Entrevista concedida à revista IstoÉ
IstoÉ: O sr. acha que hoje em dia as mulheres estão cada vez mais tomando a iniciativa no jogo da conquista ou elas ainda acham que devem ser conquistadas?
Luiz Cuschnir: As mulheres estão mais livres para tomar a iniciativa, ou pelo menos expo-las com mais clareza. Isso não deve ser confundido com elas terem uma correspondência maior pois continuam insatisfeitas com as respostas dos homens. Muitas se incomodam com as atitudes masculinas de serem “escolhidas” como num leilão. Quanto maior a autoestima feminina, mais se sentem seguras em escolher, mas não precindem do cortejo masculino.
IstoÉ: O sr. acha que a emancipação feminina foi um dos fatores que deu segurança à mulher para tomar inicitivas nas relações amorosas?
Luiz Cuschnir: Com certeza essa emancipação deu uma brecha maior para a amplitude também do comportamento delas, mais arrojado, se equilibrando mais com os homens. A partir daí adquiriram mais experiências e muitas foram ampliando sua segurança, assim como a independência e assumiram o poder sobre suas próprias vidas, sem tanta dependência dos homens. Isso é importante pois acaba contaminando positivamente outros aspectos de suas vidas. Como trço neste último livro “Os Bastidores do Amor”, onde relato as invasões emocionais, mostro como a mulher não se sujeita mais a cativeiros emocionais onde ficam a merce dos homens.
IstoÉ: Muitas revistas femininas voltadas para o público das adolescentes já ensinam como pedir para “ficar” com um garoto. O sr. acha que a próxima geração de mulheres já estará mais confortável com a questão de ter que ir à luta pra conquistar um parceiro? Por quê?
Luiz Cuschnir: Ir à luta, nesses casos, mostra mais claramente o que a mulher precisa para se preencher e cumprir suas experiências, muitas vezes relacionadas mais às suas necessidades físicas e sexuais. Nem sempre esses “pedidos” correm paralelo a um preenchimento mais profundo de suas necessidades emocionais, correndo um risco sempre de ser mais um exercício físico de “bocas e línguas”, até de relações sexuais vazias. A real experiência profundamente amorosa só vai ocorrer com o desenvolvimento da relação dos dois, que demanda tempo, envolvimento etc, sem tanto a ver com a táticas de abordagens.
IstoÉ: Como vivemos em uma sociedade de valores machistas, o sr. acredita que muitas mulheres se sentem culpadas ao abordar um homem?
Luiz Cuschnir: Muitas mulheres sentem incômodas quando tem que abordar homens, principalmente se tiverem experiênicas de rejeição anterior, de baixa autoestima, às vezes até de desvalorizações mesmo dentro da família. Não é incomum terem tido ou visto comentários de familiares, de pais e irmãos, onde não se sentem valorizadas como mulheres, e isso atualiza quando vão abordar um homem. Daí sentir-se também culpadas por estarem demonstrando interesse, não é o mais comum, a não ser que tenham um pacto com pais de que não devem se expor, traindo valores tradicionais da família, da sociedade em que vivem e isso as diminuiria junto à familia.
IstoÉ: A mulher aprendeu a “fazer a corte”. O sr. acredita que os homens estão gostando dessas mulheres conquistadoras ou tem preconceito?
Luiz Cuschnir: A “corte” feminina acaba sendo aceita com mais facilidade se ocorre dentro de parâmetros tidos por eles como “sensíveis” ou mais “delicados”, mantendo-as em posições mais discretas, receptivas ou que demonstrem que eles ainda podem aceitar ou não. Os homens ainda reclamam que muitas mulheres se vulgarizam quando adotam posturas masculinas, proativas, incisivas em demasia. Eles aceitam as aboradgens delas, acabam até se envolvendo, mas elas precisam utilizar táticas que propiciem e evidenciem as diferenças e polaridades masculinas e femininas.
IstoÉ: O sr. acha que eles se sentem “obrigados” a corresponder as paqueras femininas para firmar sua masculinidade?
Luiz Cuschnir: Neste último livro mostro no subtítulo que “As buscas e os sentimentos que invadem os relacionamentos e como lidar com eles” que homens muitas vezes sentem-se compelidos a demonstrar interesse, provar seus dotes, sejam físicos como de um homem que atendem à mulher para não serem ridicularizados. Podem até desenvolverem e manterem relacionamentos que não os satisfazem, com receio de ferir uma mulher e assim serem denominados de insensíveis ou perversos. Tudo isso também compõe essa masculinidade que tem que provar e prover.
IstoÉ: E as mulheres? Elas agora também “fazem a corte” e também correm o risco de ouvirem um “não” do objeto de desejo. Essas mulheres de atitude já sabem lidar com essa possibilidade de rejeição?
Luiz Cuschnir: Aparentemente sim, podem não demonstrar no primeiro momento, mas deixam marcas de rejeição como nos homens. Podem até deixar mais pois elas acabam se fechando, se dedicando mais a outras áreas como às profissionais, e desistem de cumprir um plano afetivo-amoroso. A rejeição na mulher pode tornar-se total do ponto de vista da identidade feminina. Ela pode se complicar em outros papéis e deixar-se invadir, quando tem muita expectativa pela sua escolha, e afeta-la psicossomaticamente, ou até psiquiatricamente, é tudo uma questão de equilíbrio emocional.