Não basta ser pai?

Carla Hosoi – iG São Paulo – 21/11/2011

Frases de Roberto Justus colocam a participação paterna em discussão e mostram que, apesar dos avanços, o jargão está longe dessa realidade 

Não basta ser pai, tem que participar. O velho slogan parece atingir o auge do seu significado em pleno século 21. O exercício da paternidade tem sentido cada vez mais amplo: às vezes, o pai assume vários papéis na vida do filho, da gestação à maturidade. Em outras, continua apoiado sobre pensamentos tradicionais, tendo apenas uma função em relação aos filhos.

A recente declaração do publicitário Roberto Justus trouxe o tema da participação paterna de volta àtona. Em entrevista para a apresentadora Luciana Gimenez, ele disse: “Troco[fraldas] por experiência, mas não gosto. O pai não precisa se sacrificar em certas coisas. (…) Eu não posso amamentar, então por que tenho que acordar junto? E não sou menos pai por causa disso”. A declaração revela um quadro diversificado de pais, que têm participações diferentes nos cuidados diários de seus filhos, mas sempre com uma boa justificativa para os erros, acertos, falhas, presença, ausência.

Sintonia do casal 

A maneira como se estabelece a relação entre pai e filho depende de muitas variáveis. O psiquiatra Luiz Cuschnir, do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) da Faculdade de Medicina da USP, chefia um grupo de estudo sobre a evolução do homem contemporâneo em sessões de psicoterapias. Para ele, os pais vivem situações muito diferentes quando são mais jovens equando são mais velhos, sem falar da educação e paradigmas vigentes de cada época ou da diferença de idade dos casais.

Houve sim uma maior interação e envolvimento dos homens no papel de pai. Mas, segundo o psiquiatra, a ligação de um pai com seu filho também depende do graude maturidade que ele tem para estabelecer a importância da relação. “Nem sempre é pela ação física do amamentar que se estabelece a importância da presença, mas pelo contato constante que inicia a ligação emocional com este filho”, complementa.

Grávidos 

Para o psiquiatra Luiz Cuschnir, nem todos os pais atingem a consciência da sua importância. Por isso mesmo devem ser orientados e valorizados, principalmente pela mulher, já que esta é colocada em posição de mais valor pela crença em seus “instintos maternos”. “Com essa mudança de atitude, a sociedade absorve esses conceitos e passa a discuti-los mais. Hoje os homens debatem esse assunto entre eles, passam a criar um novo conhecimento e sentem-se reconhecidos por isso”, explica.

Não basta ser pai, tem que participar. O velho slogan parece atingir o auge do seu significado em pleno século 21. O exercício da paternidade tem sentido cada vez mais amplo: às vezes, o pai assume vários papéis na vida do filho, da gestação à maturidade. Em outras, continua apoiado sobre pensamentos tradicionais, tendo apenas uma função em relação aos filhos.

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