Artigo Inédito – Luiz Cuschnir
Quem nunca idealizou seu final feliz? Um casal apaixonado que se enche de promessas e sonhos, alimenta a fantasia do “felizes para sempre”! Afinal, isso é o que todos nós desejamos. Sabemos que as relações conjugais são feitas de altos e baixos. Crises diversas acometem a felicidade e o equilíbrio do casal, e é comum que apareçam motivos que levam a esses desentendimentos resultado da administração do orçamento familiar. É fato que as diversas mudanças ocorridas no universo feminino refletiram nos papéis exercidos pelo homem e pela mulher na vida conjugal. Quando esses papéis dentro do casamento esbarram na vida financeira do casal, se torna necessário olhar um pouco mais esse assunto e verificar o que está acontecendo com cada um e seus paradigmas relacionados ao papel de gênero. Para os homens, entender e aceitar a independência financeira das mulheres, pode gerar conflitos e sentimentos de ambiguidade. Alguns, ao mesmo tempo, se sentem explorados por pagarem uma conta como a do restaurante, também se sentem inferiorizados se precisam dividir as despesas com a mulher. Até então seu papel era definido como provedor. Ser Homem é dar conta de tudo que esteja relacionado a isso. Hoje, no entanto, esses papéis se misturaram, e em algumas famílias até se inverteram por completo. O fato é que essa mudança gera um incômodo, o que torna necessário uma readaptação para distribuição dessas responsabilidades.
É comum termos esse tema presente nas psicoterapias tanto de homens como de mulheres que estão angustiados com o seu relacionamento com o parceiro. A equipe especializada do Gender Group® do Instituto de Psiquiatria do HC da FMUSP verifica os referenciais que cada um tem para sentirem- se homens e mulheres mais completos e assim fortalecerem-se para o convívio com o outro gênero. Sabe-se que os solteiros mantém a vida financeira individual acompanhando a tendência que indica as características masculinas ou femininas. Os homens buscam comprar bens materiais como patrimônio ou carro que agregam valores relacionados ao poder material. Já as mulheres identificam-se mais como o consumo de roupas ou jóias, destacando e valorizando sua feminilidade, comportamento esperado e estimulado pela sociedade. Entende-se que cada gênero segue de acordo com suas necessidades e possibilidades de satisfação interna.
Muitas pessoas conseguem, antes do casamento, manter uma boa administração da sua vida financeira, considerando que suas despesas são bem inferiores, devido ao fato de ainda estarem vivendo a posição de filhos com seus pais ou com hábitos mais simplificados. Porém, é preciso realinhar esses interesses individuais para se tornarem objetivos em comum, quando unidos por um matrimônio já que os sonhos também mudam e somam-se exponencialmente. Padrões de comportamentos são passados de gerações a gerações. Isso inclui a relação com dinheiro, sendo possível observá-lo como herança de cada um à vida conjugal. Fica a pergunta: Como entrar numa relação e garantir o êxito financeiro dessa instituição chamada casamento? É necessário redimensionar os ganhos e gastos, promover mudanças de conduta, mas de qualquer maneira não existe garantia de que tudo sairá conforme o esperado.
Em alguns países a separação da casa dos pais é estimulada desde cedo, o que pode favorecer o amadurecimento nesse aspecto. Na nossa cultura encontramos os jovens que têm adiado para ingressar na vida adulta. Quando passam a essa etapa independente, ainda não dispõem de maturidade para assumir o novo esquema que inclui uma série de compromissos que não existiam. É preciso tempo para aprender a administrar a nova rotina financeira. A união dos dois como casal não é sinônimo de resolução para essa adaptação e até pode dificultar quando a linguagem de cada um em relação aos projetos futuros não está claramente estabelecida. Cada um ainda está muito conectado com o próprio “eu” e não com o “nós”. A noção, muitas vezes, só aparece quando vêm os filhos que os colocam na obrigação de planejar melhor o que virá na frente. Isso nem sempre é quando eles nascem mas pode levar algum tempo para perceberem que não estão na lua de mel e sim numa nova realidade.
Apesar de não ser um assunto nada romântico, conversar sobre o orçamento familiar mesmo antes do casamento pode ser uma boa alternativa. Para alguns casais falar sobre dinheiro pode ser um tabu, isso porque não há confiança de como o outro vai saber lidar com o dinheiro da forma que julga ser a mais adequada, ou que será respeitado nas suas diferenças. Respeitar o ponto de vista do seu parceiro é fundamental, afinal cada um se relaciona com o dinheiro de uma maneira diferente e para facilitar esse entendimento uma boa comunicação fará uma grande diferença. Ao mesmo tempo em que o dinheiro pode proporcionar momentos de muitas alegrias para o casal, também pode ser motivo de muitos desentendimentos e até mesmo de levar a uma separação caso o projeto de vida não esteja caminhando a contento. Um casal que compartilha seus projetos está traçando um futuro e ao mesmo tempo reiterando que o compromisso de ambos é de longo prazo. Desta forma reforça a segurança de cada um e enriquece o vínculo afetivo. Nesse caso o dinheiro pode ser um grande aliado deste casal, mas diante de uma má administração pode ser tornar um grande vilão.