Entrevista concedida à Revista Nova
Nova: As mulheres estão reclamando que os homens andam passivos demais, que não tomam iniciativa, por exemplo, para organizar uma viagem. Por que isso está acontecendo? Faz sentido essa reclamação? Do que exatamente elas estão sentindo falta?
Luiz Cuschnir: Mulheres casadas muitas vezes, se não na maioria delas faziam este papel de organizadoras do lazer e vida social do casal. É claro que agora, mais ainda ocupadas com a vida profissional, elas têm que ter este papel no relacionamento, senão correm o risco de se afastarem mais ainda do divertimento, assim como das viagens. Já os relacionamentos menos oficialmente compromissados, como namoros e afins, passam agora pelo mesmo ritmo. Com algumas agravantes como a sobrecarga de trabalho de ambos, dificuldades financeiras, que muitas vezes preocupam os homens que não têm disponibilidade, ou até vontade de arcarem economicamente com uma viagem etc. Elas sentem que eles podem não estar interessadas em ficar mais tempo com elas.
Nova: Algumas dizem que têm energia de sobra, mas sentem que eles não têm pique. Há mesmo um descompasso?
Luiz Cuschnir: Nem sempre a energia delas, de sobra ou em demasia, os atrai. Pode parecer a eles autoritarismo, cobrança ou até ser discrepante do que eles estão a fim de fazer, com outros interesses, outra linguagem de viver a vida, de se divertir. Acredito que há em certas situações um descompasso. às vezes pode ser devido a necessidades diferentes de cada um e um desenvolvimento do potencial e liberdade que a mulher tem hoje que decidir o que vão fazer.
Nova: Elas se queixam da dificuldade de achar um homem companheiro, com quem possam compartilhar de problemas de trabalho a momentos a dois. Parece que, se elas não organizarem um jantar romântico, eles nunca vão ter a idéia de fazê-lo. Estão subestimando a capacidade deles? Ou não?
Luiz Cuschnir: Podem estar sim, subestimando esta capacidade. Se eles não estiverem tragados pela carreira profissional (elas também podem estar, não vamos nos esquecer), acabam muitas vezes confundindo o momento romântico, amoroso, para colocarem em dia os problemas de trabalho, como você apontou. Em outros momentos, era comum o homem traze-los e a mulher ficar como ouvinte, dando ou não palpites, ajudando-o muitas vezes. Uma boa escuta pode exercer um papel de recepção e confirmação que eles precisam muito.
Nova: O homem se sente diminuído em relação às mulheres guerreiras, que batalham pelo que querem na vida pessoal e profissional? Eles ainda se assustam com a mulher independente que paga suas contas e se garante profissionalmente?
Luiz Cuschnir: Primeiro em relação à mulher que batalha excessivamente: homens se sentem dispensados, relegados a último plano, desprestigiados. As mulheres muitas vezes acham coisas nos homens como se eles tivessem dificuldades ou sentimentos que não correspondem ao que eles sentem como assustados e medo. Homens que não concordam ou não desejam no relacionamento, mulheres com esta maneira de funcionarem e podem ficar mais calados por elas não aceitarem suas críticas ou observações. Também guardam muitas observações ao perceberem que isto as agride. Esta independência delas, muitas vezes é vista por eles como desequilíbrio emocional, pois as vêem desconectadas da vida afetiva e social.
Nova: Continuando a questão anterior: o homem tem dificuldade de se relacionar seriamente com mulheres que não são o estereótipo da moça dependente, frágil? Por quê?
Luiz Cuschnir: Homens precisam sempre de confirmação, de serem escutados e valorizadas para aí terem reforçado seu papel masculino. Esta mulher mais ativa, muitas vezes não tem tempo, nem espaço emocional para isso. Ela está imersa em uma série de tarefas, de compromissos, de exigências, que muitas vezes as “entope” de solicitações. Por sua vez, os homens passam nessas situações a se fechar e reprimir o que teriam para compartilhar com elas de seu dia-a-dia. Não são só os homens que necessitam da mulher frágil/dependente. Muitas também se comportam assim pois é a maneira que internalizaram o conceito de sensibilidade feminina. Também sentem falte dele quando vão buscar esta referência.
Nova: As mulheres estão mais exigentes em relação aos homens?
Luiz Cuschnir: Com certeza estão. Elas não agüentam qualquer coisa. Homens muito pobres intelectualmente, mito dependentes delas, pouco ambiciosos, pouco preparados para a conquista profissional, são desinteressantes a elas Também estão com exigência de posturas sociais, expressão e comunicação, e é claro sucesso econômico. Até a aparência física e comportamento sexual, que era atributo exclusivo da procura masculina, tem correspondido a elas também.
Nova: Elas querem um homem que mande flores, mas se assustam se ele chora ao assistir um filme romântico ou fica deprimido. São contraditórias. Dá para querer tudo num pacote só?
Luiz Cuschnir: Pois é, esta é a contradição. Parece que ainda aspectos machistas permanecem muito mais arraigados a elas do que a eles. Elas não aceitam demonstrações que possam dar indícios que ele está conectado com alguma sensibilidade, que ataque diretamente a necessidade delas terem um proteção emocional, quando não econômica e social. Querem se sentir prioridade deles, que nada que possa abalar isto, receios que eles possam estar em contato com outros aspectos da vida emocional deles, que não sejam elas naquele momento (um pouco egoístas, quando não egocentradas), como receberem as flores deles, presentes etc tudo isso provoca insegurança na mulher. Alguns homens ainda fazem confusão ao serem sensíveis como as mulheres, ao invés de manterem o energia masculina como foco de referencia a sensibilidade masculina.
Nova: Eles dizem que se sentem atropelados. Você acha que elas estão indo muito rápido, com muita expectativa?
Luiz Cuschnir: Atropelados nem sempre tem a ver com velocidade. Pode ser também por descuido, por desprezo, por raiva etc. De qualquer forma, é muito interessante, e às vezes até reconfortante para eles, terem a contribuição delas em todos os sentidos, não só no econômico, mas também a possibilidade de trocarem mais eficientemente as informações, orientações, receios em relação a condutas profissionais. Acredito que a mulher está passando por uma crise de identidade importante pois também não está satisfeita com este jeito de se afastar de suas necessidades afetivas.
Nova: Teoricamente, o papel deles mudou de provedores para companheiros. Você acha que eles notaram isso -ou ainda estão perdidos frente às mulheres que se realizam sozinhas?
Luiz Cuschnir: Notaram. Querem acertar o passo. Trabalhar e batalhar juntos a vida, mas não estão conseguindo lidar isso com as mulheres. às vezes, quando se interessam em estar com elas, as vêem impossibilitadas em acompanhá-los ou até dividirem um tempo juntos. Em outras ficam com a dúvida se não são escada para elas resolverem outras situações que fica difícil para elas. Por sua vez, a realização feminina perpassa por um dúvida se eles são realmente importante para elas, e se perdem nesta ambivalência