Rita Trevisan e Louise Vernier – UOL – 11/01/2013
Um erro frequente das mães que se separam é deixar que os filhos passem a dormir com elas
É comum que a separação do casal tenha um grande impacto na vida dos filhos. Porém, algumas atitudes dos adultos podem agravar ainda mais a situação de desconforto que as crianças e jovens naturalmente experimentam.
O problema é que essa inversão de papeis pode prejudicar o desenvolvimento da criança ou do adolescente, que se encarrega de tarefas que, muitas vezes, não condizem com a sua idade. A postura do garoto pode até ser vista com bons olhos pela família, mas despertará sentimentos bastante controversos, fazendo-o sofrer.
Isso porque, no imaginário do menino, ao mesmo tempo em que surge uma espécie de satisfação por “vencer” o pai e conquistar toda a atenção da mãe, é comum coexistirem sentimentos de culpa, já que o garoto se sente, até certo ponto, responsável pela separação.
Assim, mesmo quando o filho se oferece para desempenhar determinadas funções, seja para apoiar e agradar à família ou para negar a falta que o pai faz, é interessante que a mãe reflita, antes de delegar a responsabilidade. Se houver dúvidas sobre o que o filho tem condições ou não de assumir, vale consultar as pessoas que estão de fora, familiares ou amigos confiáveis. Eles auxiliarão nessa difícil missão, ajudando a estabelecer limites saudáveis.
O acompanhamento de um psicólogo facilita a vida e é uma boa pedida, especialmente quando o garoto começa a apresentar sinais de que está sofrendo por conta da falta da figura paterna. “Isolamento, irritabilidade extrema, queda no rendimento escolar e muita dependência da mãe são sinais de que algo está errado”, afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O profissional vai avaliar a necessidade de indicar algum tipo de tratamento para o filho, para a mãe ou para ambos.
Cada um no seu espaço
Outra questão importante é o cuidado com a reorganização dos espaços domésticos a partir da saída do pai. Nesse momento, é comum que algumas mães coloquem o filho para dormir junto com elas. A mudança é uma estratégia para suprir a própria carência afetiva e está ligada ao desejo de manter o filho amparado nessa fase tão difícil. Entretanto, segundo os especialistas, o melhor é evitar tanta proximidade.
“Os filhos devem ter seu próprio espaço e respeitar o dos pais”, de acordo com Ana. Caso contrário, fica muito fácil a mãe transmitir e projetar no filho seus temores e inseguranças. Além disso, a situação pode reforçar a fantasia do filho de que é culpado pela separação dos pais, gerando angústia e prejudicando o bem-estar dele. Por fim, a mãe também pode sair prejudicada, ao passo que o garoto, tornando-se possessivo e dependente, terá dificuldade em aceitar um possível padrasto.
Nova dinâmica
Manter o contato da criança com o pai, planejando visitas ou viagens, por exemplo, prezar pela participação dele nas tomadas de decisões importantes e garantir a presença de outras figuras masculinas –pessoas da família, amigos ou professores– na vida do garoto também é importante.
“É essencial oferecer ao menino a possibilidade de ter vivências com homens mais velhos, para que tenha modelos diferentes dos da mãe”, explica Cuschnir. Outro cuidado é nunca se queixar do “ex” para a criança, procurando preservar a imagem paterna tão valorizada pelo menino.