Entrevista concedida ao Diário da Região
Fabiano Angelo: Está claro que o casamento se transformou. Você diria que a maior participação da mulher no mercado de trabalho e, conseqüentemente, nas decisões domésticas contribuem para estas mudanças?
Luiz Cuschnir: Eu diria que o casamento ainda está em transformação. Com a mudança de papel da mulher na sociedade, houve também uma necessidade de mudança e adaptação do homem a estes novos padrões e exigências. Conseqüentemente a relação dos dois também sofreu algumas alterações, e ambos ainda estão tentando achar a melhor forma possível de conviverem juntos. Ela participando mais do mercado de trabalho, também passa a ter mais poder econômico e por conseguinte de decisão, inclusive no ambiente doméstico. De encontro a isso vem seu crescimento a ampliação na sociedade, tanto do ponto de vista cultural como social e mais amplamente político. Tudo isso vai dar mais condições para ela interferir no lar e na família.
Fabiano Angelo: Hoje há casais que moram junto (sem se casar no papel), vivem em casas separadas, só se casam por meio de contratos especiais, enfim, uma infinidade de uniões. Você acha que vale tudo para viver ao lado de alguém? Até mesmo quebrar padrões impostos pela sociedade?
Luiz Cuschnir: Os padrões impostos pela sociedade servem para orientar ou guiar certas situações numa tentativa de padronização do comportamento, ou uma “homeostase social”, porém não devem ser tão rígidos e inflexíveis a ponto de impedirem uma adaptação saudável, que não traga danos e conseqüências desfavoráveis para os envolvidos ou para terceiros. Encontrar novas maneiras de enfrentar a conjugalidade é mais do que aceitável para a adaptação aos diferentes casamentos que vão ocorrendo. Nem sempre os padrões que são impostos coincidem com como o vinculo conjugal precisa se estabelecer e se desenvolver.
Fabiano Angelo: Por que os modelos menos tradicionais de união estão sendo mais aceitos socialmente?
Luiz Cuschnir: A velocidade com que a vida está exigindo para as pessoas cumprirem metas, permite também a absorção de novos conceitos de convívio em comum. Padrões novos são consumidos sem grandes reflexões, inclusive os veiculados a mídia passam a fazer parte do dia a dia, às vezes invadindo a intimidade e estruturas mais tradicionais. é a “normalização” artificial do que é veiculado.
Fabiano Angelo: O espaço é um grande problema dos casais? Ou seja, muitos se gostam, mas não conseguem dividir a pasta de dente e implicam com a toalha molhada sobre a cama?
Luiz Cuschnir: A questão aqui não parece ser de espaço físico, mas sim de espaço individual. Quando se tem um relacionamento a dois, é necessário que um respeite o outro em sua individualidade, assim como espaço de intersecção formado pelo casal. Qualquer desrespeito a esta área particular pode ser entendido como uma invasão, uma violência. A pasta de dente ou a toalha molhada só estão representando a sensação emocional do quanto cada um gostava de ser considerado.
Fabiano Angelo: Pesquisas recentes mostram que tanto homens quanto mulheres consideram a fidelidade fundamental para a relação, mas ao mesmo tempo, mais da metade admite ter traído. Na sua opinião, porque existe este contrasenso?
Luiz Cuschnir: Este contrasenso é um reflexo de um comportamento e de uma sensação que às vezes co-existem no ser humano mas que são incompatíveis. Por um lado, há a decepção da pessoa que foi traída, a sensação de não ser a única, de rejeição, de não conseguir satisfazer a outra e de não ser tão especial quanto gostaria. Porém, muitas vezes a pessoa que trai, não o faz por falta de amor ou por não considerar mais a pessoa com quem está junta, mas sim para extravasar um instinto, ou para exercitar a sua liberdade e desejos que muitas vezes ficam sufocados pelo ritmo de vida e até mesmo pelo próprio relacionamento. Trair pressupõe muito mais controle do que ser traído.
Fabiano Angelo: As mulheres estão mais exigentes? Não basta mais um marido honesto e bom pai?
Luiz Cuschnir: As mulheres, assim como os homens, estão confusas. Ao se libertarem de anos de submissão e silêncio, as mulheres partiram para o oposto de sua antiga condição e ainda não encontraram o equilíbrio natural que lhe dê a segurança de seu verdadeiro papel. Assumiram muitas funções ao mesmo tempo e com uma cobrança enorme de mostrarem que são capazes. Toda esta exigência acabou gerando uma “super-mulher” (ao menos este é o modelo a ser seguido), o que por sua vez gerou um exigência muito maior na hora de se encontrar um marido. é lógico que na realidade do dia a dia, estes níveis altíssimos de exigência não vão ser correspondidos, e isso não quer dizer que não tenham bons homens por aí, mas que o nível exigido está além das capacidades humanas, o que acaba se tornando até uma desculpa para os fracassos nos relacionamentos.
Fabiano Angelo: O modelo antigo de relação patriarcal ainda continua no inconsciente coletivo? Ou seja, mesmo a mulher dividindo as despesas, fica para ela pagar a empregada e o supermercado enquanto o marido investe em bens?
Luiz Cuschnir: Numa visão total do ser humano, encontramos basicamente dois tipos de energia ou padrões de comportamento que se apresentam como sendo opostos: a feminina e a masculina, ou o yin e o yang do taoísmo. Na mulher a energia feminina atua conscientemente e a masculina fica reclusa ao inconsciente, no homem acontece o contrário. Sendo assim, se estas forças fossem respeitadas e aceitas de maneira saudável, o homem teria um comportamento predominantemente de ação, razão, provedor, enfrentamento, agressividade (no bom sentido)… e a mulher de afetividade, carinho, nutrição e etc…
Ou seja, cada um assumiria a função que melhor se encaixa com suas características inatas, respeitando suas vontades essenciais. Isto não tem haver com a relação patriarcal no inconsciente coletivo, pois na história da Terra já passamos também por um longo período organização matriarcal da sociedade.
Porém, o que vemos hoje é uma intensa negação destas características e uma conseqüente confusão de papéis, o que é perfeitamente compreensível se examinarmos a história contemporânea, o advento do feminismo e etc…
Mesmo nos dias atuais, tanto um quanto outro, esperam ser satisfeitos em suas necessidades. Em um primeiro momento há um aspecto prático, seja com os encargos da casa ou com o crescimento econômico. pode até ser esboçado explicitamente no que cada um faz em casa, mas a tendência é que estes limites vão se misturando.
Mas do ponto de vista emocional, tanto o homem quanto a mulher, desejam um certo tipo de proteção, uma atenção e um afeto seguro que vai de encontro com o que viveram com os seus pais e atualizam com o que estiver os mobilizando. Ou seja, sempre estarão mesclando um pouco do que já tiveram com os novos padrões da cultura e da sociedade moderna.