Entrevista concedida à Revista Lunna – agosto/2011
Daniela Venerando: Tem uma recém casada que fez o test drive antes. Morava num apartamento super pequeno e passaram no teste. Só de vez em quando se irritava com muita barulheira, mas deu tudo certo. Tem que aprender a ceder e compartilhar? Outra que passou a morar junto – na primeira semana queria jogá-lo pela janela, porque ele não colaborava nas tarefas. Ela deixou de fazer e ele passou a colaborar. No caso dela deu certo, como fazer com que ele colabore?
Tem uma solteira que está adiando o casamento, porque os dois querem fazer pós. Funciona porque os dois tem um objetivo de vida em comum? Tem uma solteira que já morou junto e foi pela paixão. Ele morava fora, ela não tinha amigos, trabalho etc e a relação foi por água abaixo. Hoje ele não prioriza só a paixão, vai analisar outras coisas que são importantes. A paixão cega, né? Além de estar apaixonado, o que deve ser observado? E tem que casou e separou em menos de 1 ano. Segundo ela, ele era pouco acomodado em relação ao trabalho. Ela achou que com incentivo, ele melhoraria depois do casamento. Ela disse que só piorou e e que ele ficou desleixado. Ela aprendeu que aqueles pequenos defeitos antes do casmento só pioram depois do papel. É verdade isso? Casar ou morar junto é um passo importante, né? Como saber se está na hora?
Luiz Cuschnir: Quando houver estabilidade entre os dois é melhor para não iniciar um teste, um experimento. Se cada um estiver também consciente que haverá a necessidade de uma dedicação ao outro e abdicar hábitos que possam não coincidir e atrapalhar a vida do outro.
Daniela Venerando: Como saber se o outro está na mesma sintonia?
Luiz Cuschnir: Diziam que para conhecer alguém precisa-se comer um saco de sal juntos. Leva tempo para saber quem é o outro. Primeiro porque se enxerga o outro pelas próprias lentes. Isso quer dizer que para se dizer que conhece o outro se precisa também conhecer a si próprio nesse relacionamento, como se está reagindo e o que está escondendo de si próprio. Depois disso, com bastante reflexão e às vezes com a ajuda de outras pessoas, pode-se avaliar o que têm em comum e o que não. A sintonia não é serem iguais mas serem compatíveis.
Daniela Venerando: É bom fazer um test drive antes de casar no papel? Eu sei que é muito pessoal, mas o sr. aconselha?
Luiz Cuschnir: Não necessariamente é com um test drive de morarem juntos, mas precisam ter uma frequência, o dia-a-dia, rotinas juntos e conviverem nos diversos ambientes e se relacionarem com as pessoas do mundo do outro já dá bastante informações.
Daniela Venerando: Se não for morar, quais são os test drive de intimidade? Viajar juntos, dormir na casa do outro de vez em quando?
Luiz Cuschnir: Como já disse passarem horas e dias juntos, mesmo que em situações esporádicas ou em tempo curto já pode ser muito bom. A intimidade revela situações tão importantes quanto a socialização em relacionamentos importantes para o outro. Dormir junto pode indicar como são nas situações íntimas como sexo, banheiro, trocando de roupas, organização das rotinas etc.
Daniela Venerando: Em pessoas de namoro longo, elas acreditam que já conhece a pessoa. Mas só no convívio realmente conhece? Por que isso?
Luiz Cuschnir: O convívio propicia encontros que num namoro dá um tempo para a recomposição do vínculo. Às vezes são bons para saírem juntos ou ficarem cada um na sua casa. Podem continuar assim e não precisarem morar juntos. Mas na hora de morar ou passar um tempo maior, incluindo a vida inteira do outro, seu hábitos diários, a maneira que são dentro de casa, nos diversos horários e dias da semana, podem perceber a compatibilidade melhor ou as grandes diferenças que impedem viverem sob o mesmo teto.
Daniela Venerando: A questão de mudar o outro- Outra disse que antes do casamento ele era desleixado, só que ela achou que ela incentivando isso poderia mudar e só piorou. Defeitos pequenos ficam maiores no casamento?
Luiz Cuschnir: Há um grande problema, até mais comum com as mulheres, que acham que vão modificar profundamente uma pessoa. Nas psicoterapias que acompanho pacientes que vão trazendo os fatos do namoro vou mostrando características que estão por detrás das brigas e divergências. Quanto mais consciente está a pessoa de que o outro é assim e não está interessado em mudar, mais tem indícios da profundidade do hábito. Se a cada situação que divergem, um aprende com o que o outro mostra e se vê mudanças na conduta, já se pode esperar mais disso. Com o desgaste do relacionamento, é claro que a tolerância diminui e vão crescendo as incongruências.
Daniela Venerando: Ela deve pensar: será que ele pretende continuar saindo para a balada sozinho e voltando tarde da noite? Quer adquirir bens em conjunto ou vai seguir a regra “O que é meu é meu, o que é seu é seu”? Tem intenção de ter filhos com você? Precisa falar sobre esses assuntos?
Luiz Cuschnir: Assuntos delicados sempre são duvidosos, pois podem magoar o outro se não forem bem colocados. Vamos por parte… Sair na balada, se continua ocorrendo durante o namoro pode indicar uma insatisfação no relacionamento que precisa ser revista, pois muitas vezes não vão suportar se morarem juntos. É melhor ver logo isso. As regras do jogo econômico é sempre motivo para se sentirem agredidos, mas se forem colocadas como temas gerais, no meio de conversas para sentir o que o outro pensa da vida, é muito bom. Hoje em dia cada vez mais os relacionamentos são com pessoas independentes ou que implicarão numa conjunção de diferentes realidades. Utilizar exemplos dos outros para depois entrar no assunto dos dois, é uma boa. Filhos são primordial como assunto. Isso precisa ser falado, pois um casal hoje se casa, muitas vezes para terem uma família, senão não precisariam casar.
Daniela Venerando: Para dar certo na convivência, é preciso aprender a compartilhar e a ceder?
Luiz Cuschnir: Pessoas egoístas, isoladas, muito apegadas às próprias coisas terão mais dificuldade. Morar junto com alguém implica em muitas concessões sem exceção, mas delimitar áreas reservadas para manter a intimidade individual pode proteger de desgastes futuros. A medida adequada é que não estejam longe para não abandonarem nem perto demais para não impedir os movimentos do outro.