O novo pai

Entrevista concedida à Época / Revista Crescer – Crescer – 06/2011

Crescer: Por que os pais começam a ter maior interesse do que antes em acompanhar consultas, exames, compras de enxoval etc.?

Luiz Cuschnir: Hoje estão mais interessados em acompanhar a família como um todo, assim como ao que ocorre dentro de casa. Com o passar da décadas, nos tempos por feminismo, o que os homens mais responderam às necessidades de mudança de paradigmas, foi no papel de pai. A cultura mudou e a Sociedade tomou consciência da importância que um homem tem na educação do seu filho. Ao mesmo tempo, os homens passaram a respeitar mais e entender as necessidades emocionais da mulher, o que coincide com este momento da gravidez.

Crescer: Ao longo da gestação, é comum as preocupações do futuro pai mudarem conforme as semanas – e isso demonstra uma evolução da identidade de pai, como se as fichas forem caindo aos poucos?

Luiz Cuschnir: Não é tão comum e nem tão visível assim. Tudo depende de como está o vínculo afetivo com a mulher assim como com tema de pai que ele tem acesso. Se o homem dá importância, seja porque foi educado para isso ou se tem dificuldades nessa área, pode haver um estímulo psicológico para ele passar a desenvolver esse acesso à sua identidade de pai.

Crescer: Há uma sequência mais comum: por exemplo, a insegurança em relação aos provimentos (o salário vai dar?) precede a insegurança em relação à mulher (vou perdê-la para um rival mais forte do que eu, meu filho), e em seguida vem a sensação de alegria, mais tarde o medo de não ter mais tempo para dormir direito ou momentos de intimidade com a futura mãe?

Luiz Cuschnir: A insegurança do seu papel de provedor parece-me que persiste se não houver uma situação clara de estabilidade financeira. Às vezes até aumenta conforme o nascimento se aproxima. A alegria vem junto com a confirmação de sua fertilidade e a importância existencial que se percebe tendo sendo um futuro pai. A rivalidade só se configura depois, quando do nascimento pois durante a gravidez só tem a sensação mas quando nasce o filho, perde mesmo. E isso tudo ocorre nos pais de primeira viagem pois os que têm mais filhos até ficam mais preocupados com os que já existem e muitas vezes intensificam a relação com estes.

Crescer: Sociologicamente, costuma haver em comunidades pobres certo respeito maior às meninas que se tornam mães, uma vez que a partir desse momento elas são responsáveis por outra vida, tornam-se adultas, e passam a ser vistas não mais como a adolescente imatura e “inútil”, mas como uma mulher com responsabilidades. De alguma forma, isso também acontece com o homem? Ele passa a se sentir mais “adulto” ao se saber “grávido”? A gestação lhe ajuda a amadurecer/envelhecer?

Luiz Cuschnir: Há estudos estatísticos que mostram que os homens/pais tendem a ganhar mais do que os solteiros e os sem filhos. A consciência da gravidez reverte para a responsabilidade com certeza, mas há a necessidade de haver um terreno prévio para ela se instalar. Há homens que se recusam tomar contato e deixar hábitos que são incongruentes na vigência do papel masculino. Agora o amadurecimento não está diretamente ligado ao envelhecimento. Homens “com cabeça de velho” podem ser bem imaturos.

Crescer: Como o homem pode agir para se tornar partícipe desse processo gestacional, para fazer parte e ser um companheiro efetivo da parceira, e não se recolher à “insignificância” de quem, grosso modo, é tecnicamente irrelevante até a hora de começar a dar banho e trocar fraldas?

Luiz Cuschnir: Tanto o interesse pelos sinais e sintomas físicos que a mulher apresenta como a cumplicidade pelas transformações que a mulher passa, dá uma maior segurança a ela de ser aceita por ele mesmo assim. Está mais do que comprovado que esta irrelevância não existe. O contato físico da criança com um homem vai ser preponderante para o desenvolvimento da relação entre pai e filho mas a preparação dos dois como casal, só ocorre se o “projeto gravidez” se der conforme a gravidez evolui. Os assuntos, fantsias, expectativas vão se transformando e se ambos curtirem isso juntos, será uma viagem inesquescível para ambos.

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