Entrevista concedida para a Revista Ana Maria
Vanessa Vieira: Mentir é um artifício comum entre os jovens para conseguir fazer coisas que, em outra situação, não seriam aprovadas pelos pais, como viajar com o namorado ou ir a locais potencialmente perigosos. Esse tipo de “mentira” faz parte do amadurecimento? Como os pais devem lidar com isso?
Luiz Cuschnir: Mentira não é sinal de amadurecimento. Nem o apressa nem facilita. O que muitas vezes ocorre é que cria um clima de perseguição e depois muitas dificuldades de manterem coerentes para manter a seqüência da mentira, que em geral mais mentira. Cria também o hábito de não encararem seus compromissos. Isso pode ser lidado pelos pais de uma maneira equilibrada, nem com o exagero, nem com uma permissividade que propicie uma liberalidade.
É comum entre os jovens se observar um comportamento desafiador, aventureiro, impulsivo, juntamente com uma sensação de onipotência (eu posso tudo, isso nunca vai acontecer comigo…), neste contexto, essas “mentiras” podem aparecer como forma de se alcançar aquilo que se deseja, de chamar a atenção, ou até mesmo de se achar diferente/melhor que os pais.Para os pais é importante que estejam sempre mostrando para os filhos as conseqüências de seus atos, para que assim eles possam exercer sua autonomia chegando na fase adulta com maior senso de responsabilidade.
Vanessa Vieira: Qual a diferença entre essas mentiras e as do adolescente que finge fazer o curso e desvia o dinheiro da mãe?
Luiz Cuschnir: A diferença básica está no caráter. O adolescente que mente para pegar dinheiro da mãe, está roubando, transgredindo algo que está além da autoridade dos pais. Ele está quebrando com uma regra social, com uma lei, o que caracteriza uma transgressão mais grave, e que deve se estar mais atento. Já os adolescentes que mentem para ficar com o namorado, para sair à noite e etc… estão testando as regras e os limites, acham que os pais não sabem de nada, que eles é que sabem tudo sobre a vida, ou que o pai é “careta”, “quadrado”, “que não entende”, e mentem para se sentirem livres, independentes, “donos do próprio nariz”, mas não pensam de forma alguma em lesar estes pais.
Vanessa Vieira: Qual deve ser a atitude dos pais diante desse segundo tipo de mentira?
Luiz Cuschnir: Ao perceber este tipo de atitude em um filho, é importante que os pais tomem as precauções necessárias para que isto não se repita, acompanhe de perto o seu desenvolvimento destas atividades, demonstrando interesse pelo o que o filho faz, elogiando seu bom desempenho e desaprovando comportamentos anti-sociais. é importante carinho e preocupação, como um abraço, um toque, um olhar carinhoso e compreensivo. A sensação de segurança e compreensão dentro de casa formam a base para um melhor entendimento de ambas as partes. Cuidar para que folhos não os manipulem com atitudes delinqüenciais e ao mesmo tempo oferecer uma permissividade que seja conseqüente, devendo avvaliar a todo momento o melhor.
Vanessa Vieira: As mentiras dos adolescentes são necessariamente sinal de falta de diálogo entre pais e filhos?
Luiz Cuschnir: Não. Estas mentiras, assim como brigas e diminuição da cumplicidade entre pais e filhos são normais nesta fase, fazem parte do jogo de diferenciação e teste do que são e do que aprenderam com os próprios pais. A necessidade de pertencer a um grupo e de ser diferente, trazem muitos conflitos internos, assim como as alterações hormonais, que agem de forma significativa no campo emocional do adolescente, tornando tudo mais intenso, novo e emocionante.
Vanessa Vieira: Como impor limites sem acabar se tornando vítima das mentiras dos adolescentes?
Luiz Cuschnir: Quando é necessário pôr limites, é importante equilibrar com argumentos sólidos o porquê do “não” ou do “sim”, ser coerente naquilo que fala, não deixando margem para duplas interpretações, demonstrar carinho, que se importa com o filho.Da mesma forma ter um espaço para não oferecer sempre explicações e justificativas enfadonhas, que acabam virando “falar com a parede”. Os adolescentes, em muitos atos que cometem, estão indiretamente pedindo para os pais estes limites, não é necessário ter medo de falar “não”, portanto que ele venha acompanhado com alguns itens citados acima.
Vanessa Vieira: Como é construída – com exemplos de atitudes diárias – uma relação sincera entre pais e filhos?
Luiz Cuschnir: Uma relação sincera entre pais e filhos é construída desde o nascimento. Para que haja espaço para a verdade, é necessária uma relação onde seja explicita a preocupação e amor dos pais, juntamente com respeito à individualidade do filho, não criando grandes expectativas e enormes cobranças em relação ao seu futuro. Educar o filho deixando que ele desde cedo possa exercitar sua autonomia, diferenciando o certo do errado, elogiando seus acertos e apontando os seus erros, sabendo castigá-lo de forma proporcional aos seus atos, sem exageros ou contradições. Cada filho e cada pai tem sua individualidade e não existem fórmulas para a sinceridade, apenas dicas que tem que ser permeadas pelo bom senso. O amor entre pais e filhos é inato, e só necessita de um espaço saudável para se desenvolver sozinho. Não se deve falar uma coisa e mostrar outra. Muitas vezes esta relação se baseia exclusivamente nos modelos do que se vê, escuta e presencia ao longo da vida.