Vanessa Vieira: Do ponto de vista da psicoterapia, a caridade – tão defendida pela religião para uma “evolução espiritual” – tem um poder benéfico para quem a pratica?
Luiz Cuschnir: Sim, quando a caridade é praticada como um movimento espontâneo, ela demonstra um sentimento nobre e exclusivo do ser humano. A expressão deste sentimento é acompanhada de um profundo bem estar, uma sensação intuitiva de que se está fazendo a coisa certa, reforçada por sensações de alegria e paz interior. Quando emergem tais sentimentos, podemos ter a certeza de que aquilo que foi praticado realmente possui um poder benéfico, capaz de equilibrar o psiquismo e elevar o nível
de consciência do indivíduo de um estado egocentrado para um mais abrangente, preocupado também com o social e com
o meio ambiente.
Vanessa Vieira: Algumas pessoas sentem que, de fato, receberam em dobro o bem que praticaram. Isso tem alguma explicação psicológica?
Luiz Cuschnir: O ser humano tende a perceber suas ações através do olhar do outro, e ao praticar o altruísmo, a caridade, recebem em troca esta aprovação de uma maneira amorosa e grata, o que serve de estímulo para outras ações e alimento para a alma. Quando se cria um padrão de comportamento, a tendência é encontrar cada vez mais pessoas e ambientes que condizem com o que é feito. Praticar a caridade, o amor e a compaixão, levará a pessoa ao encontro ao que ela criou para si mesma, tendo a sensação de que está recebendo em troca aquilo que deu.
Vanessa Vieira: Quem pratica o bem geralmente conta que também foi muito ajudado. Acredito que as pessoas caridosas acabem por se inserir numa rede de solidariedade da qual também usufruem. O senhor listaria outros benefícios de exercer a solidariedade?
Luiz Cuschnir: Exercer a caridade traz um grande benefício social. Se pudermos ter uma sociedade minimamente mais justa, mais equilibrada, e mais saudável em seus diferentes aspectos, todos estes benefícios refletirão na vida individual de cada um. Pensar no mundo acaba se tornando um jeito de pensar em si mesmo e vice-versa, pois é impossível ser feliz sozinho ou num mundo destruído pela falta de amor e cuidados.