Jovem Pan – 12/08/2011
Nas últimas décadas tivemos muitas transformações desses paradigmas. Sem dúvida, eles ainda não são os protagonistas, mas se espera uma participação muito maior do que em décadas passadas
JP: Quais são as maiores angústias, medos e expectativas do homem que espera o primeiro filho? Esses sentimentos mudam quando a mulher espera o segundo filho?
Luiz Cuschnir: Sempre foi importante para o homem ter filhos, pois dá a noção de continuidade e muitas vezes de sentido de vida. Sentir-se capaz, fértil, reprodutor, conecta-se com a masculinidade e toda noção de identidade masculina.
O filho pode ter a visão masculina da vida, não é só educado pela mãe. O pai tende a mostrar um lado mais prático e mais amplo, dando um campo mais aberto de conquistas para esse filho. Sendo assim, as expectativas deles serão diferentes das delas. Isso povoa o seu imaginário e quando ele pensa no filho já inclui o projeto de vida afetiva e profissional dele. Muitos homens preenchem suas lacunas amorosas, sua insatisfação com o relacionamento com a esposa e vivências anteriores com a vinda de um filho. Ocorre de ser mais fácil a troca de afeto com filho do que com a mulher.
JP: Por que, mesmo tendo uma criação diferente, alguns pais quebram a barreira e se envolve bastante na relação com os filhos?
Luiz Cuschnir: Os homens ganham muito com essa relação. Podem oferecer e receber, trocam afeto, retomam momento anteriores de suas vidas como exemplo, têm a sensação clara de um sentido do que aprenderam podem passar, ensinar etc.
JP: Podemos dizer que esta participação é marca de uma nova geração? Qual geração e por quê?
Luiz Cuschnir: Desde o advento do femininismo, houveram profundas mudanças nas relações familiares. Com a mulher ocupando outro espaços sociais, os homens, com o Masculismo (tese de mestrado na Fac. Med. Da USP – Masculismo, um estudo através do Gender Group® – que apresentei em 1998) tiveram a oportunidade de desenvolver vários papéis, inclusive o de pai. Nas últimas décadas tivemos muita essa transformação.
JP: Quando perguntado para alguns pais tudo ainda parecia muito novo. O senhor sabe quando essa relação, pai e filho, começou a mudar?
Luiz Cuschnir: Quando a mulher saiu para o trabalho, dedicação à vida profissional e responsabilidades econômicas dentro de casa, os papéis foram mudando gradativamente, desde a década de 90. No começo ainda era esquisito ver pais em play grounds cuidando de filhos. Poucos iam à escola acompanhar a evolução escolar. Não freqüentavam a terapia dos filhos. Mais perto de 2000 isso foi ficando mais comum.
JP: Quais são os benefícios da presença do pai para o filho e para ele próprio?
Luiz Cuschnir: O filho pode ter a visão masculina da vida, não e´só educado pela mãe. O pai tende a mostrar um lado mais prático e mais amplo, dando um campo mais aberto de conqusitas para esse filho.
JP: Esse pai assumido é sensível e presente. Ao mesmo tempo ele consegue impor a autoridade?
Luiz Cuschnir: A autoridade pode ser colocada de várias maneiras, com posturas diversas. O pai pode simplesmente mandar e exigir, pode educar com exemplos, pode ser um modelo de atitude, pode demonstrar carinho e afeto ao se dedicar e orientar ou exigir. É necessário ter sempre em mente que quem é o adulto mais velho é o pai e a partir desse lugar que ele escolhe o seu estilo de ter o poder.
JP: A nova paternidade reforça a masculinidade e dá mais segurança ao homem?
Luiz Cuschnir: Sempre foi importante para o homem ter filhos, pois dá a noção de continuidade e muitas vezes de sentido de vida. Sentir-se capaz, fértil, reprodutor, conecta-se com a masculinidade e toda noção de identidade masculina. A segurança pode advir daí, mas também sabemos que muitas vezes perante os filhos, a insegurança pode aparecer quando não está claro o que se está oferecendo ao filho. O pai deve saber e acreditar que está oferecendo o melhor de si. Se o filho aproveita é outra coisa.
Hoje estão mais interessados em acompanhar a família como um todo, assim como ao que ocorre dentro de casa. Com o passar da décadas, nos tempos pór feminismo, o que os homens mais responderam às necessidades de mudança de paradigmas, foi no papel de pai. A cultura mudou e a Sociedade tomou consciência da importância que um homem tem na educação do seu filho. Ao mesmo tempo, os homens passaram a respeitar mais e entender as necessidades emocionais da mulher, o que coincide com este momento da gravidez.
A insegurança do seu papel de provedor parece-me que persiste se não houver uma situação clara de estabilidade financeira. Às vezes até aumenta conforme o nascimento se aproxima. A alegria vem junto com a confirmação de sua fertilidade e a importância existencial que se percebe tendo sendo um futuro pai. A rivalidade só se configura depois, quando do nascimento pois durante a gravidez só tem a sensação mas quando nasce o filho, perde mesmo. E isso tudo ocorre nos pais de primeira viagem pois os que têm mais filhos até ficam mais preocupados com os que já existem e muitas vezes intensificam a relação com estes.