Felizes quase sempre

Isabella D’ercole e Maria Laura Neves – Claudia – 06/2012

Quatro casais contam por que assumir a frustração e encarar as adversidades é importante para a felicidade – e a longevidade – dos relacionamentos

Cinderela não sabe que é princesa. É uma faxineira americana que tem um caso com o príncipe, engravida dele e vira mãe solteira. Chapeuzinho Vermelho é uma jovem periguete. Branca de Neve ganha a vida como professora de uma escola primaria e é acusada de homicídio. A madrasta dela, a Rainha Má, é a prefeita da cidade e é a única que sabe a verdadeira origem dos habitantes – saídos dos contos defadas. Esse é o enredo da nova série Once Upon a Time (Era uma vez), no canal Sony, que estreou por aqui em abril. A idéia por trás do programa de televisão é atualizar as tramas que encantaram gerações. O primeiro passo dado pelos roteiristas para transformar essas fábulas foi criar conflitos e desfazer o mito de que os príncipes e princesas serão felizes – principalmente, felizes para sempre.

A ficção já caiu na real, mas muitos casais de verdade deste século 21 ainda não absorveram que a felicidade absoluta dentro de uma relação não existe. O que existe é o amor, motivo pelo qual escolhemos permanecer com nosso parceiro, apesar das dificuldades que surgem ao longo da vida a dois. É por causa desse sentimento que deixamos o individualismo de lado, conjugamos os verbos na primeira pessoa do plural e planejamos um futuro que contemple os sonhos das duas partes do casal – tudo em nome da longevidade da relação.

A diferença é que a duração de um relacionamento hoje é muito maior do que na época em que “felizes para sempre” virou, além de mote dos contos defadas, um ideal perseguido pelos indivíduos. A expectativa de vida na Europa, no século 19 girava em torno de 40 anos. Hoje um brasileiro vive, em média, 74 anos. Entrevistados quatro casais de diferentes idades e estilos de vida que se dizem felizes e contam o que fazem para superar as crises e como a relação pode sair fortalecida delas. Essas bonitas – e realistas histórias de amor – comprovam que, quanto mais duradoura é uma relação maior a probabilidade de o casal passar por momentos de desencontro no decorrer da união. E vão além. Mostram como esses desencontros são também o motor que, muitas vezes, leva o casamento para frente. Nem sempre uma parte deseja a outra da mesma forma, com a mesma intensidade e ao mesmo tempo. “Não existe equilíbrio total em um relacionamento. A assimetria é importante para que um estimule o outro nos momentos de fraqueza” diz Luiz Cuschnir, psiquiatra e psicoterapeuta, de São Paulo.

Ele também afirma que a tolerância e a flexibilidade são fundamentais para que o vínculo entre os parceiros se mantenha forte e saudável. Na vida a dois, às vezes temos de rever conceitos, objetivos, planos e valores incompatíveis com os do companheiro para permanecermos durante um longo período ao lado dele. As negociações vão desde o bairro onde o casal pretende morar, como ocorreu com os recém-casados Suelen e Rodrigo, ao destino das férias, como contam as namoradas Eliana e Paula. Passam também por escolhas mais sérias, como ter filhos ou não, dilema de Neyde e Otto, que comemoram bodas de ouro em março deste ano, e superar uma crise profissional, como Beatriz e Fernando (leia a seguir a história dos quatros casais).

Por isso, pensar na felicidade “só por hoje” parecer ser a aposta mais confiável para ter um relacionamento forte – e duradouro.

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