Entrevista concedida à Revista do Correio Braziliense Reporter – Flávia Duarte – 08/2011
Flávia Duarte: Os homens ainda são vistos como coadjuvantes durante a gestação?
Luiz Cuschnir: Desde o advento do femininismo, houveram profundas mudanças nas relações familiares. Com a mulher ocupando outros espaços sociais, os homens, com o Masculismo (tese de mestrado na Fac. Med. Da USP – Masculismo, um estudo através do Gender Group® – que apresentei em 1998) tiveram a oportunidade de desenvolver vários papéis, inclusive o de pai. Nas últimas décadas tivemos muitas transformações desses paradigmas. Sem dúvida, eles ainda não são os protagonistas, mas se espera uma participação muito maior do que em décadas passadas.
Flávia Duarte: Quais são as maiores angústias, medos e expectativas do homem que espera o primeiro filho? Esses sentimentos mudam quando a mulher espera o segundo filho?
Luiz Cuschnir: Sempre foi importante para o homem ter filhos, pois dá a noção de continuidade e muitas vezes de sentido de vida. Sentir-se capaz, fértil, reprodutor, conecta-se com a masculinidade e toda noção de identidade masculina. A segurança pode advir daí, mas também sabemos que muitas vezes perante os filhos, a insegurança pode aparecer quando não está claro o que se está oferecendo ao filho. A insegurança do seu papel de provedor parece-me que persiste se não houver uma situação clara de estabilidade financeira. Às vezes até aumenta conforme o nascimento se aproxima. A alegria vem junto com a confirmação de sua fertilidade e a importância existencial que se percebe tendo sendo um futuro pai. A rivalidade com este filho pode aparecer depois. Durante a gravidez só tem a leve sensação de exclusão, mas quando nasce o filho, perde em geral perde o seu lugar de primazia. Isso ocorre nos pais de primeira viagem. Já os que têm mais filhos muitas vezes intensificam a relação com estes. Utilizam a experiência anterior e estão mais livres para se dedicar a esse papel paternal.
Flávia Duarte: A atenção durante a gravidez vai toda para as mulheres e para o bebê. Os homens sentem falta de serviços específicos para eles durante esse período?
Luiz Cuschnir: Há falta desses serviços, mas também á poucos profissionais realmente capacitados com esta especialização. Os homens também não têm a mobilização interna e muitas vezes não têm a oportunidade de sentir a falta desse atendimento. Há ainda muitas mudanças culturais para ocorrerem.
Flávia Duarte: Como o homem poderia participar mais da gravidez da esposa?
Luiz Cuschnir: Hoje estão mais interessados em acompanhar a família como um todo, assim como ao que ocorre dentro de casa. Com o passar das décadas, nos tempos pós feminismo, o que os homens mais responderam às necessidades de mudança de paradigmas, foi no papel de pai. A cultura mudou e a Sociedade tomou consciência da importância que um homem tem na educação do seu filho. Ao mesmo tempo, os homens passaram a respeitar mais e entender as necessidades emocionais da mulher, o que coincide com este momento da gravidez. Podem participar tanto com o interesse pelos sinais e sintomas físicos que a mulher apresenta como a cumplicidade pelas transformações que ela passa, dando uma maior segurança a ela de ser aceita por ele mesmo assim. Está mais do que comprovado que esta relevância da sua participação existe. O contato físico da criança com um homem vai ser preponderante para o desenvolvimento da relação entre pai e filho, mas a preparação dos dois como casal, só ocorre se o “projeto gravidez” se der conforme a gravidez evolui. Os assuntos, fantasias, expectativas vão se transformando e se ambos curtirem isso juntos será uma viagem inesquecível para ambos.
Flávia Duarte: Qual a maior diferença de expectativas entre homens e mulheres quando o assunto é gravidez?
Luiz Cuschnir: O filho pode ter a visão masculina da vida, não é só educado pela mãe. O pai tende a mostrar um lado mais prático e mais amplo, dando um campo mais aberto de conquistas para esse filho. Sendo assim, as expectativas deles serão diferentes das delas. Isso povoa o seu imaginário e quando ele pensa no filho já inclui o projeto de vida afetiva e profissional dele. Muitos homens preenchem suas lacunas amorosas, sua insatisfação com o relacionamento com a esposa e vivências anteriores com a vinda de um filho. Ocorre de ser mais fácil a troca de afeto com filho do que com a mulher.
Flávia Duarte: A gente conseguiria dividir o comportamento do homem por trimestre? Da descoberta da gravidez ao nascimento da criança?
Luiz Cuschnir: Não é tão comum e nem tão visível assim. Tudo depende de como está o vínculo afetivo com a mulher assim como com tema de pai que ele tem acesso. Se o homem dá importância, seja porque foi educado para isso ou se tem dificuldades nessa área, pode haver um estímulo psicológico para ele passar a desenvolver esse acesso à sua identidade de pai. Há estudos estatísticos que mostram que os homens/pais tendem a ganhar mais do que os solteiros e os sem filhos. A consciência da gravidez reverte para a responsabilidade com certeza, mas há a necessidade de haver um terreno prévio para ela se instalar. Há homens que se recusam tomar contato e deixar hábitos que são incongruentes na vigência do papel masculino. Com a evolução da gravidez, também ocorre a revisão da função de pai para esse filho. Podem amadurecer mais e se preparar melhor para a nova função. Às vezes sentem o primeiro filho relegado e se ligam mais a ele, quando é o caso.