Daniela Venerando
Em 15 de julho comemora-se o Dia do Homem no Brasil —celebrado internacionalmente em 19 de novembro. Por aqui, a data foi proposta pela Ordem Nacional dos Escritores, em 1992, com o objetivo principal de lembrar dos cuidados com a saúde do homem. Também foi instituída para discutir a igualdade entre os gêneros masculino e feminino e o paradigma do homem contemporâneo, que já não segue o mesmo padrão comportamental do século passado. Para trazer à tona essas mudanças, conversamos com o psiquiatra Luiz Cuschnir, autor dos livros ‘Por Dentro da Cabeça dos Homens’ (Editora Planeta) e ‘Ainda Vale a Pena — Cultivar para manter os vínculos do amor’ (Editora Academia). Acompanhe a entrevista abaixo:
Viver +50 – O homem típico machão está com os dias contados?
Luiz Cuschnir – Sim, as mulheres não querem mais ser dominadas e ele acaba ficando sozinho ou com opções piores, o que não é nada bom como prognóstico para o relacionamento.
O homem já encontrou sua nova posição?
Ele ainda não se encaixou, está em transição entre o resquício e a educação machista e uma aceitação de mais liberdade e equilíbrio de poder de cada um. Mas já aceita que a mulher trabalhe, cuide de uma maneira menos intensa dos filhos, e que também não o paparique tanto.
Imagino que o homem também sofra com certas atitudes das mulheres, que também estão confusas em relação a eles. Eles podem ser acusados de machistas e, por outras atitudes, serem chamados de frouxos.
Apesar de as mulheres quererem que os homens participem dos afazeres domésticos e outras demandas, elas ainda gostam de homens com perfil masculino, até de certas características que poderiam ser interpretadas como machistas. Uma delas muito presente ainda é que o homem deveria se responsabilizar em pagar as contas do restaurante. Esperam que sejam mais provedores, tenham mais compromisso com o trabalho, dirijam projetos de vida do casal, ficando inseguras quando viajam de carro sozinhas sem um homem. Se eles cuidam do filho, elas os veem como se tivessem assumindo papéis femininos. Com o tempo, isso tende a mudar.
A forma como os homens e as mulheres vivem os relacionamentos depois dos 50 anos mudou?
Houve mudança e as causas foram econômicas. A mulher trabalha, há menos empregadas domésticas, e o homem também tem que cuidar da casa. Os nossos direitos trabalhistas são recentes e assim os homens atuais de 60 anos não viveram essa divisão de atividades. Os que estão nessa faixa já se acostumaram com a partilha da educação dos filhos mas não da limpeza da casa. Com isso, as relações amorosas estão mais livres de ambos os lados. Cada um pode prescindir do outro, principalmente as mulheres. Vejo os homens mais dependentes de ter uma mulher para compartilhar tudo do que vivem. E acho que as mulheres estão mais preparadas para continuar suas buscas mesmo sem um companheiro.
O sexo também mudou?
Sim, as mulheres mais experientes exigem mais dos homens. A qualidade importa e eles sabem disso. Usam largamente os remédios para disfunção erétil quando estão comprometidos numa relação. Nem sempre eles têm o interesse e o desejo, mas mantêm o ritmo pois sabem que estão sendo avaliados.
Qual é o maior desafio para os homens de 50+ viverem experiências amorosas e sexuais?
É eles se interessarem em aceitar relacionamentos com mulheres de idades mais próximas. Isso pode indicar relacionamentos de maior duração e mais completos, em vários níveis. Por outro lado, o homem precisa de muito estímulo e isso pode ser conseguido mais facilmente da energia de uma mulher jovem. O valor que uma jovem dá para a manifestação de amor é maior do que o de uma mulher mais madura.
Muitos homens mais velhos namoram ou se casam com mulheres mais jovens, mas o contrário não acontece tanto. Por que isso ocorre?
Esse é um resquício machista. Demonstrar bom desempenho sexual ou ter mais estímulo pela juventude dela o deixa mais seguro. Isso propõe que sejam mais ativos e também preencham as fantasias que têm da própria juventude recuperada. Acredito que os europeus são mais liberais nesse sentido, menos exigentes em termos de idade e mais focados no conteúdo emocional. Aqui há um estímulo visual e até uma certa exploração do corpo feminino que vira objeto de consumo que os atinge também.
Por que o divórcio geralmente parte da mulher? Os homens costumam ser resistentes à mudança?
Geralmente, os casamentos se desfazem por conta de traição. Só que os homens muitas vezes não estão apaixonados ou não trocariam a vida de casados por essa relação. Não chamaria de resistência, mas sim de avaliação se estariam mesmo fazendo uma troca adequada. Quando eles traem e as mulheres descobrem, elas têm mais segurança de se separarem pois acreditam que podem constituir uma vida sem eles.
Nessa idade os homens ainda têm receio de procurar um médico para tratar problemas sexuais?
Hoje eles estão mais livres para procurar ajuda e já existem profissionais preparados para acolher essas queixas e os orientar. Isso não significa que conseguem abrir todos os assuntos com o médico. Muita coisa ainda fica só com o terapeuta.
Como viver um grande amor na maturidade?
Esquecendo do envelhecimento do corpo e dando valor aos sentimentos. Dependendo mais da mente do que do corpo, mais do emocional do que do físico. Criar uma companhia que possa entender que na maturidade é um momento de unir a experiência e a tranquilidade e de manter a curiosidade para conquistar mais do que a vida pode oferecer. Acredito que é o melhor jeito de viver esse amor de uma maneira grande, rica e respeitosa.