Casamento

MEDO DE CASAR    Jornal A Tribuna – Jornalista Roberta Peixoto
Entrevista concedida – 18/08/2014

A Tribuna – Há pessoas que realmente têm medo e fogem de casamento? Podemos explicar o motivo de agirem assim?
Luiz Cuschnir – A imagem do casamento para cada um é construída de várias maneiras, ao longo da vida e atualizada no que a pessoa está passando numa determinada fase de vida. Se a pessoa cresceu com esse medo, os motivos devem estar relacionados ao que ela viu e participou dentro e fora de casa. Paralelo a isso, fugir do casamento também pode ser uma postura e comportamento em relação a vida como uma opção. Nem sempre é com a característica de medo ou fobia mas também de falta de oportunidade ou de ser uma proposta de vida.

A Tribuna – Quem tem mais receio de casar: o homem ou a mulher? Explique.
Luiz Cuschnir – Não dá para dizer que um é mais que o outro mas sim características individuais em certos homens ou certas mulheres, incluindo também fases e experiências que já tiveram anteriormente. Homens podem precisar de mais espaço para viverem e um casamento pode constelar um aprisionamento. Por outro lado, outros desejam fortemente casar muito mais para ter filhos do que pela relação com a mulher. Uma mulher por sua vez pode ter receio pelo que viu ou viveu, além de ter a experiência de que casar terá que abdicar projetos como os profissionais, que seria penoso e frustrante. Ambos que já tiveram casamentos anteriores, podem não querer mais casar pelo trauma que sofreram ao terminar ou o que passaram ao longo desses casamentos.

A Tribuna – Às vezes o casal namora por anos e mesmo assim uma das partes não se sente preparada para o casamento e ainda tem dúvidas sobre o que deseja. Por quê?
Luiz Cuschnir – Provavelmente há dúvidas relacionadas ao tipo de relacionamento que imaginam que vão passar e não querem que ocorra. As relações longas muitas vezes sofreram momentos onde haviam riscos de término, rompimentos, decepções etc. Por mais que mantém a relação, fica guardado, às vezes num dos dois somente, e sem ter sido adequadamente elaborado. A única proteção que a pessoa tem é não casar. Outras vezes o compromisso do que significa para ela o casamento é mais pesado do que ela se propõe, mesmo que o amor pelo outro seja grande.

A Tribuna – E o que a outra parte (que deseja casar) deve fazer: esperar o tempo do outro, pressionar ou desistir do relacionamento? O que o senhor aconselha?
Luiz Cuschnir – Não há conselho confiável. O respeito deve ser mútuo, de quem quer e de quem não quer. Por outro lado, a resistência do outro pode ser vencida se este tiver garantias de ter suas necessidades atendidas. Muitas vezes não é falado o que está por trás, como a desconfiança, questões econômicas, hábitos familiares do outro etc. Os impedimentos podem ser por não aceitarem o estilo de vida do outro e que não serão apontados para não gerar crises no relacionamento que podem destruí-lo.

A Tribuna – Existe idade certa para casar? Explique, por favor.
Luiz Cuschnir – O primeiro casamento trás uma série de fantasias e expectativas que se ocorrem em pessoas imaturas, podem trazer grandes problemas. Isso tem um pouco mais de chance se a pessoa é muito jovem mas não exclui que ocorram também com pessoas não tão jovens. Por outro lado, pessoas mais velhas, que passaram por diversas situações, traumaticas ou não, podem ser tão rígidas que aparecerá a dificuldade de se adaptar em dividir com o outro uma vida íntima e construir uma relação.

A Tribuna – Como saber se está na hora de casar? O que levar em consideração?
Luiz Cuschnir – Como sempre não há regras mas o importante sempre será a capacidade de tolerar os limites do outro, a responsabilidade pela mudança da vida desse outro e a disponibilidade de mudar a sua própria. Quanto mais conseguirem expor as suas dificuldades de partilhar coisas e os limites que têm em relação aos hábitos do outro, mais terão claro que casamento estão fazendo. Limites como família, convívio, hábitos pessoais, dinheiro, coisas que surgirão no dia-a-dia tendo sido claras, evitam cobranças e deceepções depois.

A Tribuna – Vale a pena fazer o test-drive, dividir o mesmo teto por algum tempo para tirar a dúvida? Essa convivência mais próxima pode ajudar? Qual é a sua avaliação?
Luiz Cuschnir – Recomendo aos namorados que querem levar a relação a compromissos mais sérios de tentar antes passar alguns dias inteiros juntos, a fim de se conhecerem nas mais variadas situações – e não apenas nos jantar romântico, na viagem de férias ou final de semana, quando tudo é sempre bacana. Antes de se seguir adiante, procurar saber se como companheiros são ambos compatíveis entre si, e nas mais variadas situações, inclusive as mais íntimas. E isso porque a intimidade justamente revela situações que não são percebidas antes de se vivenciá-las. Basta pensar em algumas delas: uso do banheiro, higiene pessoal, troca de roupa, limpeza, arrumação, organização de rotinas, além das intimidades do sexo. Esse é o momento em que as grandes diferenças vêm à tona e conclamam a predisposição para enfrentá-las, experimentá-las e testar a consideração do outro.

 

 

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