Marilena: O que leva o marido a se afastar da mulher e dos filhos para se dedicar tanto ao trabalho?
Luiz Cuschnir: Em geral é o peso da responsabilidade, do papel de provedor o exigindo e a necessidade de se confirmar no seu masculino.
Marilena: O que deve ser feito para chamar a atenção dele para o fato de estar viciado em trabalho e ajudá-lo a mudar o comportamento?
Luiz Cuschnir: Quando o chamar atenção não vira uma bronca ou uma pressão ao ponto de indicar uma ameaça, é uma maneira de colocar o assunto para iniciar uma reflexão e não uma crítica.
Marilena: Quando podemos considerar que o marido é um workaholic?
Luiz Cuschnir: No caso, “marido” workaholic implica em não conseguir viver a vida familiar ou conjugal condizentemente, ultrapassando o limite do aceitável para um determinado casal. O trabalho ultrapassa todo o sentido e motivação da relação conjugal, na forma, tempo e dedicação a esta.
Marilena: Claro que ele gosta de trabalhar, mas essa não seria uma maneira de fugir das emoções?
Luiz Cuschnir: Nem sempre a questão é só das emoções. Muitas vezes a frustração dos diálogos, a impossibilidade de obter satisfação no relacionamento com a esposa/família, as tentativas de obter respostas
adequadas dela, atendimento condizente ao que ele espera, ao invés da frustração e ele busca o trabalho, até para
não brigar ou insistir em algo que não vai satisfazê-lo.
Marilena: O que pode ser feito para a relação não ser afetada por esse comportamento dele?
Luiz Cuschnir: A vida mais independente dela, os atrativos que ela pode propiciar a ele à relação, o real interesse dela na vida dele, a cumplicidade dela são alguns caminhos de fortalecer o vínculo afetivo dos dois. Aí então há uma chance dele voltar a ter e privilegiar a companhia dela mais do que ao trabalho.
Marilena: Quais as conseqüências ou os problemas (de saúde ou psíquico) que o homem pode ter por ser workaholic?
Luiz Cuschnir: Passa a não conseguir obter satisfação com outras atividades, muitas vezes mais saudáveis. Os momentos de lazer e descanso como atividades físicas, sono e ampliação de interesses como sociais e culturais, vão sofrendo interferências. Pode comprometer inclusive o próprio rendimento no trabalho, seja por falta de concentração
e desenvolvimento de habilidades até específicas para a função que exerce. As interferências na qualidade
de sono e alimentação são visíveis. Muitas patologias gastroenterológicas, endocrinológicas, cardiocirculatórias, osteomusculares, enfim clínicas em geral podem e costumam aparecer com grande freqüência. Não
é difícil aparecerem até doenças autoimunes, provocando danos já irreparáveis mesmo com tratamento adequado, deixando seqüelas resistentes a tratamento.
Marilena: Mais uma questão para ser respondida: O homem ainda não está sabendo lidar bem com seu novo papel que não é só o de mantenedor e patrocinador do bem-estar familiar. Será que ele tem algum receio de participar deste espaço da casa e da família?
Luiz Cuschnir: Este novo papel de pai é mais completo, exigindo do homem atitudes mais afetivas e emocionais, e isso pode assustá-lo. Porém casos de homens workaholics são relatados desde antes desta nova reestruturação familiar, o que nos leva a pensar que estão muito mais relacionados com a dinâmica da família do que simplesmente com medo de assumir este espaço que lhe foi aberto.