Entrevista concedida para Revista Claudia – 11/08/2014
Revista Claudia – Muitas vezes, a felicidade está associada ao relacionamento amoroso. A busca excessiva por um parceiro afetivo pode atrapalhar a felicidade? Antes de qualquer coisa, para ser feliz num relacionamento, é preciso saber ser sozinho?
Luiz Cuschnir – Há uma noção de que estar sozinho é ser infeliz. Uma das origens desse pensamento é religiosa quando é colocada a importância do homem ter uma companheira associando a razão da vida que Deus criou. Com a evolução das relações criaram-se os conceitos de família implicando numa união que traria os descendentes e assim uma outra razão de ser. A maternidade gerando novos seres provindos da união entre o homem e mulher confirma o efeito milagroso do amor entre eles. Estes e outros tantos signos indicam como relacionamentos podem indicar o caminho da completude e por conseguinte da felicidade do ser humano. Por gerações a busca de companheiros ou companheiras era tratada com o sentido de perpetuar os títulos e patrimônios das famílias e clãs. O Poder estava envolvido nessas escolhas. Com a evolução da sociedade os relacionamentos foram se liberando mais dos interesses econômicos e permitiram que as pessoas se escolhessem a partir de sentimentos que nutriam. O amor veio para colorir os relacionamentos vindo junto, além das frustrações e desesperos, uma outra possibilidade para o sentido da vida. Quando esse sentido se resume em ter uma outra pessoa para continuar vivendo, estamos frente a infelicidade por não poder se colocar tudo que somos numa relação com uma outra pessoa.
Revista Claudia – Não há uma receita de como fazer um relacionamento dar certo, mas fala-se bastante em ações como o diálogo, a aceitação do outro como ele é. Há algumas atitudes diárias que podem ser importantes para que a relação seja uma relação feliz?
Luiz Cuschnir – Uma relação não é feliz e não se consegue transformá-la para ser o que não tem substrato para isso. As pessoas sim, podem estar se sentido felizes por estarem em um relacionamento que as leve a essas sensações. Ser é diferente de estar. A primeira implica em um estado de permanência que pode ser mantido principalmente se ambos estiverem envolvidos e respeitando que o outro é como é, independentemente se ser o que gostaria que fosse. Estar feliz no relacionamento demanda uma habilidade de manter algo que tem um dinamismo com possíveis transformações em momentos bons e prazerosos. O diálogo para uns pode ser o caminho mas para outros pode ser uma tortura. Nem sempre o que é falado vai ser entendido pelo outro assim como gestos que podem ser aceitos ou não como manifestações de amor e carinho. Cada casal precisa encontrar o seu jeito comum que acata o de cada um para construírem o caminho que os deixarão mais próximos dessa sensação.
Revista Claudia – Existe diferença entre casar e morar junto para a felicidade?
Luiz Cuschnir – Vejo que para uns casar é a constituição da felicidade que desejam e que pode ser muito frustrante se ficarem no morar junto. O casamento coroa uma percurso de vida que propicia a visão de uma futuro para construir uma família que o só morar junto não. Já para outros, morar junto pode significar tanto pela possibilidade de dividir a sua intimidade com outra pessoa que a necessidade de casar perde o sentido maior. Para estes é irrelevante para esse sentimento de felicidade.
Revista Claudia – Há pesquisas que mostram que casais sem filhos podem ser mais felizes. O senhor concorda? Para os que desejam ter filhos, há algo que precise mudar na relação para que ela continue feliz?
Luiz Cuschnir – Quando se fala que podem ser mais felizes não significa que serão. Há casais que não têm filhos por não poderem e que construíram uma relação que foi suficiente e teve um significado pleno. Outros que tiveram filhos e verificam que estavam mais felizes quando não os tinham.As variáveis são inúmeras. Quem não teve filhos não pode ter uma grau de comparação com a possibilidade se tivessem tido. Um casal com filhos só têm a experiência sem filhos em uma fase de vida anterior e como as pessoas mudam, amadurecem e passam por uma série de eventos traumáticos ou não, não conseguem afirmar com toda certeza como teria sido. De qualquer forma, filhos vem para uma relação com grande força de transformação. Sem eles as interferências são da vida que atinge os dois. Conforme forem as reações a elas, esse casal sem filhos pode tanto se dar muito bem como se dar muito mal.
Revista Claudia – Há casais que estão juntos há muito tempo que afirmam que o que importa é o companheirismo e o amor que sentem um pelo outro, mais queo sexo. Qual o peso do sexo para a felicidade de uma relação?
Luiz Cuschnir – Esses casais evoluíram para um patamar que conseguiram diferenciar o que sentem levando em conta o outro como um todo e não somente pelo prazer sexual que possa advir da relação entre os dois. Não estão sujeitos a pressão do que é ofertado e imposto que casamento é igual a sexo.
Para muitos casais, sexo é sinônimo de que ali há um casamento. Há uma grande confusão entre sexo e amor. Falarei bastante disso no meu próximo livro.