Casamento não é conto de fadas

Raquel Paulino – iG São Paulo – 05/05/2012

Autoconhecimento e maturidade são essenciais para encarar a realidade da vida a dois

Imagine viajar para curtir o calor da Flórida e, ao sair do avião, descobrir que foi levada aos Alpes Suíços. Mesmo achando os dois destinos deliciosos, o choque com a mudança é brutal, já que nem roupas adequadas para o clima local você tem. É mais ou menos essa a sensação de muitos recém-casados, que idealizam um conto de fadas para depois do “sim” e, com a chegada da rotina e das contas a pagar na volta da lua-de-mel, se deparam com um dia a dia bem diferente do sonho da época de namoro.

Ao perceber sinais de insatisfação no casamento é melhor conversar, abrir o jogo e ouvir o parceiro

O encontro com a realidade pode assustar, mas nem sempre o suficiente para acabar com a vontade de ficar com o cônjuge. Um estudo conduzido pelo Departamento de Desenvolvimento da Família da Universidade da Carolina do Norte (EUA) ao longo de 13 anos e concluído em 2011 mostra isso em números. De 300 casais com menos de um ano de união civil que admitiram que o casamento não era o que esperavam, 27% optaram pelo divórcio antes de chegar às bodas de papel, alegando que o parceiro ou a parceira havia mudado para pior. Uma porcentagem menor, 13%, separou-se no decorrer do período por outros motivos (mais citados: traição, falta de dinheiro e pressão da família). A grande maioria, 60%, preferiu lidar com o cotidiano e manteve o matrimônio durante todo o tempo da pesquisa.

O psicoterapeuta e psiquiatra Luiz Cuschnir complementa: “Avaliar racionalmente o que vai acontecer depois da cerimônia de casamento transforma o momento de idealizações em um negócio, acaba com o romance”.

“Há pessoas que se convencem de que o outro é alguém que querem ver. Mais cedo ou mais tarde, cai o ideal e aparece o real. Vão se decepcionar, com certeza”, diz Cuschnir.

Sinais de alerta e o que fazer para melhorar o clima

Dificilmente o marido ou a mulher dirá: “Nosso casamento está aquém das minhas expectativas iniciais”. O descontentamento é mostrado em atitudes. Silêncios longos durante o jantar, falta de intimidade em uma sessão de filme em casa, afastamento sexual, diálogos que se limitam às contas e aos compromissos assumidos e frases como “Você está muito chato(a)” e “Você não era assim quando namorávamos” são indícios fortes de que uma das partes do casal – ou as duas! – não está satisfeita com a convivência.

Ao detectar esses sinais, é hora de conversar, abrir o jogo e estimular o parceiro a expressar o que está sentindo. Depois disso, chegar a um acordo sobre novas atitudes. Uma boa idéia é estipular um dia por semana para saírem separados, cada um com os seus amigos. “Pode auxiliar na adaptação ao novo estilo de vida e ser muito rico para manterem a própria identidade, sem se misturarem em um ‘nós’ o tempo todo”, avalia Cuschnir.

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