Emoções e Atitudes Masculinas

Entrevista concedida à Folha de São Paulo

Pergunta: Os homens têm mesmo mais medo do compromisso ou, ao contrário das mulheres, eles não encaram qualquer namorico como uma possibilidade de relacionamento sério?

Luiz Cuschnir:: Não necessariamente é medo que eles têm. Um namorico é mesmo o que representa, sendo que depende muito do radar que ele está utilizando. Ele pode só estar “se” testando. Mas pode também estar testando a mulher, utilizando o seu arsenal de sensores. Cada um tem uma série deles que podem percorrer o físico dela, só o rosto, a vida profissional, econômica, social etc.

Pergunta: Por quê os homens têm tanta dificuldades em dizer “eu te amo”?

Luiz Cuschnir: Muitos acreditam que esta declaração só deve/deveria ser pronunciada quando houvesse uma intensidade de sentimento envolvida naquele momento que justificaria fazê-la. Isso só aconteceria também em situações muito especiais, quase únicas. Eles também não acreditam que a companheira vai poder entender que é uma situação pontual, daquele momento, e não “quase eterna”.

Pergunta: É verdade que os homens conseguem ficar pouco tempo sozinhos (depois da separação ou da viuvez)? Por quê? Isso justifica as estatísticas de que são as mulheres, no Brasil, as grandes responsáveis pelos pedidos de divórcio?

Luiz Cuschnir: Homens precisam sim da companhia de uma mulher para se completarem.Também não é fácil ter uma vida social de convívio com diferentes grupos sem uma companheira. Há uma certa impulsividade que caracteriza estas situações. Ele acaba se envolvendo sem muita discriminação. Só se dão conta disso, depois de algum ou muito tempo.
As estatísticas dos pedidos delas do divórcio penso que se devem mais a insatisfação delas, assim com novas possibilidades de uma vida mais adequada para o que pensam ter adiante.

Pergunta: Na idade madura, um homem solteiro se acostuma a viver sozinho e por isso se mostra menos disposto a casar?

Luiz Cuschnir: Sim, mas muitas vezes, experiências anteriores traumáticas com outras mulheres, os impedem de tentar novamente, mesmo que tenham sido menos formais que um casamento. O se acostumar a viver sozinho cria um rítmo de vida pouco aceito por uma nova companheira.

Pergunta: A idade do lobo (de buscar mulheres mais jovens) existe de fato? E para a mulher? Ela ocorre por volta de qual idade?

Luiz Cuschnir: Não é incomum o homem guardar a diferença de idade delas, como o modelo ensinado na sua educação. “Homem tem que ser mais velho”. Depois isso vai sendo arraigado, e aumenta essa diferença pela necessidade dele se ver mais vivo, mais atraente e ainda poder conquistar mulheres, mesmo com uma idéia mais avançada que elas. Por outro lado, ele tem a necessidade de ter uma atração sexual por esta mulher, que nem sempre ocorre se ela for da idade dele.

Pergunta: Por quê, por mais flexível e “desencanada” que seja sua namorada ou mulher, o homem sempre a faz parecer uma megera (vide apelidos como “patroa” e “polícia”) nas conversas com os amigos? Alguns, diante de um convite para um chope ou uma happy hour, argumentam que precisam “ver primeiro” com a mulher – como se ela mandasse nele! Por quê isso acontece??

Luiz Cuschnir: Eles não acreditam que ela seja tão assim, solta, livre e libertadora. é como se elas fossem em alguma hora cobrar de volta o que elas ofereceram. Nem sempre com revanchismo,”vou procurar também”, mas às vezes com ironias, desinteresse etc. Ela não precisa mandar nele, é só deixar de dar carinho que ele já se sente cobrado.

Pergunta: Ainda vale a máxima de que homem quer quantidade (de parceiras) e mulher qualidade?

Luiz Cuschnir: Alguns podem sim querer sempre se testar, ou se alimentar. Outros só entram nessa quando estão insatisfeitos e não conseguem mudar o rumo da relação que estão. Já os que estão sós, buscam a quantidade para se manterem conectados com alguém, de uma maneira mais superficial. A mulher é mesmo mais seletiva. Não precisa desta quantidade, até porque não teria essa facilidade que o homem tem de arrumar parceiros.

Pergunta: Por quê existe a impressão (na visão do sexo oposto) de que o homem sempre vai aprontar e de que a mulher sempre vai pegar no pé ou achar ruim de algo?

Luiz Cuschnir: A mulher tem sido educada assim. às vezes é pela própria mãe, devido aos seus dissabores com o pai, ou relacionamentos anteriores. Também o pai, a partir das próprias vivencias e tentativa de proteger a filha, faz o mesmo. E aí ainda ocorrem as próprias experiências, muitas vezes precoces, quando adolescentes, em relação a rapazes imaturos. Já o homem tem um sensação que a sua liberdade está sempre sendo vigiada e restringida. Necessita voar, conquistar, se experimentar ao longo da vida. Isso requer uma disponibilidade que ocorre só com mulheres mais maduras e seguras.

Pergunta: O homem muda a maneira de encarar o sexo conforme as fases da vida (adolescência, juventude, maturidade, velhice)? E o amor?

Luiz Cuschnir: Sim. Muitas vezes na adolescência são completamente românticas e ingênuas, mesmo as que aparentam amadurecidas e já se portando como mulheres adultas. Quando são adultas mais jovens já encaram o sexo como uma viviência que indicaria um relacionamento, mesmo que não fosse pela vida toda. Se envolvem com quem estão se relacionando. Ou pelo menos tentam. Já mais maduras conhecem mais como poderiam desenvolver a atividade sexual, como se pudessem usar o próprio corpo, desejo e conhecimento anterior paa integrarem isso no relacionamento que estão. Na velhice, ou como chamamos na etapa do amadurecimento, a aproximação física já lhes dá um grande prazer. São mais tolerantes, exigindo menos no comportamento e mais nas atitudes de atenção do homem.

Pergunta: O que um homem REALMENTE quer dizer quando fala que “tem medo de compromisso”?

Luiz Cuschnir: Pode estar já avisando que não dá nenhuma garantia que vai conseguir seguir em uma relação mais duradoura, ou que está tão descrente da sua capacidade de se estabilizar, de encontrar alguém que realmente deseje ficar por um tempo maior, que já avisa para não se sentir mais culpado depois.

Pergunta: O homem passa a encarar o amor e o sexo de maneiras diferentes depois que vira pai?

Luiz Cuschnir: O sexo, de uma maneira geral, pode entrar em declínio pela freqüencia e falta de novidade. Quando os laços familiares se aprofundam com a paternidade, o amor pode vir a se transformar para uma situação mais próxima a uma união mais sólida, do ponto de vista afetivo. O sexo pode se aproximar mais do sentimento amoroso do que o erótico. Pode haver também, em alguns homens a sensação de serem passados para trás, de não serem os únicos. Ficam ressentidos, sentem-se ou são abandonados ou afastados, e geram muita raiva neles.

Pergunta: Por quê as mulheres, em geral, costumam repetir erros de relacionamentos anteriores e os homens fogem deles como o diabo da cruz?

Luiz Cuschnir: Quem sabe porque não aprendem tanto quanto eles, mas pode ser também porque não acreditam que possam escolher até encontrarem alguém diferente. Iniciam com mais facilidade novas tentativas.

Pergunta: Por quê alguns homens são extremamente atenciosos com os amigos, os funcionários e até com o porteiro do prédio e chegam em casa e ficam monossilábicos?

Luiz Cuschnir: É mais facil um relacionamento superficial, social, do que aprofundar em uma conversa que pode provocar reflexões, informações, cobranças de posicionamento que não querem fazer. Também muitas vezes não querem ser repetitivos no que desejam da mulher, já que não vêem que ela vai atendê-los. Evitam confrontos, o que não ocorre nestes tipos de conversas.

Pergunta: Por quê raramente o homem demonstra sentir ciúme da parceira? E por quê a mulher vive de antenas ligadas, tentando captar uma possível rival?

Luiz Cuschnir: Muitas vezes, a não demonstração ocorre por não ser tão intensa ao ponto de provocar o “emburramento” mais comum nas mulheres. Nem mesmo a agressividade que parte delas dirigida a eles ou a “outra”. Já o homem também tem medo que a mulher vai também fazer alguma “cena” se ele demonstrar mais o ciúme dele.

Elas sentem-se comparadas o tempo todo, em todos os sentidos. É como se nunca fosse o suficiente que elas já tem ou possuem. Sempre pode haver uma “outra” que pode interessar, ou tirar o homem que está com elas.

Pergunta: Por quê os homens não reparam em detalhes e detestam discutir a relação?

Luiz Cuschnir: Podem reparar sim, mas não valorizam, não gravam, não conseguem manter a informação tanto tempo. A discussão da relação para eles desgasta, não resolve os problemas que têm. é como se fosse paa convencê-los que estão errados. Também associam com uma conversa com o “chefe”, o “patrão”.

Pergunta: Por quê os homens preferem sumir, parar de telefonar e inventar desculpas esfarrapadas (“nesse momento tenho de me concentrar na minha carreira”) em vez de dizer simplesmente “não estou a fim de você”?

Luiz Cuschnir: Culpa, muita culpa. Homens não acreditam que a mulher tem condições de aceitr a realidade, as colocações, as limitações deles, e assim eles ficarão no lugar dos vilões, carrascos, desumanos, mentirosos etc. Dizer esse “não estou a fim de você” pode parecer que ela não serve para nada como mulher.

Pergunta: Mulheres bem-resolvidas e poderosas ainda assustam os homens?

Luiz Cuschnir: Dependendo do homem, se ele está muito abaixo dela, social, cultural, econômicamente ou profissionalmente pode ser um impasse, um obstáculo que ele não acredita que vai transpor. Tem dúvidas que vai ser aceito e não quer passar por uma rejeição. Também quer se sentir admirado e nem sempre isso ocorre com essas mulheres.

Pergunta: Por quê os homens arrastam durante anos um relacionamento com a amante e, quando finalmente se divorciam, nunca ficam com ela, e sim com alguém que acabam de conhecer – e com quem se casam em menos de seis meses?

Luiz Cuschnir: Essa amante pode ser interessante, quando não têm tanto contato com ela. Relações liberadas socialmente, mostram muito mais como é a pessoa. Podem perceber que com menos contato, tinham mais satisfação neste relacionamento. Nem sempre não ficam com a amante. Muitos ficam. Podem também se questinar se não estão sendo usados por elas para não ficarem sós ou sem condições finaceiras ou segurança pessoal para enfrentarem a vida. Quando se casam após 6 meses, não há outra explicação como um impulsividade ou necessidades mais ligadas ao dia-a-dia doméstico.

Pergunta: Por quê algumas mulheres morrem de ciúme das amigas de seu querido, mas se sentem extremamente ofendidas se o parceiro faz algum comentário agressivo sobre o amigo delas?

Luiz Cuschnir: Amigas dele são sempre uma dúvida de terem sido um caso. Amigos delas nunca são do jeito que eles os vêem. Homens conhecem os homens de uma maneira diferente que elas os conhecem. Olham pelo prisma de um outro homem, com fantasias e repressões que eles têm. Já as mulheres enxergam as outras como admiradoras do seu homem com segundas intensões, muitas vezes pautadas em experiências delas próprias, em relacionamentos anteriores.

Pergunta: Pode haver amizade entre homem e mulher sem segundas intenções?

Luiz Cuschnir: Sim, com certeza. Ambos precisam de amigos e muitas vezes ao receberem desses amigos orientações, vivem uma vida melhor. Amigos podem cuidar até com menos interferências de outros interesses que os próprios companheiros.

Pergunta: Os homens ainda dividem as mulheres em “para casar” e “para transar”? Isso é mais comum em qual faixa etária?

Luiz Cuschnir: Mais os maduros, os homens adultos. Eles sabem mais o perfil que procuram e podem até estar com uma mulher para terem companhia, ou até transar mas sem possibilidades de se envolverem. Têm isso muito claro, mesmo que não esboçem para elas.

Pergunta: Quais são as atitudes femininas que mais assustam os homens? E as que mais incomodam?

Luiz Cuschnir: Depende do homem. Há os que não agüentam “perua”, e outros que não agüentam “breguiçe”. Alguns exigem educação, formação, carreira, situação econômica etc. Outros podem estar muito ligados a parte física, higiene pessoal, expressão do carinho etc.

Nelas há a necessidade de admirá-los, sentirem-se de alguma maneira protegidas. Algumas exigem também alguma apresentação física, sucesso profissional, ambição dele e ve-lo um batalhador. Outras podem necessitar de um homem mais sensível aos problemas delas ou o oposto, querem um homem mais objetivo, sem tantas emoções aparentes.

Pergunta: Por quê o homem quer sexo quando está tenso e a mulher não consegue se excitar se teve um dia difícil?

Luiz Cuschnir: Para se aliviar e relaxar homens precisam ejacular e desviar a atenção para o que os aflige. mulheres ficam remoendo o que as incomoda e não conseguem se concentraro fugir do assunto para se envolverem na relação.

Pergunta: Por quê alguns homens gostam de ser maltrados e se sentir inseguros? Em outras palavras, por quê quando a mulher não está muito aí para eles o interesse masculino parece aumentar?

Luiz Cuschnir: Não é o maltrato que estes gostam, já que a maioria nem gosta disso. Acreditam que mais as mulheres é que precisam ser um pouco desprezadas. O interesse do homem pode ser para conquistar esta mulher, mas nem sempre é para ficar mais tempo com ela. Quando conseguem, depois abandonam. Não é que gostam do maltrato delas mas que querem dobrá-las para se sentirem mais potentes.

Pergunta: Por quê o humor dos homens é estável e o da mulher não? Há alguma explicação, além das variações hormonais?

Luiz Cuschnir: O humor deles parece mais estável porque estão reprimindo e mais acostumados a guardá-los sem demonstrá-los. A instabilidade deles é descarredaga não no relacionamento. Eles desviam para situaçòes mais físicas. As mulheres mostram mais facil para eles e muitas vezes confundem com o “ser mulher” como ser “instável”.

Pergunta: E, por último, e EM NOME DE DEUS PAI, porque sempre precisamos repetir nossas perguntas??? Por quê, SANTO CRISTO, os homens têm dificuldade em nos ouvir???

Luiz Cuschnir: Nos meus trabalhos comprovei muitas vezes isso: homens ouvem muito bem, mas não querem atender as mulheres, por vários motivos. Também as mulheres pensam que eles não ouviram, mas quando em grupos pedimos para elas repetirem o que eles falaram, elas têm muito mais facilidade em intrepretá-los, do que escutá-los e repetirem o que eles acabaram de falar. Sorry…

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