos que os homens pois encontram outros contatos que também dão prazer e preenchem suas necessidades afetivas. Têm mais recursos de relações sociais, de comunicação e da busca por contatos interpessoais mais profundos. Homens guardam mais, têm menos chance de expressar o que sentem e se frustram mais. Aí buscam válvulas de escape para se protegerem da solidão e vergonha.
Traição chama raiva e vingança do outro. Mas se vingar não cura nada e só desgasta a vida da pessoa e dá menos chance do relacionamento se desenvolver.
Inês de Castro: Quem perdoa esquece? Passa por cima? Qual é o poder do perdão numa relação? Mulheres têm maior poder de perdão ou foram mais habituadas a acreditar que precisam perdoar mais?
Luiz Cuschnir: Aqui vai um texto sobre perdão que se baseia em um dos livros que escrevi:
Perdoar é caminhar através da dor.
É aprender a conviver com o imperfeito e aceitar o outro como ele é.
Um ser humano e não divino, alguém que pode pisar na bola.
Pode não cumprir o que se espera dele. Para perdoar é fundamental enxergar o outro como um todo.
É preciso separar o erro que foi cometido daquilo que é maior naquela pessoa.
Ele cometeu um erro, nao é o erro.
A capacidade de perdoar nao é um talento nato,
é uma coisa que você desenvolveao longo da vida.
Quanto mais madura a pessoa é, mais capacidade ela tem de perdoar.
As pessoas amadurecidas toleram mais, entendem mais o que é.
Um relacionamento, o que pode esperar da outra pessoa.
Quem nunca perdoa com certeza está sofrendo.
Deve ter uma série de situações do passado que não conseguiu resolver.
Com o tempo, foi ficando dura, inflexível.
É preciso se exercitar.
Para manter a capacidade de perdoar.
O perdão é importante para o bem-estar mental, sim.
O Perdão tem a ver com qualidade de vida, com estabilidade emocional.
Tem gente que não perdoa e continua remoendo a situação por muito tempo,
Mesmo quando o outro já mudou de vida, ou nem está mais aqui.
Essas pessoas colocam no outro a culpa por toda a sua infelicidade.
Isso ocorre muito: a pessoa cria um algoz, um sequestrador,
Alguém que é a causa do seu sofrimento.
Se conseguir perdoar sai do cativeiro.
Existem passos para chegar ao perdão.
Um dos exercícios mais importantes é se colocar no lugar do outro.
No caso de uma traição por exemplo, a mulher pode tentar se colocar.
No lugar do homem e ver o que aconteceu, pela perspectiva dele.
Pode ser que tenha sido um deslize, um impulso, uma outra necessidade que le foi suprir.
O que aconteceu pode ter a ver com a história anterior dele com outras relações amorosas, com desejos inconscientes.
Coisas que às vezes nem o outro entende.
Outra coisa importante nesse exercício é perceber.
Como o outro está te vendo.
Com certeza você está se sentindo traída, mas é possível que ele também esteja. Entender isso pode ajudar no processo.
Às vezes a pessoa não perdoa porque, quando olha o outro, só enxerga dor.
Esse é o problema.
Se tudo que ela enxerga no outro é dor, é porque a dor é dela.
A atitude do outro pode ter reavivado essa dor, mas o sentimento
Sempre esteve ali.
Existem várias pessoasque puderam perdoar porque localizaram a origem daquela mágoa.
Daí entenderam como essa dor chegou e se instalou com tanta força.
Não, não é necessário perdoar sempre.
As religiões defendem isso.
Mas existe também um compromisso com a vida.
A autopreservação é o mais importante.
Quem perdoa o tempo todo, sem parar, pode provocar um estado de humilhação prejudicial à sua auto-estima.
Antes de mais nada, qualquer pessoa tem que se respeitar como ser humano. Existem coisas impordoáveis, e elas são diferentes para cada pessoa.
É preciso respeitar esses limites.
O perdão pode ser só interno ou precisa ser colocado para fora.
Existem situações em que é preciso externar o perdão.
Se você não diz que perdoou, o outro pode continuar se sentindo culpado, e fica difícil retasbelecer um vínculo.
Em outras ocasiões quando não existe.
Chance de reconciliação, o perdão não precisa ser externado.
Na hora que perdoa, sente um alívio que tem a ver com ela, não com o outro.
É como se tomasse um banho. E aí pode tocar a sua vida de um jeito melhor.