Site Uol – Jornalista Simone Cunha
Entrevista Concedida – 04/09/2014
Uol – O fato de uma pessoa apaixonar-se por alguém comprometido e submeter-se a essa situação demonstra alguma vulnerabilidade emocional?
Luiz Cuschnir – Uma pessoa inacessível não se deixará apaixonar-se por ninguém. Está trancada e impossibilitada de se entregar como de receber quaisquer movimentos em direção a ela que indiquem a possibilidade de um romance. Assim estamos perante uma situação de invulnerabilidade máxima. A partir disso temos as aberturas que cada um dá para que apareça alguma chance de relacionamento. Em geral as pessoas restringem pelo menos algumas abordagens, que terão a interferência do que optam ou não para isso. Mas nem sempre esses limites são controlados e podem sofrer interferências, e aí se dão as vulnerabilidades.
Uol – As mulheres aceitam mais esse tipo de situação (em ser a ‘outra’)?
Luiz Cuschnir – As mulheres tem uma vida emocional muito rica. Vivem intensamente suas emoções e isso propicia que estimulem com mais facilidade a partir de sensações e fantasias de diferentes amores que não sejam o que refeririam se pudessem escolher. Também acreditam mais que haverá uma mudança de status do amante se persistirem na situação. Também é comum haverem promessas que as iludem em virtude da dissimulação ou falta de coragem dos homens em romper vínculos familiares.
Mas não significa que homens também não se disponham a serem amantes, o que muitas vezes os satisfaz até por sentirem-se mais livres para manterem outros projetos de vida. Quem sabem se iludam menos que haverá uma concretização de um vinculo conjugal com ela.
Uol – O que esperar de um relacionamento como este?
Luiz Cuschnir – Se tudo correr bem, podem ter grandes momentos de amor e sexo. O espaço para sentirem o amor de um pelo outro é grande mas para viverem no convívio do dia-a-dia é restrito. Isso terá implicações importantes na construção de projetos de vida comuns e de experiências sociais e familiares também. Se o senso de realidade permanece e há uma adaptação ao que é possível e não às fantasias de que sonham, podem obter o que desejam. Os limites dessas relações demandam uma disponibilidade de abdicar a coisas que numa relação que não precisa ser escondida teriam.
Uol – É possível fazer planos para o futuro, acreditar em promessas?
Luiz Cuschnir – Tudo depende de que tipo de situação está em jogo. Há grandes diferenças quando o relacionamento conjugal do amante é bom ou ruim, com filhos ou não, questões econômicas envolvidas, crenças religiosas, estrutura psicológica etc. O fato de não ser a ‘esposa’ que compartilha a rotina, os problemas do dia a dia, a responsabilidade dos filhos pode ser uma vantagem? Isso pode deixar este tipo de envolvimento mais leve, mais divertido?
Sem dúvida a pressão da rotina invade os relacionamentos e pode cobrar deles trabalho que num relacionamento onde vivem como “namorados” não existe. Devem levar sempre em conta que é uma exceção e que se transpusessem para a vida conjugal, principalmente com filhos seria bem diferentes, mais ainda se forem pequenos, mais dependentes.
Uol – Botar pressão resolve, como: querer engravidar, ameaçar fazer escândalo ou partir para a chantagem emocional dizendo que vai terminar tudo se o companheiro não tomar uma decisão?
Luiz Cuschnir – Há de se pensar o que é resolver. Se é tudo pode resolver mas é uma questão do quanto se estará criando uma situação de alta tensão, agressiva, o que vai interferir enormemente no amor que possam ter um pelo outro. E isso vai perdurar pelo resto da vida. Resolve mas também danifica.
Uol – Viver um romance no anonimato é prejudicial para a autoestima, para o equilíbrio emocional?
Luiz Cuschnir – Em geral sim. Uma vida que precisa tende a gerar uma certa vergonha de estar fazendo algo ou muito errado. É uma vida escondida e se não houver muita gratificação, maturidade e uma boa estruturação da vida, depender somente dessa relação amorosa pode ser muito desgastante, inclusive afetar outras áreas. Pode ter implicações tanto profissionais como de outras relações como um todo, inclusive afetar a saúde em pessoas que não tem a estrutura psicológica adequada.
Uol – A amante sempre carrega a fama de ‘vilã’. Na prática, ela também pode ser vítima de um relacionamento mal resolvido? Ou tem mulheres que lidam bem com este tipo de situação?
Luiz Cuschnir -A fama de vilã é em geral das pessoas diretamente envolvidas com o casamento do amante. Ela estaria interferindo na estabilidade deste, o que é fato, mas nem sempre é a que estimula isso. A opção é igual dele também. Não dá para chegar a essa noção de vítima nesse caso, a não ser que tenha sido enganada e só tido a informação quando já houvesse um envolvimento. Caberá a ela ter então condições de mudar o rumo se desejar.
Por que algumas mulheres não conseguem terminar um relacionamento como este, mesmo quando a situação se torna insustentável?
Um relacionamento pode abarcar completamente a vida que a pessoa leva. A envolve de uma maneira que passa ter um lugar central e muito importante. Por isso que muitas vezes podem começar como brincadeira, uma intenção de terminar quando quiser e de repente a pessoa está num nível de envolvimento que não consegue se afastar, mesmo sabendo dos malefícios que causam. Há relações que provocam verdadeiros sequestros emocionais, onde um provoca a dependência do outro, mesmo em situações semelhantes a um cativeiro.
Uol – Vale a pena ser a amante?
Luiz Cuschnir – Só vale para quem sabe muito bem lidar com isso e prefere uma vida de menos convívio social e opta por essa situação e não é vítima dela.