Medo de ser pai

Concedida à Revista Crescer – 03/2011

Crescer: O primeiro medo que nosso pai entrevistado disse sentir foi o de se iria ter dinheiro para cuidar do filho. É bem diferente do que costumamos ouvir das mulheres que pensam se serão boas mães. Por que isso? Essa coisa de ser o provedor está mesmo tão intrínseca ainda na nossa sociedade? Ou é algo como instinto masculino?

Luiz Cuschnir: Não mudou muito este referencial de que ele deverá cumprir com segurança a parte financeira. Isto falando em termos de prioridade para ele, o que não aparece prioritariamente para a mãe. Ela se preocupa com o econômico, mas vem mais a tona o contato afetivo, educação e formação mais ampla do filho. O homem tende a se r mais prático e mesmo que não tenha a segurança emocional para ser pai, ele terá a sensação de ser mais “suficiente”, se ele puder pagar as contas.

Crescer: Ele falou também de um medo na hora do parto. Há uma coisa de o homem ficar com muita aflição de ver o parto normal, por ele demorar muito, pela força que a mulher faz, a dor que ela sente… O que dá essa aflição? Seria a impotência? Também há o medo do bebê estar bem, que fez com que aquele momento entre o bebê nascer e o primeiro choro parecer eterno. O que dá esse medo? Como o pai poderia controlar essa insegurança?

Luiz Cuschnir: Ele pensa que a dor do parto é algo impossível de ser tolerado. Homem já não tem a facilidade em lidar com a dor quando ela é excessiva e ainda quando há uma possibilidade de visualização de uma distensão vaginal, quando da expulsão fetal, mesmo do aumento da barriga, já cria certa ojeriza nele. O quadro dramático que se avizinha; a dor explícita; o sofrimento da mulher, em geral, deflagram muita ansiedade no homem. Quem sabe a impotência que ele sente em ajudá-la é secundária. O primário é ele imaginar a dor.

Crescer: O pai – e nesse caso acho que deve ser igual nas mulheres- disse sentir medo do que faz sempre, de estar criando direito. Mas a mulher costuma sentir culpa se algo não sai como ela imaginava. Como é essa questão da culpa para o homem? Nós (mulheres) devemos aprender com eles sobre isso?

Luiz Cuschnir: Ambos se preocupam se fazem direito, mas os homens tendem a acomodar mais as coisas, com uma visão mais prática. Se as funções, resultados obtidos são objetivamente obtidos, já não vai importar tanto naquele momento a seqüência ou os planos futuros. As respostas imediatas já acalmam e dão chance para eles encetarem novos planos que irão cobrar depois. Os homens precisam de planos mais objetivos e não trazem a tona tantas variáveis como as mulheres.

Crescer: Há o medo do filho não gostar da gente. Como é isso? O homem diz que acha que a mulher não corre esse risco, pois o bebê sai de dentro dela, mas que ele tem de se esforçar. É assim mesmo? Ou tanto faz, mãe ou pai, pode ser que o filho não goste de um ou de outro?

Luiz Cuschnir: Na verdade, muitas vezes a mãe monopoliza tanto a criança, criando como se fosse só dela e acaba passando uma idéia de que o filho ou filha tem que ter medo do pai. É o famoso “espere só quando seu pai chegar em casa”. A mãe deve estimular o contato da criança com o pai, servindo de ponte nessa relação, mesmo porque a criança necessita dos modelos masculino e feminino para crescer completa. A criança que só se reporta para a mãe, e é ensinada a somente fazer isso, fica sem a energia masculina e sem o ponto de referência do homem. E como a mulher pode estimular o pai a dividir as tarefas de criação do filho (a)? Incentivando, apoiando, afirmando-o como homem educador e não criticar e apontar erros a todo o momento. Ela tem que aceitar que ela não sabe MAIS que ele, mas sim que ela vê a vida de outro jeito, se for o caso.

Crescer: O homem sente medo do distanciamento da mulher, da mudança no casamento. O que ele pode fazer para administrar e melhorar isso?

Luiz Cuschnir: Com o advento de um filho ou filha, a relação passa a ser a três, mas existem na verdade três relações distintas: pai/filho, mãe/filho e mãe/pai. É muito importante que a homem/mulher seja preservada. O filho não pode representar a quebra do vínculo de homem/mulher, senão ele será, inadvertidamente, o responsável pelos conflitos que possam surgir entre os adultos, com esse novo ser entre eles. Assim, é importante que haja essa já citada troca na educação da criança e que tanto o pai, como a mãe, tenham seus momentos a só com o filho ou filha e o momento a sós entre si. É importante as mulheres notarem que os homens mudaram bastante nas últimas décadas, que muitos querem e estão preparados para serem pais e que necessitam exercer essa paternidade, sem abandonar o papel de companheiro. Mas ainda há os que não desejam este contato desta forma, que não se ligarão ao filho nos primeiros anos de vida, e que não há regras estritas para serem implantadas.

Crescer: Uma última coisa citada é: o moço é pai de uma menina. Aí ele diz já sentir apreensão quanto a quem vai sair com ela, quem vai namora-lá. Podemos falar um pouco desse aspecto da relação pai-filha?

Luiz Cuschnir: Obviamente que existem dificuldades de intimidade entre o pai e filha, e muitas vezes isso é causado pela mãe que não confia que ele pode cuidar bem da situação. Sombras de relacionamentos ou mitos que a mulher carrega e imagina que todo homem é um potencial estuprador, corroboram para que a mãe tenha medo de deixar a filha com ele. A coisa mais importante é que desde criança o pai deve brincar com sua filha, passear com ela e conversar muito com a menina. Na pré-adolescência, é mais natural que elas vão buscar mais informações com a mãe do que com eles, ele deve pegar leve e respeitar os limites da relação deles, construídos nos anos passados. Se esse pai tiver criado uma intimidade forte o bastante para que ela o consulte (e se, como apontado antes, a mãe deixar e não proibir), ele pode ter conversas esclarecedoras e abertas. Se essa intimidade não existir, a pior coisa que ele pode fazer é invadir o espaço da filha, especialmente com uma postura castradora, pois aí vai criar uma resistência enorme por parte dela. Já as questões dele quanto ao universo feminino e suas experiências anteriores com as mulheres podem estimular uma série de fantasias de ocorrer o que ele próprio passou. Não é incomum homens que foram pouco respeitosos com suas namoradas, terem medo que outro o sejam com suas filhas.

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