Relacionamento com Mulheres que tem Filhos

Entrevista concedida à Revista VIP

VIP: Quais são os tipos de homens que se aproximam de mulher com criança pequena? Entre os entrevistados pude identificar, pelo menos, três tipos: o namorado após as 22h (quando as crianças estão na cama), o que se apaixona pela garota e os filhos é algo que ele tem de lidar e os que encarnam o paizão.

Luiz Cuschnir: Na maioria dos casos, o homem se apaixona pela mulher e não pela “mulher com criança pequena”, aliás, este pode ser até um fator de rejeição para vários homens. O fato de ela ter um filho não é algo determinante para a paixão, mas sim, um fator a mais com o qual ele terá que lidar no relacionamento. Isto dependerá de traços da personalidade de cada um. Não existe um esteriótipo do homem que se apaixona por mulheres com filhos. Encarnar o paizão, namorar quando a criança está dormindo, aprender a lidar com a criança… são soluções encontradas para se ter um bom relacionamento com a mulher amada, ferramentas que o homem pode usar para desenvolver seu relacionamento, e não modelos pré-determinados ou tipos de homens que têm mais tendência a se apaixonarem nestas situações específicas. Sem dúvida alguma, homens se incomodam muito com filhos dela, principalmente se são muito dependentes da mãe.

VIP: Se a criança é pequena, para o homem é mais fácil escapar do estereotipo do “padrasto”?

Luiz Cuschnir: “Padrasto” não é um esteriótipo e sim uma posição familiar ocupada pelo cônjuge da mulher que teve filhos com outro homem. Se a relação entre o homem e a mulher deste casal for uma relação estável e duradoura, independentemente da idade da criança, este homem será chamado de padrasto. O esteriótipo de ser uma pessoa má, que maltrata o enteado (a), é falsa, assim como a da madrasta, criadas por inúmeras historinhas infantis, que associam esta figura quase sempre com a imagem de uma bruxa. Os homens não têm muito com o que se preocuparem com este titulo. Homens tendem a dar mais segurança a mãe deles, o que vai refletir no ambiente familiar como um todo.

VIP: É a mulher quem decide a relação que o namorado vai ter com seu filho ou filha?

Luiz Cuschnir: A relação pode ser influenciada pela mulher. Se existir uma empatia natural entre os dois, é bem provável que esta relação seja boa e saudável, caso contrário, dependerá de esforços mútuos e soluções criativas para que a relação vá se transformando em algo agradável ou somente tolerável para os dois. A mulher em geral tem como função agregadora e tende a tentar conciliá-los. Algumas podem ser mais possessivas ou ciumentas, causando distúrbios de comunicação que influenciam as atitudes de um para com o outro.

VIP: Como driblar os ciúmes das crianças: o menino pode querer concorrer com o namorado, a menina pode se ligar mais ao pai genético?

Luiz Cuschnir: O primeiro passo para driblar este ciúmes (que é totalmente natural e compreensível) é o namorado não entrar em competições com a criança, deixando claro que não está ali para roubar seu espaço e nem a atenção de sua mãe. Se aproximar desta criança, dando-lhe afeto e carinho verdadeiros lhe transmite uma sensação de segurança que acaba também por extinguir este comportamento. O ciúme do menino foi geralmente cultivado pela mãe carente e insegura, não permitindo que ele se desprenda dela e prometendo-lhe, mesmo que não conscientemente, uma dedicação incondicional. O menino, às vezes por proteção ou culpa em relação ao pai genético, pode ter dificuldades em se ligar ao namorado da mãe.

VIP: O ideal para “os namorados paizão” é um dia substituir a figura do pai ou no mínimo ser o pai número 2. Isso funciona? é criar muita expectativa em cima da relação?

Luiz Cuschnir: O desenvolvimento da relação amorosa com a mãe, como com o filho, é que vai dar o caminho futuro. Se for uma figura masculina muito presente na dinâmica familiar e houver reciprocidade na troca afetiva, ele pode vir a ser muito importante para o filho e representar até mais que o pai para o filho.

VIP: Muitos falam que esses homens buscam o “pacote completo”, sem precisar passar pelas preocupações da gravidez e dos primeiros anos de criação da criança (trocar fraldas, choro no meio da noite). Há alguma verdade nisso?

Luiz Cuschnir: Filhos e relacionamentos exigem cuidados constantes, e o “pacote completo” inclui alegrias e tristezas. Só pais que passaram por este primeiro momento podem sentir-se aliviados de não necessitarem ter esta fase novamente. Mas não se pode imaginar que a escolha é tão racional assim a ponto de irem atrás de uma mulher que não passará por isso. Eles podem não querer assumir filhos plenamente ou começarem a criá-los, já que querem iniciar uma nova família com uma estrutura menos infantil sem tantos cuidados de puericultura.

VIP: Quais sao as dicas para o namorado para lidar com os filhos pequenos e pre-adolescentes? Mimar? Presentear? Conquistar como conquistou a mae?

Luiz Cuschnir: As crianças são muito sensitivas e sabem quando a pessoa está sendo sincera ou não. Seja você mesmo, chegue de coração aberto para conhecer os filhos da mulher por quem se apaixonou, não force nenhum contato ou gesto, seja espontâneo e confiante. Presentes são sempre bons, mas se não vierem acompanhados de interesse real por eles não significar nada. Pré-adolescentes são mais complicados, estão em um período de negação e desaprovação do que os pais fazem, saiba escutá-los e sempre aproveite a oportunidade de serem cúmplices, de escutarem “segredos” e nunca os traia, pode ser fatal para um bom relacionamento. Em discussões entre eles e a mãe, não tome partido. Você corre o risco de ouvir: “Quem você pensa que é para falar assim…. Você não manda em mim, não é meu pai!!!” e etc… Seja o mais discreto possível.

VIP: Que tipo de homem foge de uma garota quando ela conta que tem filhos de outra relação?

Luiz Cuschnir: Aquele que tem experiências negativas de se envolver com filhos da ex e depois ser banido da família e sofrer por isso. Também o que se vê com possibilidade de virar o provedor de plantão do momento. Pode ser o que gostaria de iniciar uma família do “zero”, aceitando até que ela já foi casada, mas que não traga o(s) filho(s) junto, que pode representar a presença mais constante do marido anterior e isso ser ameaçador. Também conhecer algum histórico deste filho mais problemático, como doenças, pode afastá-lo da mulher em questão.

VIP: Para uma garota pobre e jovem ter filhos pode levar a miseria, ser enxotada pelos pais ou cair na prostituição, mas, para a garota de classe média ou mais abastada, não eh tanto impedimento assim, afinal, ela pode contratar uma babá, seguir sua carreira e ter seus namorados. Nesse caso, a mae solteira poderia estar em pé de igualdade ou até em vantagem com relação as solteiras casadoiras?

Luiz Cuschnir: Depende muito de como esta mulher vê o seu filho. Muitas vezes um filho é motivo para um maior esforço, luta para dar a ele uma boa condição de vida, superação para atingir suas metas. Em outras ocasiões pode ser encarado como um peso, um castigo, um fardo que tem que carregar a duras penas. Independentemente de classes sociais, mães podem ter vantagens ou desvantagens, vai depender do grau de amadurecimento e comprometimento com a vida que cada uma vai estabelecer. Em todas as classes, ter um filho é trabalhoso e recompensador, que vai exigir uma atitude mais adulta perante a vida.

VIP: O que voce acha de personagens como o de Hugh Grant em “O Grande Garoto”, que se finge de pai solteiro para se aproximar de mães solteiras (ele garante que sao mais carentes, mais fáceis e mais bonitas que as solteiras sem crianças)? No final, ele demonstra total falta de traquejo para lidar com a criança e seu plano vai por água abaixo.

Luiz Cuschnir: Geralmente mulheres admiram homens que gostam e sabem lidar com crianças. é quase uma atração instintiva. A sensação de segurança é muito atrativa para a maioria das mulheres. Mães solteiras estão ainda mais carentes desta sensação, já que possuem uma grande preocupação a mais. Um homem que demonstre habilidades com crianças com certeza terá dado um passo a mais numa eventual conquista.

VIP: Como reagir ou lidar se o pai genético se faz mais presente quando descobre que sua ex esta namorando?

Luiz Cuschnir: Se ele se faz mais presente como pai desta criança, o melhor que se tem a fazer é deixar, já que ambos (o pai e a criança) podem se beneficiar desta relação. Lembre-se: o namorado ou padrasto nem sempre ocupa o papel do pai. Ele pode estar se sentindo inseguro de deixar o(s) filho(s) com um homem estranho, ter fantasias de abusos físicos e emocionais, ou até de perder o afeto da criança. Dê sinais claros de diferenciação de não ser pai e respeito a este papel. Seja correto e agradecido sempre pelo fato do api ser quem ele é. “Bandeira branca” sempre.

VIP: O namorado deve evitar falar mal do pai genético caso ele seja ausente ou deixe de contribuir monetariamente para o filho?

Luiz Cuschnir: Sim, caso contrário ele pode entrar em sérios conflitos com a criança ou gerar dentro dela uma grande confusão de papéis e sentimentos em relação ao seu verdadeiro. Não é assunto dele, deve deixar para a mãe resolver. Se os gastos o envolvem, deve esclarecer com a mãe somente.

VIP: A tendência é o pai genético se distanciar das crianças quando a mãe aparece com um namorado novo?

Luiz Cuschnir: Não, um pai que assume este papel e que tem segurança nos sentimentos de seu filho, não irá se incomodar com a vida particular de sua ex, ele se separou dela e não dos filhos. No entanto, muitos pais que não estavam preparados e que não assumiram realmente este papel, poderão encontrar neste fato um motivo para se distanciarem de seus filhos, deixando que o novo namorado da mãe assuma seu legado, aproveitando a brecha.

VIP: A criança pode se sentir muito rejeitada quando a mãe a despacha para a casa do pai ou da avó para poder namorar um pouco?

Luiz Cuschnir: Depende de como a coisa for feita. Pode ser necessário deixar claro que por mais que ela ame o seu filho, também sente a necessidade de ter uma vida particular. Como falo no último livro “Os bastidores do amor” (Ed. Allegro), o que for falado pode gerar muita culpa na criança, tornando-a refém desta mãe. Uma relação baseada no amor e na confiança mútua não necessita de muitas explicações verbais e racionais, a criança simplesmente sente-se segura que sua mãe a ama e irá voltar para ela. No entanto se tiver esta conotação de despacho, de peso a ser carregada, a criança pode criar problemas ao ficar na casa de alguém, pois se sentirá rejeitada e suas fantasias tenderão mais para o abandono e falta de amor, podendo gerar problemas graves no relacionamento e na auto-estima desta criança.

VIP: Como lidar com os amigos ou a família que pode vir com críticas do tipo: “voce fica criando o filho dos outros” ou “porque fez um você mesmo?”?

Luiz Cuschnir: A melhor resposta nestas situações é demonstrar a sua felicidade e satisfação de estar participando de um relacionamento como este. Se há um empenho verdadeiro e uma recompensa emocional de criar um filho mesmo de outros, só vai preencher e completar um sentido de vida. Se forem pessoas bem intencionadas, com uma relação sincera e estão dizendo isto, podem também estar alertando para algum abuso emocional que ele próprio não está percebendo.

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