Medo da Solidão

Entrevista concedida ao Diário da Região

Sobre pessoas (homens e mulheres) que têm medo de ficar sozinhas e por conta disso se mantêm em relacionamentos não saudáveis e às vezes até doentios.

Diário da Região: O senhor sabe ou conhece algum estudo sobre a questão?

Luiz Cuschnir: Não conheço nenhum estudo que pode atender a essa questão.

Para começarmos a responder as suas perguntas é necessário diferenciar o “estar sozinho” e o “se sentir sozinho” ou o sentimento de solidão. Isto porque uma pessoa pode estar com o namorado, com os amigos, com os familiares e se sentir sozinha, sendo que outra pode estar sem ninguém e se sentir completa, ou seja, é um estado psíquico que independe da companhia ao seu redor. Porém alcançar este estado de completude é algo que não ocorre com muita freqüência na maioria das pessoas.

Diário da Região: Isso sempre ocorreu na vida das pessoas ou o fato é recente? A modernidade fez com que isso aumentasse ou diminuísse, já que os relacionamentos não duram como antigamente?

Cientificamente falando pode existir uma dependência do outro? Já que pelo aspecto psicológico acredito que sim…Como as pessoas podem identificar quando o relacionamento está doente?

Luiz Cuschnir: A vida moderna, com sua intensa solicitação, aliada a hábitos de maior isolamento, mesmo dentro das famílias, e no convívio social, propiciam um distanciamento maior entre elas. Criam hábitos e dificultam a convivência.

Concomitante a isso, diminuindo a exposição ao contato direto, também desenvolvem menos a sociabilidade que pode acarretar dificuldades de relacionamentos.

Devemos lembrar também que o homem é um ser social, que depende da companhia e do olhar do outro, que se fortalece ao ser reconhecido e acolhido por um grupo ou por uma outra pessoa.

No entanto, o sentimento de solidão que causa tanto medo nas pessoas, é justamente aquele que as leva ao encontro de si mesmas, aos pensamentos e conflitos mais primordiais e profundos do ser humano, e que por isso o acompanha desde sempre. A solidão é a angústia que o impulsiona para as relações, para as invenções e até para a religião, numa busca de preencher o vazio interno inerente a quem não se reconhece como parte integrante de um todo.

Quando as pessoas se permitem estar só, se permitem também sentir os seus conflitos internos, pensarem em suas vidas, reconhecerem o mistério que é viver e aprenderem sobre si mesmas.

O medo terrível de ficar só é o medo de encarar a si mesmo e toda a complexidade que isto inclui. Fica mais fácil ter alguém por perto em quem se pode projetar seus conteúdos não quistos, não assumindo responsabilidade por eles, não entrando em contato com as camadas mais profundas de seu inconsciente, o que acaba deixando a pessoa estagnada em sua evolução.

Dependendo da qualidade destes conteúdos e da estrutura de ego da pessoa, esta irá desenvolver estas relações doentias como um mecanismo de auto defesa contra suas angústias. Não precisa ser necessariamente com uma pessoa, a televisão também pode fazer este papel de alienar o indivíduo de seus desejos, de seus impulsos e de entrar em contato direto consigo mesmo.

Quando em um casal não se deposita esta expectativa de preencher o vazio um do outro, mas sim de estar ao lado nestas horas difíceis dando suporte e apoio, mostrando para o outro que apenas ele é capaz de solucionar os próprios conflitos e acreditando que ele é realmente capaz disto, se estabelece uma relação de amor e confiança, e não uma união calcada no medo de estar só. Relação esta que tem muito mais probabilidade de gerar paz e alegria de viver.

Este tipo de relação, assim como este sentimento de solidão sempre existiram, porém o modo como o mundo moderno está estruturado deflagra de maneira mais acintosa o vazio interior de cada um, deixando as pessoas também mais livres para se expressarem e agirem em relação a isto, o que dá a impressão que ocorre mais hoje em dia, o que não é verdade, pois estas relações sempre existiram.

Diário da Região: Existem doenças psiquiátricas, psicológicas e biológicas? Ou não?

Luiz Cuschnir: Doenças psiquiátricas podem afetar intensamente o convívio social. Desde os quadros psicóticos, aos conflitos intensos neuróticos. A depressão diminui a interação entre as pessoas. As fobias podem dificultar a participação em ambientes sociais. As dependências de drogas e álcool também atrapalham muito essa interação social, com muita inadequação e atitudes antisociais.

Share on: