Revista Claudia com Jaqueline Brender, Carmita Abdo e Luiz Cuschnir
Logo após o parto, o casal vive uma fase de transformação: novos sentimentos se expressam, outros se modificam e diferentes papéis precisam ser experimentados ou repensados. É um momento oportuno para conversar e construir a relação sobre alicerces mas sólidos. A família está crescendo e todos podem se beneficiar com isso. Para ajudar nessa reconstrução, convidamos alguns especialistas para esclarecer dúvidas e dar algumas sugestões sobre como recuperar a libido perdida: Jaqueline Brendler, médica, terapeuta sexual e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana; Carmita Abdo, médica, professora e coordenadora geral do ProSex – Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo; e Luiz Cuschnir, médico, terapeuta e autor de “Os Bastidores do Amor” e “A Relação Mulher & Homem”.
Durante algum tempo – seis meses, arriscam os otimistas, um ano, garantem os mais realistas – seu desejo e seu corpo não serão os mesmos. Mas fique tranqüila e tente não se culpar: isso independe de sua vontade ou de você ser uma mulher “fogosa” ou não. Além do estresse e do corpo em transformação – que podem, com certeza, intimidá-la, outros vilões antidesejo entram em cena nesse período.
A prolactina, por exemplo, um hormônio liberado durante o período da amamentação, age comprovadamente contra a libido. Associado à diminuição do estrogênio (outro hormônio), pode levar também à falta de lubrificação vaginal e a um certo desconforto na hora da transa. Por isso, não raramente, alguns obstetras recomendam o uso de cremes tópicos à base de promestriene, que ajudam na reorganização química da mucosa vaginal. O casal pode – e deve – exercitar outras formas de prazer.
Namoros mais prolongados, carinho, massagens, carícias suaves e masturabação podem levar a um estado de excitação forte e, talvez, jamais experimentado. A fase é boa para novas descobertas e todo aprendizado dessa hora pode render frutos fantásticos um pouco mais tarde, quando o casal estiver mais adaptado à nova situação. Para quem se aventura por essas veredas do amor, uma notícia ótima: o orgasmo faz bem para a mulher no puerpério.
Traz energia, ativa a circulação sangüínea e, de quebra, estimula contrações que ajudam o útero a voltar ao seu tamanho normal.
Preparando o futuro
Viva esse momento da melhor maneira possível, aproveitando-o como um verdadeiro laboratório para novas experiências. E não se esqueça de algumas regras básicas:
- Em primeiro lugar, nada de pressa. Cada casal tem as sua singularidades, seu ritmo e, portanto, não existem fórmulas prontas para orientar a retomada da vida sexual. Momentos voluptuosos à la “Último Tango em Paris” ou “Império dos Sentidos“, terão de ficar para depois. Centre fogo, com tudo, no prazer do namoro, ternura, companheirismo e delicadeza.
- Intimidade não é desmazelo, portanto tente não se descuidar de sua aparência. Nada de querer entrar, rapidamente, naquela calça jeans apertadinha. Tente um camisão bem charmoso, que pode deixá-la confortável para amamentar e, ao mesmo tempo, bastante atraente.
- Se não dá pra sonhar ainda com programas tipo baladas, noitadas, pense que um jantarzinho a dois, à luz de velas, pode criar um clima ideal para um namoro gostoso.
- Um passeio curto ou um sorvete na esquina podem ajudá-la a quebrar a rotina e estar mais receptiva para seu companheiro.
- Se alguém puder olhar o bebê por um intervalo maior, que tal um cineminha a dois?
- Seu ritmo de sono está alterado, você se sente esgotada, portanto faça o que puder para recuperar a energia. Se não consegue dormir nos intervalos das mamadas, coloque uma música suave para tocar e convide seu companheiro para essa sessão de relaxamento.
- Lembre-se: as mulheres, apesar de terem muito trabalho durante os primeiros meses, conseguem certa compensação afetiva e até sensorial no contato com o bebê. A gratificação do homem, no entanto, é muito menor. Alguns conseguem se organizar emocionalmente e outros sentem muito ciúme. é preciso jogo de cintura, principalmente por parte do homem para que a dupla mãe e filho, aos poucos, lhe dê espaço e o casal possa, então, recuperar o erotismo.
- A formação de um triângulo – pai, mãe e criança – pode ser dolorosa e ameaçadora, principalmente para aqueles que viveram, na infância, um sentimento forte de perda ou rejeição.
- Nas primeiras relações, uma pressão forte sobre a vagina provavelmente causará dor. A pressão, portanto, deve ser exercida na extremidade superior dos pequenos lábios vaginais e sobre a base do clitóris. é importante que o parceiro espere até que a mulher queira – e peça—ser penetrada.
- A ajuda da mãe, da cunhada, da sogra ou de quem quer que seja nos cuidados com o bebê é sempre bem-vinda, mas também deve ter limites. Arrume um horário para esvaziar a casa. Ficar a sós com o seu parceiro e, assim, dar vida e prazer à sua nova família.
- Fase difícil? Claro que sim. Mas uma boa hora, também, para fazer nascer, junto com o bebê, outros encaixes para a relação marido e mulher. A crise passa e os momentos de prazer voltam. Aliás, provavelmente, foi num momento assim, de total intimidade, que o casal concebeu essa criança, que não deixa de ser uma promessa de renovação de vida.