Geralmente, mulheres passam horas conversando ao telefone, gostam de dividir alegrias e aflições, trocam elogios e declaram constantemente a importância de uma para outra. Já os homens, normalmente, não são adeptos de longas conversas, encontram amigos na mesa de bar ou em um campo de futebol para falar sobre amenidades. Mas isso não indica, de maneira alguma, que a amizade masculina é menos importante ou verdadeira do que a estabelecida entre as mulheres.
Para o psiquiatra Luiz Cuschnir, idealizador do IDEN (Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher) e autor do livro “Por Dentro da Cabeça dos Homens” (Editora Planeta), é exatamente o contrário.
“Existe mais cumplicidade entre homens do que entre mulheres. O homem entende, por exemplo, que não deve revelar tudo sobre seus amigos à companheira, por mais que haja intimidade entre o casal”.
Um homem se torna amigo do outro quando tem a sensação de que é aceito por ele e, muitas vezes, ambos partilham de uma certa dificuldade de demonstrar o quanto se gostam.
“O homem vai xingar a mãe do amigo, numa brincadeira, em vez de dizer o quanto sente falta dele. Por mais que ele lembre do outro e queira estar junto, pode ficar totalmente paralisado ao encontrá-lo, sem ter certeza se está ou não incomodando”, explica Cuschnir, que também coordena o Gender Group®, um grupo de psicoterapia sobre gêneros para homens e para mulheres, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
“Os homens demonstram menos sentimentos e muitos deles têm medo de expressá-los”, afirma o psicólogo Reginaldo do Carmo Aguiar, especialista em terapia comportamental pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia). Amigos homens também fazem questão de partilhar atividades, mas falam menos do que as mulheres, especialmente sobre questões mais profundas.
“A amizade masculina é marcada por assuntos superficiais e o conteúdo das conversas é normalmente mergulhado em ironias, brincadeiras e piadas. Eles também falam muito sobre trabalho e são mais objetivos”, descreve Aguiar.
A hierarquia masculina
Nos grupos de amigos homens é comum que exista uma hierarquia, para facilitar que as habilidades de cada um se destaquem, contribuindo para que todos saiam ganhando. “Alguns podem ser mais bonitos, outros mais xavequeiros, outros com mais dinheiro ou mais cultos e intelectualmente mais bem dotados”, exemplifica Cuschnir.
Há, também, uma liderança, que pode se alternar de acordo com a situação. “A hierarquia de dominação aparece entre os meninos já na idade pré-escolar. Se alguém percebe que não tem habilidade para liderar o grupo, acaba se subordinando. Essas estruturas permitem alcançar o consenso de forma relativamente rápida”, declara Aguiar. Em grupos de amigos de longa data, todos já reconhecem o potencial individual e lidam com essas lideranças de forma mais natural.
As mulheres costumam desenvolvem a confiança quando a relação de amizade atinge um determinado grau de intimidade. Porém, no caso do homem, para enxergar no outro alguém com quem realmente possa contar, basta perceber que não será julgado, inclusive sobre sua sexualidade.
“Para reconhecer um amigo, o homem precisa aceitar que o outro também está querendo tê-lo por perto. Ele não vai se aproximar muito se não tiver essa certeza”, diz o psiquiatra.
Segundo os especialistas, o homem tem uma confiança mais simbólica, menos baseada em relacionamentos interpessoais. ”
Por isso mesmo, os homens, geralmente, contam com um número maior de amizades, ainda que tenham baixíssimo grau de intimidade com alguns amigos. Enquanto isso, as mulheres costumam valorizar a proximidade afetiva e cultivam um círculo de amizades menor.
Diante de uma decepção com um amigo, a reação masculina também é diferente. Embora a primeira atitude do homem, numa situação dessas, seja imprevisível, uma coisa é certa: a racionalidade dele o ajuda a sofrer muito menos do que sofrem as mulheres, mesmo quando a amizade chega ao fim.