Traição para o Homem

Entrevista concedida à Revista Claudia – agosto/2011

Maria Laura: Você concorda com a nossa tese?

Luiz Cuschnir: Parece que a tese é: mulheres traem mais do que antes, assume mais esta posição para eles e eles tem que lidar com algo novo, sem repertório nem modelos anteriores.
Vou discutir um pouco, tá?!
Concordo que elas estão mesmo mais livres para trair, do que antes, mas não mais que eles, OK?
Que eles não têm repertório, nem por não ter tido modelos nem preparo para essa contingência como por terem uma tendência a não encarar diretamente as dificuldades de um relacionamento e muito menos deixarem mais nítidas as possibilidades de serem traídos.
Encaram a traição de uma maneira direta, objetiva, vivenciando somente o que têm acesso, vêem mais claramente. Os aspectos da traição mais sutil, que ocorre com elas de uma maneira mais disfarçada ou escondida, não é encarada nem realizam que possa estar acontecendo.

Maria Laura: A reação masculina costuma ser diferente da feminina quando descobre uma traição?

Luiz Cuschnir: Os vejo mais paralisados, sem ações fortes como escândalos ou perseguições. Claro deixando de lado às reações machistas violentas, que fazem já parte de um histórico do relacionamento homem/mulher, mas acredito que não estamos falando disso nesse caso. São mais propícios a rompimentos definitivos do que as mulheres, que podem contemporizar e relevar. Muitas vezes até integrar no relacionamento como algo inerente ao masculino. Os que não rompem em geral mantêm um estado de contensão de emoções quando não uma vivência depressiva do ponto de vista do amor. Não conseguem vibrar intensamente nessa relação.

Maria Laura: Que efeitos essa descoberta costuma ter sobre a autoestima dos homens?

Luiz Cuschnir: Podemos entender como baixa autoestima, sensação de que são insuficientes, que foram comparado sexualmente e perderam. É nessa área que estarão mais afetados, não tanto na masculinidade. A mulher já se compara numa amplitude maior, do ser feminina, mulher. Não é pouco comum que se livrem de uma repressão, se não forem afeitos à relacionamentos extraconjugais e passem a se permitir então. Mesmo os que estavam livres para isso, encaram mal a situação de serem traídos. Em geral sabem que a traição feminina é mais séria, mais intensa do que as “puladas de cera” deles.

Maria Laura: Como eles costumam lidar com essa informação? Dividem com os amigos? Conversam sobre isso com alguém? Costumam perdoar e superar?

Luiz Cuschnir: Em geral não conversam com ninguém a não ser o terapeuta. Homem mantém distâncias grandes mesmo com amigos. Em casos onde estão em relacionamentos já deteriorados, que não se satisfazem mais com o que têm e estão dividindo com algum amigo, podem trazer essa situação, e que servirá para darem o próximo passo da separação que não conseguem ou não queriam fazer.
A traição deixa traumas na possibilidade dele continuar amando aquela companheira, mas também afeta todas as relações subseqüentes. Homens levam essa situação pela vida e a entrega para outra fica comprometida. Nas terapias assumem mais claramente que a desconfiança continua e sentem certa culpa por não terem percebido antes. É como tivessem sido responsáveis por terem deixado acontecer com eles mesmos. Não é uma culpa pelo que não ofereceram e seguraram na relação, mas por terem se deixado levar acreditando numa mulher que “não os merecia”.

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