Conversando com Dr. Luiz Cuschnir – Glorinha Cohen
PERGUNTA Dr. Luiz. Tudo ia bem até que surgiu o desejo de me tornar mãe. Passei uns dois anos lutando contra a idéia, mas, no fim, resolvi que queria mesmo um bebê. Mas sei que, se não fosse mãe, teria uma vida bem diferente, mas igualmente gratificante. Ter um filho custa caro e dá trabalho. Se sem um filho a vida pode ser gratificante, então por que tê-lo? Eu gostaria de ouvi-lo sobre essas minhas dúvidas”.
RESPOSTA Só dá para ter a específica gratificação da maternidade em função da relação com um filho, no papel de mãe. A gratificação de não ter tido um filho vem em outro papel, que pode ser o profissional ou pessoal, pelo estilo de vida que tem, pelas oportunidades que se apresentarão no decorrer da vida. Dá para se saber do que já ocorreu mas não dá para ter a certeza se não aconteceu.
Em termos biológicos ter filhos coincide com a capacidade de gerar, de multiplicar, de produzir uma vida. Isso é fascinante quando se pensa que a reprodução é aleatória e podem ocorrer uma série de interferências durante o processo de fertilização e gestação. Em termos sociais implica em um legado, uma marca no universo, uma interferência criativa que provoca uma série de outras que resultam da existência de outro Ser na sociedade.
Uma mulher deveria optar por não ter filhos (seja ela casada ou não) sempre ativamente – não algo que ocorre como última escolha, “já que não deram certas as tentativas anteriores”. Então quando ela vai por este caminho estará priorizando outros projetos, que podem ser profissionais ou pessoais incluindo decisões de ordem física ou emocional. Sem dúvida há a cobrança da responsabilidade, por parte da sociedade, da mulher gerir filhos.
Mas qual a mudança que essa idéia sofreu ao longo do tempo?
Ter filhos acompanha certa responsabilidade sim, e depende de como ela é vista pela mãe, interfere mais ou menos na vida que ela está levando. A parte das características pessoais, o que era um mito sobre-humano, quase inatingível antigamente, hoje temos uma redução dessa cobrança: houve a integração do homem na importância da criação de filhos. Também o avanço dela no mercado de trabalho, permitiu que ela tivesse mais ajuda extra e horário mais flexível na dedicação ao próprio filho.
A sociedade pressiona a mulher de cumprir uma jornada de trabalho, ganhar dinheiro, atualizar-se profissionalmente em detrimento da dedicação exclusiva ao papel de mãe. Isso dá espaço inclusive para a mulher que não tem o dom ou desejo de dedicar-se inteiramente (antigamente ela não tinha este direito), deixar de lado ou não ter como prioridade os filhos, sem sentir-se tão culpada. Por sua vez os homens no máximo podem desejar que ela se envolva com os filhos e não os tomem como fardo ou tarefa. Há mulheres que deixam de lado a sua vida e projetos pessoais para dedicarem-se aos filhos e depois se ressentem e acusam o homem de ser o responsável por isso. Algumas até usam o homem para justificar que não seguiram carreiras quando o desejo era delas de não fazê-lo.
Agora, há uma pressão social que vem, não só dos homens, mas com maior intensidade das próprias mulheres. As mulheres não agüentam que uma outra não está sofrendo como elas, que não abdica dos seus sonhos pessoais para viver a maternidade. Isso mexe muito com elas, lhes dá a dúvida e as põe em risco de poderem ter feito uma opção errada ao se depararem com a liberdade da outra.
No caso das mulheres casadas o homem terá que aceitar a decisão dela de não ter filhos ou não poderá ficar casado com ela. é uma decisão de determina aos dois o rumo do casal e a não formação de uma nova família. No caso de serem casados não é uma decisão unilateral. Ela pode ter nas mãos essa decisão de optar não ter filhos, mas isso deverá ser muito bem discutido com o marido, pois ele será passivo se não tomá-la em conjunto.
No caso dela ser solteira é diferente. Ela trará para um futuro casamento uma realidade que indica fortemente o estilo de vida que o casal terá.
No seu caso de indecisão por ter filhos, a indecisão deverá sofrer a cobrança social que terá mais ou menos força sobre você dependendo da tua capacidade de se perceber e evoluir para uma decisão. Se você ainda está refletindo, pode usar a pressão para ter argumentos contra ou a favor e aí ajudar a decidir. Uma escolha errada implicará em uma adaptação a realidade que se apresentará.
Muitas coisas na vida não se tem certeza antes de realizar. No caso de filhos, o arrependimento vem pela impossibilidade de desistir se eles vierem. Se o arrependimento vem por não ter tido, você pode em algum outro momento ir atrás desta experiência. O que não há é um retorno se já o tiver – ele não volta mais para a barriga.