Paternidade nos tempos de hoje

CDD – Crônicos do dia-a-dia – Jornalista Camila Tuchlisky

09/08/2020

CDD – Como você avalia a paternidade nos tempos atuais?

Luiz Cuschnir – Como sempre tem sido, a transformação dos papéis parentais se dá principalmente com os valores que a sociedade dá para a relação familiar, influenciada para cultura que a atinge.

As variações geográficas, religiosas, econômicas dentre outras, vão se infiltrando e dão os parâmetros, no caso aqui, da paternidade.

Enquanto tínhamos primordialmente a composição familiar quase indissolúvel, e a que poderia existir fora de um contexto moralmente aceito como segundas famílias de relações ditas adúlteras, o papel do pai estava bastante atrelado a responsabilidade como provedor. Assim fazia par com o que compunha a masculinidade e assim, provedor e masculino muitas vezes serviam para definir o homem.

Novos pais surgem das composições de famílias onde são dois homens, que por características de personalidade, irão compor para atender a criação e educação dos filhos.

Todos sabemos da evolução desse entendimento, tanto com a dimensão do econômico como quando se denomina o que é ser homem. 

Como tem sido nessas últimas décadas, o homem saiu do seu lugar estabilizado nos deveres econômicos perante a família. Isso veio junto com o seu relacionamento com a mulher, e muito concomitante com os filhos.

Ele não mantém o lugar do que vai mandar, exigir, cobrar, muito menos bater.

Aquela frase: “Deixa o teu pai chegar!” não tem efeito, pelo menos como era.

Então, se era não é mais o meteoro que vai aterrizar por ter sido o único a “caçar” para sustentar, nem está presente no dia a dia, por exemplo somente mencionado por não ser considerado participante daquele específico grupo familiar, teve que se questionar e encontrar respostas que o orientasse para viver a paternidade.

Hoje, se ele quiser e conseguir, participa desde os primeiros momentos onde se dizia que só a mãe importava. Muitos acompanham a gravidez sonhando juntos com o filho que virá. Quando vem, entendem tanto como a mãe do sufoco do choro e das trocas de fraldas. Não dão o peito para amamentar, mas logo ocupam o de dar a mamadeira.  E assim se dá toda a sequência para todas as outras etapas que foram construídas para desenvolver a relação de amor entre os dois.

O que antes era intermediado pela mãe, que tinha muito a que conversaria sobre a intimidade do filho, agora podem ter o pai até como mediador nas desavenças dos dois.

Enfim, o que sempre foi um enorme orgulho ser pai, meio misturado ou escondido com o amor pelo seu legado, hoje escancarou!

Qualquer pai, sem nenhum receio quanto a sua masculinidade, pode declarar e comemorar o amor que tem pela sua criação!  

CDD – Alguns homens estão tentando exercer uma paternidade mais ativa, mas as esposas, algumas vezes, não deixam. E isso por situações diversas: “ah, ele não vai conseguir dar conta”, “Eu faço melhor porque sou a mãe”, etc. Qual é a avaliação que você faz sobre a paternidade ativa e como esse homem atual se coloca nessa situação?

Luiz Cuschnir – As rusgas que aparecem para expor a incapacidade do pai, podem sim ser descritivas de um homem que não toma para si todas as responsabilidades que deveria. Seja por estarem totalmente desatualizados do mundo que vivemos, seja por uma lacuna no seu desenvolvimento afetivo, que os tornam apegados a etapas anteriores de sua vida, mantendo uma visão imatura na vida. Usam às vezes o poder econômico na casa para se esquivar da paternidade, mas que no fundo tem a ver com a impossibilidade de terem um vínculo afetivo pleno. Isso reverbera na relação com a mãe que expõe dessa maneira o desmerecendo. Quanto mais ela perpetua essa desvalorização dele para com o filho, mais ela o confirma no filho disfarçado de pai.

Assim ele não aprenderá mesmo, se acomodará no incapaz e se afastará dos cuidados, sem querer entrar em debate com essa mãe sobre a sua proposta e experiência que poderia ter com o filho que também é dele.  

CDD – Poderia dar algumas dicas para os pais modernos?

Luiz Cuschnir – Primeiro é: NÃO ECONOMIZAR NO AMOR QUE TÊM PARA COM O SEU FILHO!

Não é nos presentes e liberalidades para com ele. É na expressão mais profunda do amor, com o respeito pelas necessidades dele, totalmente atrelado com a execução de limites com aprendizado e proteção. Estarão dando a segurança que este filho necessita para se tornar um adulto.

Depois, cuidado com a confusão da paternidade com a amizade modernosa, onde não se atém com as diversas fases de desenvolvimento e compõem uma aliança simétrica sem o devido lastro que o filho precisaria ter antes disso.

Lembrar-se sempre que as incongruências dos adultos, por exemplo do que pregam serem diferentes do que vivem, o que falam para os outros está sendo observado e aprendido pelos filhos, terão consequências que precisam sempre ter reflexões sobre o que oferecem de parâmetros para os filhos.

Por último…e sempre…e de novo continuamente: aproveitem esse amor com os seus filhos! 

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