Entrevista com Marília Gabriela – 10 de julho de 2002
Marília: O nome dele é Luiz Cuschnir, filho de Jacó e Fanni, irmão de Leonardo, Clarice e Ciro, pai de André e Adriana, tem 52 anos, nasceu em São Paulo. é médico psiquiatra e psicoterapeuta e coordena o Idem, Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher. Ele está lançando este livro aqui: “Homens sem Máscaras Paixões e Segredos dos Homens”. Boa noite, Luiz Cuschnir. Aliás fiquei felicíssima de ver uma parte da nossa entrevista, foi uma surpresa mesmo, eu já tinha convidado antes quando descobri que tinha uma parte de uma entrevista anterior lá na Rede TV e eu adorei. Eu li com os primeiros olhos, como se ainda não tivesse conversado a respeito. Você viu a minha conversa com pai e filho. Talento e talento.
Luiz: Linda conversa.
Marília: O que é que mudou nessa relação, você disse que os homens estavam conseguindo uma nova paterno dado. O que você viu aqui entre o Humberto Magnani e o Beto, você já percebe isso ou não, o que mudou no relacionamento pai e filho?
Luiz: Gabi, eu estou formado há quase 30 anos, ano que vem vai fazer 30 anos. E quando eu comecei homens não iam no meu consultório, em geral. Muito menos os pais dos adolescente com quem eu trabalhava em psicoterapia. E hoje essa grande transformação, o homem está participando da vida do filho, indo nos lugares que ele freqüenta, indo, acompanhando o desenvolvimento dele e hoje você trouxe um exemplo do homem trabalhando com o filho, o filho trabalhando o homem no ambiente de respeito, de carinho, de exposição, onde o filho olha esse pai e chega perto desse pai. E esse pai se permite mostrar alguma coisa a mais para o filho que não seja só o trabalho, trabalho, trabalho, mostra o que ele tem dentro dele. os dois ganharam, né, Gabi. O filho e o pai.
Marília: Eu acho, eu acho completamente. Agora, você viu que tem aquela história, gente, não estou usando vocês, juro que não era a intenção, mas vou usar porque ficou interessante com o assunto que vinha a seguir. Você viu que ambos admitiram, o Humberto mais claramente, admitiram o ranço machista. Isso não se perde mesmo?
Luiz: Tem uma confusão aí Gabi de machismo com tudo o que é masculino é machismo. Até os próprios homens não sabem o que é machismo.
Marília: Aliás você propõe o Masc Leumbg não é isso?
Luiz: Pois é um termo que eu estou utilizando, trouxe para a literatura a tese, esse livro é baseado, esse livro “Homens sem Máscaras” está baseado na tese de Masc Leumbg, um estudo através do… é a primeira vez que aparece na literatura brasileira por isso que eu que trago esse nome para a língua portuguesa, vamos ver se entra no dicionário isso, né? Porque é o termo correspondente ao feminismo, que é o estudo dos homens. Se a gente conseguir que o Masc Leumbg ocupe um lugar mais importante que o machismo, os homens não vão se pautar mais no machismo como maneira de ser homem. Os homens vão encontrar novas maneiras de serem homens.
Marília: Porque na verdade quando ele se refere a machismo provavelmente ele está ainda se apegando a idéia da indevido lido que seria substituída por esse Masc Leumbg que quer dizer outra coisa.
Luiz: Que quer dizer homem, quer dizer o característico do masculino, que o homem, como é que o homem conseguiria controlar esse crescimento dele, essa exposição dele, como é que o homem conseguiria se entender como homem se ele não podia trocar com outros homens para saber como é que é um outro homem? Isso a que gente está falando agora, de o homem aprender com outros homens, que nesse caso é pai e filho. No caso dos meus trabalhos são grupos de homens aprendendo com outros homens. A serem homens.
Marília: Venha cá. Vira e mexe quando a gente ataca algum machão arretado as pessoas dizem assim: as mães é que fizeram os filhos assim. Nós temos essa responsabilidade?
Luiz: Você vê como é, a mulher, de cara já pensa: é culpa nossa.
Marília: Foi nos passada essa culpa.
Luiz: A mulher para sentir culpa não precisa mais do que dois tostões. E realmente a mulher passa muito do machismo para o homem, é ela que também vai ensinar o homem a ser machista.
Marília: Por que seria isso?
Luiz: Ela não sabe também como se relacionar com o homem de outra maneira que não seja colocá-lo numa posição tão autoritária de ser o provedor, de ser o que vai assumo ilustra, a mulher tem uma necessidade, uma ânsia muito grande de segurança. é o que mais a mulher precisa.
Marília: Isso vem da cultura ou do hormônio?
Luiz: Não dá para a gente colocar tudo em hormônio, tudo em…
Marília: cultura.
Luiz: Na questão bioquímica e todas as depressões têm a ver com a bioquímica. Na verdade tem a ver com, como a mulher aprendeu a ser mulher e está se transformando, muitas vezes adotando posturas masculinas porque não sabe trabalhar sem ser de uma maneira onde ela perde a feminilidade. E o homem, que está tentando se desenvolver nessa nova masculinidade ou na real masculinidade, na sinceridade como homem, que também é o que aparece nessas paixões e segredos dos homens, é que eles vão conseguindo se posicionar. Aí a mulher vai e é o que está acontecendo, ela vai aprender a educar homens, assim como o homem está aprendendo a educar homens. O homem está se aproximando hoje do filho e podendo educá-lo também. Hoje os teus filhos, os nossos filhos, são educados por pai e mãe. Ou a grande maioria tem essa chance de ser educado por um homem e por uma mulher e não só por uma mulher como você falou. A culpa é nossa. Porque antes era assim. Só a mulher que educava não era?
Marília: é, era. A mulher ficava em casa, a função da mulher era o doméstico, era criar filhos, cuidar da casa, dar a base, a manutenção para o homem que saía para trabalhar. Aí que raramente via esse filho.
Luiz: Hoje em dia as mulheres, ainda existem mulheres que batem no peito e dizem: eu criei sozinha meus filhos. Achando que é o máximo.
Marília: Aliás foi bom você tocar nesse assunto, existem algumas mulheres que dizem, falam isso em entrevistas, etc e tal. Abandonei a minha carreira para cuidar dos filhos. E depois eu resolvi, vou voltar depois ou voltei depois. Isso é bom?
Luiz: Claro que não.
Marília: Não é?
Luiz: Na hora que ela fala essa frase ela coloca uma cobrança em sim desses filhos que estes filhos só podem se sentir culpados em relação a essa mulher. E aí você imagina como vai ser quando esses filhos escolherem outras mulheres para se relacionar.
Marília: A mulher pode até fazer isso se tiver vontade, mas não precisa ficar empregando porque isso vai soar como cobrança.
Luiz: Assim como soa muitas vezes ela dizer: olha o seu pai é assim, olha o que o seu pai faz comigo. Olha o que seu pai, olha como seu pai é. Quer dizer, isso, claro que muitas vezes a mulher tem essa possibilidade de fazer muito mais freqüentemente pela exposição que ela tem dos próprios sentimentos, com essa facilidade e pelo fato de ela estar convivendo muito mais com o filho, porque está o dia todo, o tempo todo conseguindo influenciar de uma maneira que aí volta para aquela questão, aí vai criar o machista.
Marília: Quais são os segredos maiores dos homens?
Luiz: é…
Marília: Que eles consideram?
Luiz: Que nós agora podemos considerar na hora que a gente está estudando os homens? Eu acho que o homem tem um desejo impressionantemente grande de ser feliz. Ser feliz afetivamente. Ele, o homem precisa ser reconhecido profissionalmente, ser o que ganha dinheiro, o que tem coisas, tem coisas concretas, mas o segredo, o que está lá dentro é que o homem gostaria muito de ter uma relação muito boa com uma mulher, muito boa. E ele tem muita dificuldade e não é por ele só, é por ela. E hoje cada vez mais as mulheres dificultam isso. Por isso que a gente está fazendo…
Marília: Meu Deus! mas dificultam, mas não no nível consciente?
Luiz: Não, as mulheres, eu falo sempre assim, os homens não falam e as mulheres não escutam.
Marília: Isso eu acho perfeito. Isso eu acho perfeito. Outro dia eu estava falando com o Tenório, e ele escreve muito a respeito de relações afetivas. Eu falei: por favor, escreva uma peça em que um homem e uma mulher conversem como eles fazem sempre e que na verdade eles estão em dois solos. Porque é isso o resultado.
Luiz: Não chegam no outro. Os dois estão precisando porque as mulheres estão profundamente insatisfeitas, elas ganharam muito, as mulheres estão vitoriosas hoje, é a minha homenagem a você e a todas que se espelho amo em você.
Marília: Muito obrigado.
Luiz: Isso que eu coloquei, não coloquei uma entrevista de metro homem, eu coloquei você. Porque é isso, é a mulher que consegue vencer, se posicionar e consegue mostrar a capacidade produtiva dela. Mas também o que conversamos da outra vez que é essa qualidade tua afetiva, aquela questão que também fala muito dos teus filhos, essa coisa que a mulher tem que aí ela ultrapassa o homem, sempre. Porque ela tem muito mais facilidade, muito mais flexibilidade. Se ela não ficar fixa, se a mulher não ficar nessa posição de dizer assim: eu sou assim e acabou. Eu sempre fui assim. Eu sempre fiz as coisas desse jeito. Se a mulher fica nisso e às vezes ela fica, quanto mais poderosa ela é, mais ela se fixa nas posições dela e impede que o homem se relacione com ela.
Marília: Olha, rapidíssimo para não deixar meus internautas na mão. O Arantes é um vendedor de São Paulo, de 40 anos e pergunta você pensa em fazer um livro sobre o comportamento da mulher.
Luiz: Estamos trabalhando agora, há alguns anos com grupos de mulheres também. Claro que no meu consultório esses anos todos eu trabalho com homens e mulheres e adolescente, casais, tudo. Mas agora nós estamos aplicando exatamente a mesma metodologia, os mesmos grupos para os homens, quer dizer, se os homens trabalhavam a relação com o pai numa sessão, elas vão trabalhar a relação com a mãe. Tem uma hora que os homens se fazem, eles entram como se fossem um grupo de mulheres, nós fazemos as mulheres vivenciar remo um grupo de homens.
Marília: maravilhoso.
Luiz: Essa inversão de papéis e a possibilidade de um entender o mundo do outro é o caminho desse mundo, desse novo mundo, esse novo relacionamento.
Marília: Desse encontro.
Luiz: É.
Marília: Daniela Mirantes é uma secretária de Campinas de São Paulo, 26 anos, o que se esconde por trás dos grandes machistas preconceituosos. Essa respondeu: se esconde uma alma delicada querendo resolver a sua parte afetiva, aprendi hoje aqui.
Luiz: É isso Gabi, parabéns.
Marília: Depois o Gilmar Santos, um técnico em informática em São Paulo, de 33 anos, pergunta: qual a melhor postura a ser adotada por um homossexual no ambiente de trabalho.
Luiz: Olha, o mundo, o mundo está cheio de preconceitos. Perante os preconceitos do mundo as pessoas têm que se proteger. Perante os próprios preconceitos elas têm que trabalhar e se desenvolver ao máximo. As próprias questões conflitivas. Então ele tem que resolver os próprios problemas, os próprios conflitos que ele tem em relação a esta condição, como qualquer outra condição, como ele tem também que saber se adequar e lidar numa relação…
Marília: Com as dificuldades dos outros.
Luiz: Claro.
Marília: Está aqui, Luiz Cuschnir, “Homens sem Máscaras Paixões e Segredos dos Homens”. Tudo o que escreverem a respeito dos homens eu estou lá na primeira fileira aberta, isso aqui, deve em uma hora porque eu preciso saber, eu preciso saber, eu preciso saber. Um beijo. Um beijo. Obrigada. Obrigada pela entrevista, esses homens formidáveis.