INCELS
Quando um jovem pensa que está fadado “pelas regras de uma sociedade cruel a nunca fazer sexo, porque é feio ou constrangido socialmente”, trata-se de um caso clínico com necessidade de terapia?
Essa determinação de estar fadado, dependente ou vitimizado por regras da sociedade, por si só leva a uma dúvida sobre como foram construídas essas crenças. Podem aparecer tanto em relação a sexo quanto a outros temas que pessoas colocam na sociedade o arbítrio de como devem ser. E é claro, em alguma instância sentem-se submetidas a uma crueldade que para ela é sentida mais claramente como abusadas ou só manifestadas em comportamentos reativos de encolhimento emocional ou reações mais agressivas. A elaboração dos conceitos de ser “feio” ou “constrangedor” vão criando um Ser dentro de cada um muito diferente da ampliação ao máximo do potencial humano que todos nós precisamos desenvolver para sermos o “melhor de nós mesmos”.
Terapia?…necessidade dependerá de aceitar que há muito mais a se ampliar buscando o que constrange tanto o nosso potencial.
Daí a possibilidade de se perceber que não estamos vivendo porque não nos conhecemos o suficiente para perceber o quanto vivemos sob regras que nos ajustamos justificando sempre que não podemos ser de outra maneira, que a sociedade nos impede até de nos dedicarmos ou que somos e sentimos mais verdadeiramente.
O que cria esse sentimento de culpabilização do sexo oposto sobre a falta de trato nas relações amorosas e sexuais? Por que são os homens, em quase totalidade, que se manifestam como incels?
Dificuldades de relacionamento são inerentes ao próprio desenvolvimento do ser humano. Quando expostos a relacionamento afetivo que os confronta, nas diferenças em relação ao outro, faz a checagem das experiências que o levam até essa etapa de vida.
Relacionar-se com o outro coloca em cheque a sua incapacidade de controlar o outro, sim há essa ordem explícita. Muitas vezes para ser alguém que têm necessidade que este outro seja. Isso, claro que provoca a sua capacidade em lidar com o diferente. Culpar o outro não afasta da possibilidade de se ser vítima de uma situação que esteja ocorrendo, mas deve provocar a autorreflexão sempre.
Quanto maior o autoconhecimento, maior a percepção do que não está resolvido dentro de si. E se há uma projeção no outro como “acusação”, deslocando para esse outro o que é da própria pessoa, impede de evoluir e se preparar para lidar com essa diferença.
Homens podem buscar o afastamento até pelas exigências que se impõem (ou são cobrados) de serem o “ideal” deles mesmos. Precisam ser o que se autodeterminaram para ser o melhor homem que acreditam ter que ser.
Nem sempre o distanciamento de um relacionamento, chegando aos celibatários, indica a dificuldade de relacionamento, mas sim uma opção em encontrar um sentido de vida outro que não seja por este caminho.
É possível dizer que ter um par é uma parte natural e saudável e o não ter seria estar em desacordo com essa ordem?
Sim há essa ordem explícita, mas há também um movimento da sociedade, da cultura, do mundo que se consome ao contrário. Há um estímulo muito grande a se evitar o contato pessoal, aceitação e valorização dos relacionamentos à distância, exacerbação da rapidez etc. Isso em detrimento a construção de relacionamentos que entre outros tantos movimentos, corroboram a não ser importante o exercício de construção das relações presenciais. Gera então o estímulo a uma vivência de um par, sem a experiência de uma convivência, que terá características diferentes de um “par natural”.
Um dos argumentos usados por esse grupo diz que as mulheres são hipergâmicas, no caso sempre vão se interessar por homens em posições sociais e econômicas superiores que as delas, logo, focam seus interesses românticos em uma parcela muito pequena de homens, restando aos “inferiores” a completa solidão. Esse conceito de hipergamia possui algum respaldo científico? É um termo usado para explicar comportamentos humanos?
Olhar somente nesse aspecto “hipergâmico” das mulheres, ressaltando como são exigentes, é um lado da moeda. Homens também têm exigências em relação às mulheres, deixando de lado muitas delas por não cumprirem os seus ideais. Da mesma forma, geram em algumas essa sensação de serem “inferiores”.
Ambos têm exigências de si próprios de terem que ser e conquistar o primeiro lugar no pódio e não aguentam muito menos que isso.
Quanto ao científico, não conheço quaisquer comprovações, e mesmo que existam alguns estudos, terão sempre o crivo de que a Ciência comprova o visível mas, como a Física Quântica propõe, há muito do não superponível e não localizável que existirá também.
Há uma área de psicologia que se dedique em estudar os efeitos psicológicos das frustrações amorosas? Os incels já são parte dos estudos que se atentam à sexualidade e gênero?A Psicologia sempre se dedicou para buscar as manifestações dos relacionamentos, também os amorosos mas que se manifestam por multifatores. Criar respostas causa e efeito vão contra ao entendimento de que somos base de uma energia conectadas e influenciada por inúmeras outras. Cada manifestação que surge, como dos incels devem servir sempre para refletirmos.