Diário da Região SJ do Rio Preto por Cecília Dionizio – janeiro/2002
Homens perdidos e sem norte. Uma história que se repete a cada esquina. Eles estão desorientados, sem saber como se comportar diante das milhares de mudanças que a sociedade tem imposto com mais e mais rigor nos últimos 30 anos. Afinal, a graça já não está em anunciar que se é macho, mas sim que se é um homem pleno. Fortes, flexíveis e mais do que nunca sensíveis, a exemplo de muitas mulheres. Porém, nem todos sabem como conciliar estes novos papéis que lhe são cobrados. Segundo o psicanalista Miguel Yalente Ângelo Perosa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), embora não seja nenhum especialista neste assunto, acredita que seja difícil para qualquer um falar a respeito do papel homem. “Mas sou homem e vivo as contradições do meu tempo, no exercício desse papel“, diz. O que existe, segundo o psicólogo, são diferentes papéis que a cultura atribui ao macho da espécie humana e não um específico.
Na opinião do psiquiatra Luiz Cuschnir, coordenador do Gender Group do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, criador do “masculinismo” um contraponto do feminismo, a mudança nos paradigmas causou um forte abalo no homem. Cuschnir é autor de vários trabalhos sobre o homem e está em seu quarto livro sobre o assunto, “O homem e Suas Máscaras – a Revolução Silenciosa” (editora Campus). Para ele, situações como morte do cônjuge, divórcio e demissão, há cerca de 30 anos, eram as que mais o abalavam; hoje não há muita diferença e sim uma inversão na ordem dos transtornos no que mais o desespera. Atualmente, o homem em geral ainda se sente frágil diante da separação e do desemprego, mas tem se pautado pela mulher, que é muito mais flexível. Isto porque já não pode mais se pautar pelo sexo ou apenas pelo papel de provedor. é preciso abrir os horizontes, pois não só a mulher, mas a sociedade, admira o homem que consegue assimilar a nova identidade.
“Ele precisa se alçar numa base que lhe dê capacidade de desenvolvimento total. Precisa saber sentir, perceber e ter sensibilidade para mudar, é essencial“, diz Luiz Cuschnir.
A assistente social Cecília Shibuya, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), afirma que antes de ter é preciso ser, e somado a isto é imprescindível aprender a usufruir de pequenos momentos. Quando o homem conseguir fazer aquilo que lhe dá prazer sem se preocupar tanto com as aparências vai encontrar tempo para desenvolver o seu interior e exercer plenamente o papel que melhor lhe cabe melhor: ser ele mesmo. Miguel Perosa diz que o homem, claro, vai tentando dar conta do recado.
“Olhando para trás poderíamos dizer que antigamente era mais simples: homem é homem, mulher é mulher e cada macaco no seu galho. Mas se pensarmos em termos históricos é preciso reconhecer que apesar das indefinições de papel do presente, homens e mulheres mudaram porque o que existia não satisfazia plenamente suas expectativas e necessidades. Como já dizia o grande escritor Guimarães Rosa: tudo o que existe, carece e se merece“, conclui o psicanalista.