Entrevista concedida ao IG
Paloma: Quais os motivos, geralmente, que levam as mulheres hoje em dia a não quererem ter filhos, na sua opinião?
Luiz Cuschnir: Quando elas não querem, mas nem sempre é assim, tem a ver com a etapa da sua profissionalização. é mais difícil que seja em função do seu relacionamento específico, como imaginar que o homem com quem está se relacionado, não teria condições mínimas para ser pai. Não é por aí que vem a restrição. é inerente a ela própria, ao seu momento. Algumas vezes por advir de traumas individuais (família própria, medos de experiências anteriores etc).
Paloma: E os homens? por que muitos não desejam ser pais, muitas vezes?
Luiz Cuschnir: Pode estar localizado em condições financeiras insuficientes. O que é mais comum é a insegurança de que não consiga oferecer o ideal, o que ele próprio se cobra para ser com um filho, para com uma família que possa precisar e depender dele. Mas depende muito de como a mulher, a companheira, vai lidar com esse assunto e ele. Se existe uma insegurança muito maior da parte do homem, deve-se estar atento à disfunções psíquicas, de caráter, psicológicas, que podem levar a essa dificuldade dele. Também deve-se levar em conta o pouco comprometimento/confiança no relacionamento
Paloma: Como um casal com essa diferença pode buscar o entendimento? deve haver um “acordo” entre as partes (por exemplo, daqui a ‘x’ anos podemos ficar “grávidos”, mas antes disso não)? devem buscar ajuda (uma terapia de casal, por exemplo)?
Luiz Cuschnir: Com certeza a ajuda profissional de um terapeuta especializado em fazer sessões vinculares (examinar e tratar o vínculo afetivo/amoroso), será o mais indicado. É melhor do que tentar lidar com um profissional não especializado na área psicológica. Nem todos os profissionais médicos ou não médicos estão preparados para essa intervenção. A delimitação do tempo deve ocorrer após terem lidado com as dúvidas, receios, mitos de cada um em relação a esse tema, que existe dentro de cada um.
Paloma: Como é a mulher que pode gerar o bebê (podendo, inclusive, engravidar “acidentalmente”), seria mais complicado os casos em que são os homens que anseiam pela paternidade?
Luiz Cuschnir: Se eles anseiam pela paternidade, vão ficar muito satisfeitos com esse “engravidar”.
Paloma: Antes do casamento, é importante conversar sobre o assunto? (por exemplo, isso pode ser uma “condição” para o casamento?)
Luiz Cuschnir: Esse como muitos outros temas devem ser esclarecidos, mesmo que depois não consiga cumprí-los tão ao pé da letra como foi estabelecido. Afinal, os dois terão uma experiência nova, vão se transformar a partir desse relacionamento, após o casamento, mas é importante o assunto ter sido ventilado. Isso já abre portas para irem construindo uma decisão futura, sem medos ou inferências do que imaginam que o outro quer ou pensa a respeito do assunto.
Paloma: Como o Sr. definiria o homem moderno? ele está mais “aberto” e voltado para o relacionamento amoroso? e a mulher moderna, que se divide em inúmeras funções – dona-de-casa, profissional, esposa, mãe?
Luiz Cuschnir: Com relação a esse tema, encontro uma facilidade maior do que antigamente do homem querer e muito mais aceitar ter um filho. é como se ele esperasse isso já que casou. se não casou, não necessariamente estar pronto e desejoso para ser pai.
Chega uma hora, um momento da vida dele, do ponto de vista afetivo, que ele estará aberto para isso, se as experiências anteriores propiciarem uma segurança emocional suficiente para ele tranformar-se de solteiro (filho, garoto, etc) para ser marido etc. A mulher hoje está sobrecarregada em termos de tempo e energia para esse espaço de ser mãe mas não deixa de ter isso como meta e necessidade interna. Ela luta muito com encontrar um espaço na sua vida para isso, entra em muitos conflitos, se atrapalha em decisões, podendo até o seu físico ser atingido levando a esterilidade, dificuldades maiores em engravidar, falta de libido etc. O físico denuncia seus conflitos mais intensamente do que às vezes, o seu racional, o que diz para os outros ou para si mesma: “Não sei bem se quero ser mãe. Agora”.