Perdão

Ana Maria: Por que perdoar é tão sofrido?

Luiz Cuschnir: Porque para perdoar é preciso fazer um exercício muito difícil para a maioria das pessoas, que é se colocar no lugar do outro.É preciso rever as expectativas que foram criadas sobre a outra pessoa e aceitar a liberdade que este tem de viver sua vida, sempre tendo em vista que o ser humano é falível e passível de erros. Na maioria das situações, há
uma implicação também de quem está perdoando no caso específico, mesmo que de uma maneira mais sutil, menos direta naquela situação. Para perdoar também é necessário admitir os seus próprios erros, o que é um movimento muito difícil e angustiante, pois sempre é mais fácil pôr a culpa nos outros. Só assim é possível compreender e perdoar a outra pessoa, podendo até reparar os danos causados por um possível desentendimento, ou dano que lhe foi causado.

Ana Maria: O senhor acredita num poder transformador do perdão?

Luiz Cuschnir: Sim, pois perdoar é crescer. Quando se perdoa alguém do fundo do coração, há uma grande sensação de alívio, de leveza. Estas sensações levam o indivíduo a recapitular sua vida, tomando uma nova postura frente aos seus próprios erros e aos erros dos outros. Errar não é mais um fracasso somente, mas sim um aprendizado.
A raiva dá lugar a um sentimento de entendimento e compaixão, levando a pessoa a se colocar no lugar do outro e a entender a situação de forma renovada, de outro ponto de vista.

Ana Maria: Há pessoas que dizem que sua vida só voltou a melhorar depois que perdoaram. Do ponto de vista da psicologia, há uma explicação para isso?

Luiz Cuschnir: Sim. Quando não há a capacidade de perdoar, há um eterno sofrimento que acompanha esta pessoa todos os dias, fazendo-a lembrar de quem a fez mal, levando-a a sentir raiva, ódio e vingança. Estes sentimentos consomem uma grande carga de energia, e trazem sensações de mal estar, de peso e de injustiça. Muitas vezes perdem a capacidade de confiar nos outros e se tornam muito exigentes e perfeccionistas consigo mesmas. Após perdoarem a quem lhes fez mal, há uma sensação imediata de alívio, alegria, muitas vezes acompanhada de um choro gostoso que literalmente põe para fora todas as mágoas e angústias que estavam acumuladas. Isto realmente dá um novo colorido à vida, como a libertação de um aprisionamento de quem se colocou para acusar e perseguir a quem acusa.

Ana Maria: Que benefícios o senhor listaria para a vida de alguém que consegue superar a mágoa e perdoar?

Luiz Cuschnir: Desde que essa superação não a aprisione em outro canal de sofrimento constante e repetitivo, poderíamos dizer que esta superação vai ajudar a pessoa a seguir a gente sua vida, fica livre para novos contatos, projetos, envolvimentos que só podem propiciar um novo caminho que não seja de manter-se no lugar de vítima do outro.

Ana Maria: Perdoar depende apenas de uma decisão ou para perdoar verdadeiramente há uma hora certa (que depende de outros fatores internos)?

Luiz Cuschnir: Não é apenas decidindo perdoar que se consegue realmente dar o perdão. Existem situações mais fáceis e outras mais difíceis , dependendo da gravidade do ato que lhe foi cometido. O tempo é um fator importante para elaborar toda a situação e conseguir perdoar. Também é necessário adotar uma nova postura de vida, aprender que as pessoas erram, dar espaço em nossa vida para os erros e aprender com eles. Nem sempre as pessoas fazem aquilo que as outras gostam ou que acham correto, muitas vezes fazem mal às outras, mas a vida é no presente e a todo minuto há uma chance de se recomeçar. Não há um momento certo, mas oportunidades que a vida nos dá de perdoarmos os outros e de muitas vezes nos perdoarmos também, precisamos estar atentos e de coração aberto.

Ana Maria: O senhor acredita em casos de pessoas que adoecem por causa da dificuldade que têm de perdoar?

Luiz Cuschnir: Quando a capacidade de perdoar (tanto aos outros quanto a si mesmo), uma angústia e uma dor psicológica se fazem presentes de uma maneira muito intensa, podendo levar a pessoa a se fechar, não confiar mais nos outros, e se tornar aquilo que popularmente chamamos de “pessoa amarga”. Isto pode levar vários distúrbios de comportamento e personalidade, podendo chegar a casos mais sérios de depressões e psicoses.

Ana Maria: O senhor tem dicas de reflexões que uma pessoa que está tentando perdoar pode fazer para chegar a conseguir isso? Que critérios alguém deve levar em conta para saber se deve perdoar?

Luiz Cuschnir: As pessoas que sofrem por não conseguirem perdoar devem sempre estar se esforçando para isto. Viver com raiva, ódio e sentimentos de vingança só deteriora a beleza da vida, funcionando como uma vendo nos olhos, obscurecendo os sentimentos mais nobres no ser humano de alegria, compaixão e amor. Perdoar não é sinônimo de passar por cima de si,
submeter-se em demasia chegando até a se punir ou deteriorar a tal forma a auto-estima, que acabe não se preservando e até
chegando a atitudes masoquistas. Possuir uma crença religiosa, um bom amigo para desabafar e principalmente um acompanhamento
psicoterapêutico para trabalhar melhor esta situação são as opções mais viáveis para quem quer
reencontrar o caminho da felicidade com liberdade sempre…

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