Felizes Por Enquanto

Kalunga Cotidiano – maio/2007

Se há muitos que já decretaram o fim do casamento, outros tantos fazem filas às portas das igrejas e cartórios em busca de cerimônias com pompa e circunstância.

Casamento no Brasil, hoje em dia, pode ter data de validade, mas ainda está muito longe de ser um negócio falido. Dados do Registro Civil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dão conta de que em 2004 foi batido um recorde de uniões oficiais: 806.968, ou 7,7% a mais do que em 2003. Até então, o maior índice havia sido registrado em 1999: 788 mil. Já a média anual para a década de 1990 foi de 740 mil. Outro detalhe curioso é que a cerimônia religiosa e todos os seus apêndices, tachados por muitos de “careta”, voltam à moda com tudo. é cada vez maior a quantidade de serviços especializados para o grande dia e, da mesma fora, as listas quilométricas de espera para casar nas igrejas mais badaladas, principalmente nos grandes centros.

O psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir não tem dúvidas de que o casamento não terminará enquanto o conceito de família permanecer. A união existe simultaneamente à noção de continuidade e formação de um contexto doméstico (de lar) ou de um projeto de filhos incluído.

“Por outro lado, houve uma série de interferências diante das novas posições da mulher na sociedade. Elas provocaram mudanças na relação, o que, conseqüentemente, atingiu o próprio casamento. é um momento de redefinições, mas não de falência,” avalia o autor de diversos livros sobre o tema, entre eles, “A Mulher e Seus Segredos – Desvendando o Mapa da Alma Feminina”.

Artefatos

Embora não confesse abertamente, com receio de virar alvo de piadas, a maioria das pessoas acalenta o sonho de encontrar um príncipe encantado ou uma princesa, a sua verdadeira “alma gêmea”. Fantasiosos ao extremo em seus sonhos, no entanto, nem sempre conseguem vislumbrar as virtudes e qualidades nos candidatos que lhes apresentam. Não é raro encontrar pessoas que se casam com uma ilusão, ou ainda, que acreditam na convivência para mudar o parceiro. Conforme Cuschnir, isso é comum a pessoas mais imaturas ou menos experientes em relacionamentos mais longos.

A idéia de transformar um parceiro, até mais comum entre as mulheres, ocorre tanto quanto maior for a sua onipotência, ou seja, o pensamento de que transformar o outro é uma tarefa fácil e exeqüível para ela,” diz o psiquiatra.

Segundo ele, há pessoas que enxergam no outro mais do que querem ver dentro delas, e não conseguem lidar com o que existe, a realidade de quem é o outro.

Elas estão conectadas consigo mesmas e não com o parceiro, ou futuro parceiro. Podem usar artefatos, como associar um aspecto que o outro tem, para configurar um ‘todo’ que não existe,” esclarece.

Na opinião de Cuschnir, essa idealização nas mulheres do homem perfeito vem desde a mais tenra idade.

É muito comum serem apresentadas a elas figuras correspondentes a príncipes, homens fortes, protetores, compreensivos e que vão enfrentar todos os perigos que vierem ameaçá-la.”

Começa com a figura do pai para preencher este requisito, mesmo nas situações em que ele foge de qualquer herói.

Com o tempo, todo romantismo, a própria sensibilidade e a tolerância da mulher podem montar a idéia de que os homens têm algo que vai salvá-las do sofrimento que virá pela frente“, acrescenta.

Já no sexo oposto, a idéia da mulher “dos sonhos” não vem das primeiras etapas do crescimento. Gira em torno do aspecto físico de alguém que vai permanecer linda e jovem a vida toda.

Traz também a idéia de uma mulher que preencha todos os requisitos de bondade, dedicação e fidelidade irrestritas. Quando vêm as queixas (cada vez mais constantes) de que faltam ‘boas’ mulheres, em geral, é por não terem conseguido cumprir os requisitos físicos descritos“,ensina o psiquiatra.

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