QUE MUNDO VOCÊ ESTÁ VENDO DA SUA JANELA DURANTE A QUARENTENA E O QUE ESPERA DELE APÓS A PANDEMIA?

Quando se olha pela janela, tem-se uma enorme possibilidade de se proteger e se afastar do que está acontecendo lá fora. Mas não é só isso, essa proteção assim como esse isolamento dá a chance de não se contaminar com o que está a uma certa distância e mais: não se misturar com o que vemos mas não é nosso, do nosso jeito de ser, de pensar, de agir etc. Nessa pergunta temos que refletir sobre o que é a quarentena para todos nós: pode ser muito positiva e muito negativa. O positivo vai para o que podemos aprender com ela, o que reconhecemos do que é “do lado de fora”, do que está ou pode nos atingir no mundo externo, e o que surge de nós mesmos, do nosso interior.

Ambos aspectos, que na verdade são múltiplas instâncias que nos constituem, estão presentes em maior ou menor intensidade dependendo do que já sabemos sobre esse espaço visível, material e até comprovável que nomeamos facilmente, e do que conhecemos de nós mesmos. O autoconhecimento é um processo, um movimento constante para um auto observação, que se revisa ao longo da vida.

Então o que vamos falar ainda aqui nesse texto é o que se espera, o que conseguimos perceber daqui, desse lugar que já conhecemos da Pandemia, e também o que gostaríamos de saber sobre os próximos passos e o depois da Pandemia.

Enfim, um questionamento tão evidente, que poderia traçar algumas considerações, dependendo do ponto de vista da avaliação que podemos fazer, pode levar a um espaço de resposta que eu duvido que alguém pode responder. Sempre será um ver de uma janela por raios visuais que ao chegarem no cérebro estarão comprometidos com uma identidade e história desse indivíduo que observa daí, dessa janela, desse lugar afastado do que realmente está acontecendo lá, que compõe esse cenário que é descritível dessa maneira.

OLHAR PELA JANELA

Cabe a primeira pergunta? Por que estou aqui, isento do que está lá? Depois vem, eu estou longe, posso ver melhor e também estou me afastando do que não me pertence, do que não acontece comigo, é lá na rua, é fora da minha casa, é na passagem do meu caminho de carro…

Muitas vezes na nossa vida, já usamos esse método de quarentena e um dos motivos mais presentes nesse isolamento, foi para nos protegermos de  uma contaminação de alguma coisa que não tínhamos, ou achávamos que não tínhamos, como identificar, reagir, responder de uma maneira que nos sentíssemos seguros, preparados ou com habilidades para o que nos apresentava.

A única saída para isso era usarmos o que já sabíamos ou achávamos que sabíamos, até do que não sabíamos. Conseguir enxergar necessariamente não capacita a lidar com a situação que reconhecemos e descrevemos. 

E porquê? Como é possível a gente saber tão bem, às vezes, o que estamos vendo da janela, mas não temos nenhuma ideia de como enfrentar isso? 

E muito mais do que essa posição “voiyerista” localizada, acresce-se a noção do tamanho que ela abrange: todos os lugares + ameaçadora + desconhecida até agora nas nossas vidas.

RECUPERAR A JANELA EM QUE SEMPRE ESTIVEMOS

Quando se fala que a ordem de tudo no mundo vai mudar, que hábitos, tipos de relacionamento, conscientização de valores, sentimentos ditos adequados ou não para o que vivemos até agora, estamos com certeza englobando uma postura otimista e pessimista. E sempre agregando uma dose de achismo e desejismo, se é que existem essas palavras.

Mas quero declarar aqui, esperando que eu esteja certo claro, que um caminho temos para descobrir os nossos recursos para lidar com o que estamos querendo saber do que acontece na janela da pandemia.

Esse caminho temos, sabendo ou não, temos dentro de nós, no espaço interno que nos compõe. Não vou dizer que é fácil utilizá-lo como fazemos com a janela. Afinal se sabe que falar do outro, do vizinho, do marido ou esposa, do patrão, podemos ser exímios em apontar  principalmente quando são falhas, mas é claro também, os que conhecem o instrumento da empatia, sairão desse vício destrutivo e construirão um outro bem melhor.

Então chegamos no caminho que quero apontar aqui: o AUTOCONHECIMENTO.

CONHECENDO QUEM SOU EU

Esse é longo, sei disso. E pode ter muitas outras características que podem desanimar, com muito vento ou chuva vinda dessa janela aberta para dentro de nós. Elas se misturam pela distância que propicia não enxergar direito o final e desistimos. Também dá preguiça disfarçada pela falta de tempo e condições materiais. Pessoas desistem por medo do que vão encontrar, ou acham que só vão aprender o que está no que podem materializar, ou que já sabem tudo e chegaram na obra completa, já passaram por todas as Pandemias e conhecem tudo sobre elas. Essas equivalem aos que já viram onde e como são os vírus que nos ameaçam, além terem todos os métodos de dominá-los.

Bom, mas chega a hora de eu falar aqui sobre o que fazer nesse momento, ou nessa travessia que poderão ser benéficas ou não.

Há muitos métodos para se enfrentar o que não sabemos, principalmente se nos permitimos a aceitar que não controlamos tudo. O controle é um bom boicote para nos impedir de fortalecer o EU que já existe em cada um.

Conhecer esse Ser que nos constitui é como uma musculação para enfrentar esse percurso do Encontro conosco. Ao mesmo tempo nos prepara, ao mesmo tempo nos coloca em condições para seguirmos adiante, querendo mais e mais, descobrindo nossas qualidades e defeitos, e desenvolvendo amorosamente a empatia para nos aceitarmos, do jeito que somos.

Na verdade aceitar esse jeito, essa nossa constituição do milagre de estarmos vivos, implica em não julgarmos a nós mesmos. Sair do certo e errado, dar espaço para que a nossa arrogância de que temos que estar sempre certos, sem pensamentos nem sentimentos pecaminosos, irrepreensíveis, bloqueia muito esse espaço amoroso e receptivo que gostaríamos de ter dos outros. Fazer isso conosco dá a importante ferramenta para continuarmos esse caminho do autoconhecimento.

Aí vem e desenvolvimento desse processo em busca da verdade que somos. Vocês já viram que serão muitos passos até que tenhamos respostas como essa: “Janela da Pandemia”. 

Essa pandemia, com esse vírus e essa contaminação existe em cada um de nós. Já vivemos com os nossos piores e melhores atributos. Experimentamos vários medos e fomos atingidos de  tantas maneiras que nos criaram traumas esquecidos e inesquecíveis. Já criamos imunidade de uma maneira ou outra. Agora podemos revisitar tudo isso, com a consciência de precisamos avaliar se temos o material para enfrentar esse caminho.

Alguns farão mais facilmente a procura de situação que não puderam viver, prazeres que darão uma outra conotação para o que escondiam de si mesmos. 

Outros aceitam melhor buscar essa interiorização com procedimentos na linha da meditação, buscando serem mais calmos, mais serenos e inclusivos.

Alguns que estão mais prontos para embates de reconhecerem as invasões que têm das suas imaturidades, intolerâncias, os “pecados” que cometem que justificam pela justificativas que os sustentam, poderão desenvolver os recursos das profundas transformações para irem em direção a sua essência verdadeira. 

Tudo vale, sendo medidas para usar esses outros conhecimentos de si mesmos para deixarem de encontrar somente as respostas visíveis e nem sempre interpretáveis do “O quê está ou estará acontecendo nessa janela?”                

Eu, pelo menos, estou fascinado e agradecido por essa oportunidade de participar e experimentar, nesses meus setenta anos, algo que nunca imaginei que iria conhecer de mim… 

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