Viciados em TV

Entrevista concedida à revista Criativa

Beatriz Portugal: Uma pesquisa do Ibope mostrou que o telespectador brasileiro é um dos maiores consumidores de TV do mundo, gastando cerca de cinco horas diárias em frente a TV. Nos Estados Unidos, uma pessoa é considerada “viciada em TV” se assiste a mais de duas horas por dia. Como o senhor interpreta isso?

Luiz Cuschnir: Acredito que este dado “viciado em TV” está equivocado. O parâmetro de vício, quando utilizado psiquiatricamente, inclui várias atitudes que indicam alta dependência, mesmo que no caso só psicológica. Absolutamente 2 horas por dia não indicariam isto. Mesmo 5 horas, dependendo do comportamento da pessoas e da família, onde a pessoa inclui outras tantas atividades em sua rotina diária, estar em um ambiente em casa, em família, com aspectos como a segurança, a superposição de outras atividades enquanto vêem TV, etc, indicam um estilo de vida e eventualmente condições econômicas que propiciam este consumo da TV.

Beatriz Portugal: Quais os riscos que o uso excessivo da televisão traz para a saúde emocional e mental da pessoa?

Luiz Cuschnir: A TV, dependendo do conteúdo pode propiciar hábitos indesejados, como a crença de valores distorcidos veiculados por ela. Indicam muitas vezes o estímulo precoce e excessivo da sexualidade (principalmente em personalidades em desenvolvimento), estimulam um consumismo de artigos desnecessários, provocam a restrição intelectual, minam as pessoas com a passividade de receberem prontas informações, sem exigir uma atividade intelectual, de raciocínio maior, estimulam crenças e mitos sem uma discussão isenta sobre estes, etc. Discuto muito estes temas em meu último livro “Os Bastidores do Amor – Sentimentos e Buscas que invadem os relacionamentos e como lidar com eles” (ED. Alegro).

Beatriz Portugal: O que o senhor considera um uso impróprio da televisão? Por exemplo, entrevistamos pessoas que cancelam saídas com amigos para ficar em casa assistindo a seus programas favoritos, gastam muito dinheiro para ter todos os canais a cabo, etc. Isso é excessivo? Pode-se dizer que essas pessoas sofrem algum distúrbio social (por exemplo, dificuldade de se relacionar e por isso se refugiam em outra realidade, etc?)

Luiz Cuschnir: Não necessariamente há um distúrbio social, mas não afasta a possibilidade de precisarem desta atividade para justificarem o porquê não saem, mas estão se escondendo do convívio social como nos casos de fobias sociais. Outros quadros mais graves como a esquisofrenia também podem chegar a utilizar esta atividade como uma maneira de não surgirem mais conflitos na área do pensamento, raciocínio e até do convívio mais amplo com outras pessoas. Outras buscam fantasias, sociais, de valores, sexuais etc nas histórias ou casos expostos ali.

Beatriz Portugal: Quais os impactos positivos e negativos da televisão na vida das pessoas e na das famílias?

Luiz Cuschnir: Positivamente pode trazer uma união e congrassamento familiar, se assistirem juntos. Pode trazer assuntos a serem discutidos em conjunto. Negativos podem deixar serem invadidos por temas que não cabem ali naquele contexto familiar.

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