Dependentes de Viagra

Isto É Gente – março 2003.

Após a euforia com medicamentos contra impotência, hoje muitos homens de várias idades até adiam o ato sexual se não dispõem dos comprimidos na hora “h”.

É fácil ouvir histórias bem-humoradas de homens que têm nos famosos comprimidos do Viagra um divisor de águas da vida sexual. Sem dúvida, o remédio e seus atuais concorrentes (Cialis e Levitra) são donos de mérito indiscutível como arsenal para homens com problemas de ereção sexual. Mas vem aí o lado negro da história. é alta a incidência de homens inseguros e dependentes dessas pílulas. E justo elas, que forneceram segurança a eles, agora os torna totalmente “vendidos” a seus efeitos miraculosos.

Tenho recebido, na experiência de consultório, depoimentos de homens até mais hesitantes de suas performances sexuais do que antes do advento do Viagra. Não são poucos os que relatam situações como “não tentei nada naquela noite, pois estava sem a pílula”. Disfarçam, mascaram até com a desculpa da falta do preservativo, mas no fundo não se sentem encorajados o suficiente para tentar uma relação sexual quando estão sem o medicamento. Isso vale para muitos jovens: em busca de supostas experiências transgressoras como a de garantir sexo a noite toda e fazer uso do recurso para isso, podem se ver aprisionados a uma dependência, tornando-se mais inseguros na seara sexual. Sem falar dos riscos aos cardíacos, diabéticos, etc.

Alguns homens em processo terapêutico ainda conseguem perceber o que está acontecendo. Relatam que após tomar pela primeira vez a droga, acabam mais inseguros no sexo. Alguns começam a achar que nem assim terão uma boa relação sexual. “O problema é a libido na minha cabeça e para isso o remédio não adianta”, enxergam vários.

Inúmeras gerações de remédios já vieram salvar gloriosamente o sexo masculino, na tentativa de dar segurança e maior praticidade na hora do ato sexual. Na maioria das vezes os métodos químico-medicamentosos são eficientes. Certamente drogas como o Viagra, o Cialis e o Levitra devolveram a muitos homens – vários deles com mais de 55 anos – a felicidade de poder levar uma vida sexual ativa e intensa, por vezes abandonada. Felizmente já não são mais as pomadas orientais duvidosas nem somente os aflitivos injetáveis localizados. Em uma relação já desgastada sexualmente, mas não afetivamente, o uso do remédio é indicado, pois evita que o casamento vire uma guerra. Para quem acha que a boa relação é uma boa ereção com uma mulher mais jovem, usando o medicamento, terá mais certeza da sensação de ser 30 anos mais jovem.

Não se deve esquecer, contudo, que a chave do segredo dessas angústias sexuais continua a ser a transformação da vida masculina pós-feminismo. Os homens sempre precisaram manter um exemplar desempenho sexual, em todos os sentidos. Mas a pressão era bem diferente. Precisavam de quantidade e não estavam nem aí se seriam avaliados por elas. Decerto era mais importante a autovalorização junto aos colegas de farra do que propriamente com as parceiras.

Mas agora tudo mudou. Elas os avaliam, cobram e se sentem rejeitadas se eles não comparecem. Estão também atentas não só à quantidade mas os classificam. São os novos tempos de vida sexual. Não foram poucos os relacionamentos que passaram por crises, que transitavam pela baixa auto-estima dela ou dele. A relação homem e mulher, com seus encontros e diferenças, está cheia de máscaras criadas conforme a tecnologia bioquímica se esmera em promover mais amálgamas para novos disfarces. Para tanto, vale apostar no fortalecimento da identidade pessoal.

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