A dor e a delícia de casais que moram juntos

Entrevista concedida à Revista NOVA – junho/2011

Isabela Leal: O que é preciso saber/ perguntar sobre o outro para ir morar sob o mesmo teto?

Luiz Cuschnir: Para morar junto há a necessidade de haver bem mais que só o carinho ou o amor pelo outro. Saber como são os hábitos diários (uso da casa em geral, como cozinha, banheiro, quarto) dão uma idéia de como vai se instalar a rotina. As noções de higiene e o respeito ao outro nesse ítem, dão muitas dicas de como será o convívio. Os dados econômicos que sustentarão esta casa precisam ficar claros. Tudo que está subentendido é sujeito a grandes confusões. Os horários de cada um também são importantes para que a rotina diária possa se estabelecer respeitando cada ritmo. Morar com alguém propicia a experiência de ter uma casa própria sem tantos cuidados dos pais ou de viver sempre sozinha e ir criando aversão a dividir espaço físico com outras pessoas.

Isabela Leal: Casar e morar junto tem diferença sob o ponto de vista comportamental? aquela coisa que quando não “é casado”, basta ter a primeira contrariedade que a pessoa dá no pé, já que não tem contrato… funciona assim mesmo? ou é mais mito?

Luiz Cuschnir: Não é mais assim, no primeiro bate boca, alguém vai embora. Pelo menos entre pessoas razoavelmente equilibradas. Há características pessoais que necessitam de uma ou outra configuração, sem casar ou casados, para que a relação se estabeleça de uma maneira que possam crescer no relacionamento.certas pessoas, ou mesmo em certos momentos de vida, podem precisar de um test drive para depois sentirem-se livres para a formação de uma família, o que implicaria mais em casamento. Morar junto dá a elas informações que as asseguram mas do que sómente namorar e ter idas e vindas de casa. Algumas se sentem extremamente vulneráveis ou até desvalorizadas sem o casamento e com ele, passam a participar do projeto de construção de um futuro juntos de uma maneira mais ativa..

Isabela Leal: Fatores de sucesso de “morar junto”?

Luiz Cuschnir: Sabem como o outro é e aceitam esses hábitos com tranqüilidade, mesmo que sejam muito diferentes dos que estão acostumados. Tem a delicadeza de perguntar se estão incomodando até que se estabeleça um modus vivendi. Respeitam as necessidades do outro de receber visitas e ajudam a recebê-las se for o caso. Conversam bastante sobre as despesas e as necessidades de dividi-las, sempre levando em conta se um ou os dois são os donos da casa para não haver invasão de uma das partes.

Isabela Leal: Fatores de fracasso de “morar junto”?

Luiz Cuschnir: Agüentam o jeito do outro e tem crises de ataques furiosos sem uma consideração e reformulação do que foi apresentado. Manutenção de atitudes que incomodam muito o outro. Avanço no espaço do outro até que se crie uma crise, principalmente quando se interrompe o diálogo e o silêncio vira o idioma falado em casa. Um só sustentar a casa sem uma compensação de dedicação bem maior do outro em atividades, pode criar uma insolvência. Receber visitas intragáveis ao outro. Hábitos que irritam, constrangem, invadem ou desvalorizam o outro.

Isabela Leal: Que tipo de leveza o morar junto traz que o casamento não traz?

Luiz Cuschnir: A sensação de namoro pode ajudar nessa leveza criando o clima de “duração” sem um compromisso oficial.

Isabela Leal: O casamento representa alguma vantagem em relação a morar junto, no dia a dia dos casais?

Luiz Cuschnir: Por si só propõe a constituição de uma família, que a rigor só existe se houverem mais do que dois, isto é, filhos. A estabilidade emocional, constância garantida, projetos cirados automaticamente em comum, reforçam automaticamente a relação afetiva. Quando se celebra uma data, com um ritual de passagem, faz-se um marco claro na vida dos dois, inclusive emocional que serve como lembrança de uma determinada fase da vida.

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