Estresse

Entrevista concedida à revista Corpo a Corpo

Isabel Taranto: O que é estresse?

Luiz Cuschnir: O estresse traduz uma condição vivencial, mais ou menos duradoura, que se reflete em efeitos emocionais e físicos que traduzem o desajuste a vida cotidiana.

Isabel Taranto: Quais as principais causas?

Luiz Cuschnir: As principais causas são provenientes de uma transformação do status momentâneo de estabilidade, que em geral afetam os diversos papéis que cada um exerce na sua vida. Muitas vezes sequestros emocionais de relacionamentos ou até atividades podem propiciar o aparecimento do estresse. Se acessarmos os papéis profissionais, os relacionamentos familiares e afetivos, as condições socioeconômicas e até estados deficitários de saúde, estaremos abrangendo a maioria deles.

Isabel Taranto: Como o processo se inicia?

Luiz Cuschnir: Quando há desajustes no cumprimento das atividades diárias, ou situações críticas que exigem uma reação que o indivíduo não está emocionalmente preparado, e ainda tiver repercussões físicas, estamos diante de um possível estresse.

Isabel Taranto: Quais os primeiros sinais para uma pessoa perceber que está ficando estressada?

Luiz Cuschnir: Quando não consegue mais responder ao que o mundo está solicitando com a devida tolerância, tendo irritações, distúrbios emocionais fora do seu usual, e até quando se percebe com afecções de doenças com freqüência. é comum que afete seu ânimo para atividades antes tidas como fáceis, alterações no funcionamento fisiológico (alimentação, hábito intestinal, ingestão de bebidas alcoólicas ou drogas como “remédio”, sono alterado etc).

Isabel Taranto: Como diferenciar estresse de um estado de ansiedade permanente?

Luiz Cuschnir: O estado de ansiedade permanente acaba sendo quase um traço de personalidade, se não é uma patologia diagnosticada e que precisa ser tratada adequadamente. Ela não tem uma precisão do início, motivos claros de permanência e tem uma necessidade de ter um acompanhamento médico especializado para uma indicação mais precisa de tratamento. Já o estresse tem uma compreensão plausível, coincidindo com a qualidade de vida e condições emocionais que indicam uma reconsideração de como a pessoa está vivendo como um todo. Ambas necessitam de um acompanhamento psicoterápico especializado e profundo para se atingir mais precisamente todos os elementos que contribuem para o aparecimento e persistência dos quadros.

Isabel Taranto: Qual destas duas situações é mais prejudicial? Existe relação entre estresse e ansiedade?

Luiz Cuschnir: O estresse pode ou não vir com a ansiedade aparente, explícita. A ansiedade em geral afeta a pessoa ao longo da vida dela, impedindo um melhor desempenho de suas atividades, prejudicando todo o processo de desenvolvimento vital. O estresse é mais localizado, tem um começo mais definido,mais pode até ser mais intenso e perigoso quando atinge fisicamente ou em alguma atividade mais específica. Não faz parte do processo de desenvolvimento da pessoa e os recursos psicológicos que ela tem para lidar podem ser insuficientes. Ambos prejudicam igualmente a pessoa e depende de como darão conta disso, além de até terem características positivas como estímulo para ultrapassar um determinado evento.

Isabel Taranto: Que malefícios o estresse pode ocasionar para a vida da pessoa (atrapalha o relacionamento com a família, o desempenho sexual, a produtividade no trabalho?), para a saúde do organismo como um todo (aumenta a pressão arterial, dá insônia, deixa a pessoa com os reflexos diminuídos no trânsito, o que mais?) e para a aparência?

Luiz Cuschnir: Uma pessoa estressada não irá participar dos relacionamentos afetivos totalmente envolvida e com a sua melhor perfomance. O convívio familiar fica insatisfatório, se irrita com facilidade, se interessa pouco pelos demais. Pode alterar o ritmo sexual normal de cada um, provocando uma pior qualidade (mesmo que seja aumentando a freqüência). O trabalho pode até ser ativado, sendo comum um maior desgaste para exercê-lo. Não é incomum erros aparecerem com freqüência maior, incidência de faltas no trabalho ocasionando interferências na seqüência dele. é comum parecer hipertensão, mas até pode-se constatar variações com hipotensão por alterações nos sistemas neurovegetativos. A atenção e concentração podem ser afetadas, com pensamentos mais dispersos, impossibilidade de atingir um sono e descanso reparador. Tudo isso poderá afetar a atividade reflexa necessária para dirigir, além de propiciar um desajuste emocional que pode provocar brigas, direção perigosa ou violenta e acidentes de trânsito desde leves à fatais. Não é incomum a pessoa afetada física e psicologicamente acabar também transparecendo em sua apresentação pessoal. Com tantos desajustes, possivelmente terá dificuldade em se manter com ma boa aparência.

Isabel Taranto: Uma pessoa pode ficar com olheira, abatida, ter queda de cabelo, a pele ressecada (ou seja, ficar mais feia)por causa do estresse?

Luiz Cuschnir: Na área dermatológica é extremamente comum aparecerem sintomas. Desde dermatites, aparecimento de alergias, queda de pelos, aumento de secreções, diminuição da lubrificação normal da pele pode provocar afecções que vão se apresentar com um aspecto de saúde comprometido. Também não é incomum que a pessoa maltrate ou desconsidere a necessidade de se cuidar, de preservar o bom aspecto da pele, e isso vai afetar a sua apresentação pessoal.

Isabel Taranto: O que uma pessoa deve e pode fazer para se livrar do estresse?

Luiz Cuschnir: Os cuidados são inicialmente emocionais, com uma boa revisão psicológica e um bom desenvolvimento de recursos para lidar com as adversidades da sua vida. A psicoterapia com um profissional adequado, em geral já apresenta um bom resultado. A própria pessoa se descobre objeto de seu interesse e busca seus critérios para se proteger mais. Falo muito que as pessoas mais do que precisam, elas merecem uma boa psicoterapia. A partir daí ela encontra a sua maneira de se cuidar, com atividades específicas físicas,mentais, espirituais ou até profissionais, de acordo com cada personalidade, vivência e respeitando a sua individualidade.

Isabel Taranto: O que fazer para preveni-lo e impedir que ele volte?

Luiz Cuschnir: Só previne quem tem um bom conhecimento de seus próprios limites e lida bem com eles. Impedir que retorne só ocorre se a pessoa lidou satisfatoriamente e com responsabilidade de manutenção preventiva. Isto implica ma constante vigilância de hábitos, preservação de relacionamentos satisfatórios, condutas sociais adequadas visando um desenvolvimento pessoal constante.

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