Concedida ao – Diário da Região – S.J. do Rio Preto
Renata Fernandes: Bom, gostaria de saber porque o desafio em terminar uma relação é igual ou maior que o de se casar?
Luiz Cuschnir: Terminar um casamento, além do sonho e ideal que não é atingido, pode significar uma agressão, tanto para o outro da relação como para relações familiares ou sociais que invadem as pessoas. Como escrevo neste último livro “Os Bastidores do Amor” (ed. Alegro), as pessoas muitas vezes são invadidas de regras que acabam cumprindo,
mesmo sem o envolvimento amoroso.
Renata Fernandes: O senhor acredita num poder transformador do perdão?
Luiz Cuschnir: Sim, pois perdoar é crescer. Quando se perdoa alguém do fundo do coração, há uma grande sensação de alívio, de leveza. Estas sensações levam o indivíduo a recapitular sua vida, tomando uma nova postura frente aos seus próprios erros e aos erros dos outros. Errar não é mais um fracasso somente, mas sim um aprendizado.
A raiva dá lugar a um sentimento de entendimento e compaixão, levando a pessoa a se colocar no lugar do outro e a entender a situação de forma renovada, de outro ponto de vista.
Renata Fernandes: De acordo com a matéria da Época, alguns psiquiatras classificam o divórcio como uma das causa de estresse. Por quê?
Luiz Cuschnir: O divórcio demanda uma série de transformações na rotina, nos relacionamentos, tanto com a própria família, quanto com o social, às vezes até com o profissional, que demandam muito de quem está se divorciando.
Renata Fernandes: Qual sua opinião sobre o assunto?
Luiz Cuschnir: O divórcio pode tanto significar um fracasso de um projeto de vida, como uma oportunidade de resgate, de “pagamento de um resgate”, ao qual a pessoa estava se propondo a algo impossível de cumprir. Pode ser uma recuperação da própria essência e uma nova oportunidade.
Renata Fernandes: A classificação seria ainda igual a dor da perda de um ente querido. É isso mesmo? Se for como podem ser comparadas?
Luiz Cuschnir: Essa dor de perda de alguém, pode ser sentida como algo que empobrece o sentido de vida. Se é por morte, e ainda houver o desejo de continuidade da relação, ela fica abortada pela morte. Já num divórcio, a perda depende do que continha o projeto desta relação. Pode ser um alívio, como uma libertação. Mas pode ser também um abandono, uma decepção, que corrobora com um desejo de rompimento, afastamento. O que elas tem em comum é uma fase de
“luto” emocional, que deve perdurar algum tempo até se adaptarem.
Renata Fernandes: Como as pessoas devem lidar com a dependência emocional? Como identificá-la?
Luiz Cuschnir: A dependência emocional é necessária dentro de uma certa medida para a relação se estabelçecer e se desenvolver. Se as pessoas não tiverem-na, se tornam tão distantes usam da outra que passam a não reconhecerem a importância do outro em sua vida. Quando ela passa a ser uma confusão com a própria identidade, uma mistura com o outro, sem saber mais falar “eu”, e tudo passa a ser “nós”, é um sinal de alerta de invasão.
Renata Fernandes: O que fazer para se livrar dela?
Luiz Cuschnir: A percepção e o trabalho de quem se é, da própria essência, é vital para isso. A psicoterapia se propõe a auxiliar as pessoas neste fortalecimento e busca da própria individualidade, para poder oferecer para o outro um “eu” melhor, mais íntegro.
Renata Fernandes: Como diferenciar amor de dependência?
Luiz Cuschnir: A diferenciação é entre o amor que aprisona, que contrange o crescimento do outro, que abafa as potencialidades massacrando o ser do outro, e o amor que liberta, que dignifica o outro como ser humano, que amplia o outro para ser um ser melhor,
mais realizado consigo mesmo.
Renata Fernandes: Como conseguir fazer uma lista e resolver questões, por vezes de uma relação de anos, em duas horas?
Luiz Cuschnir: Na verdade a lista deveria ser realizada em muitas etapas consecutivas, e só servir como um guia para que o encontro não se torne exaustivo e improdutivo. As resoluções nem sempre são para resolver o passado mas sim para dar um caminho de como vai ser o futuro.
Renata Fernandes: Como as pessoas que ainda vão se casar podem se precaver de um futuro divórcio estressante? Devem penar nisso?
Luiz Cuschnir: Precaver seria se manter ainda como indivíduo que fornece uma parte de si para o vínculo, e não se misturar no outro. Por outro lado, o pensar nisso não pode ser uma preparação para o rompimento mas uma realidade de vida. Estar atento de que o outro não é posse, nem o relacionamento uma conquista resolvida eterna. Vai precisar de muito investimento pessoal e de qualidade de cada um.
Renata Fernandes: Se o casal tem filhos, como lidar com eles?
Luiz Cuschnir: Com cuidado que eles estão atingidos e despreparados. Não estão envolvidos da mesma maneira e nem estão no mesmo tempo dos pais. Há etapas para se seguir e necessidade de constante envolvimento e cuidado direto, pessoal, físico com eles, tanto pai como mãe.
Renata Fernandes:Quando a separação acontece por causa de uma traição, mentira, etc…É pior? Como superar a dor?
Luiz Cuschnir: É muitas vezes uma ferida na autoestima, que pode inclusive comprometer os futuros relacionamentos. Nunca tentar comparar nem resolver neste novo relacionamento o que ficou do anterior que traía ou mentia. Sempre será uma nova pessoa, um outro ser que está tentando começar uma relação que nunca ocorreu antes.
Renata Fernandes: Como o casal deve resolver a questão dos bens materiais? Pensão, entre outras…
Luiz Cuschnir: Com conversas, diretas ou através de terceiros que possam intermediar. Há terapia de casal, trabalhos terapeuticos vinculares, de vínculos afetivos, que podem suprir as lacunas de comunicação evitando os desgastes e ajudando a
interpretar as demandas de cada um, mesmo que seja para ajuda-los a se separarem melhor.
Renata Fernandes: Qual sua recomendação?
Luiz Cuschnir: Se o contato não for possível, procurar ajuda. Muitas coisas se misturam, sentimentos invadem na horas das negociações concretas, econômicaas. É muito difícil lidar com dinheiro com uma situação emocional tão destrutiva como um momento de divórcio. Tudo tem que ser feito da maneira mais delicada: ambos estão adoecidos nesta hora.