O que elas querem

Revista Kalunga – Silvana Lima – maio/2014

Ser executiva nº 1 pode ser o sonho de muitas mulheres, mas basta uma incursão pelo interior da cada uma delas para que descubram armas ainda mais poderosas.

Ante a aproximação do dia internacional da mulher, é comum chegarem às redações, inclusive desta revista, inúmeras sugestões de pautas, todas elas relacionadas aos avanços femininos no mercado de trabalho, principalmente aqueles em que elas se equiparam ao homem. É um tal de mulher que trabalha como bombeira; que dirige táxi, metrô, ônibus, caminhão; mulher executiva e até aquela que dá piruetas e se vira nos 30 para ser a grande provedora da casa. Nenhuma pauta sobre a supermulher que cada uma tem dentro de si ou que estão descobrindo a própria essência feminina.

E olha que a sociedade está repleta dessas supermulheres; que se desdobram em múltiplas tarefas, mas ao mesmo tempo carregam dentro de si todo a feminilidade e sensualidade que lhes são inerentes. Quer queiram, quer não, todo homem há de concordar com isso, daí a justiça da criação do Dia Internacional da Mulher. A forte presença da mulher no mercado de trabalho, a ocupar cargos cada vez mais elevados, até com certa facilidade, ainda gera muito preconceito por parte de alguns. Mal sabem o quanto eles tiveram que se desdobrar e se dedicar para atingir os patamares que ocupam hoje; e ao mesmo tempo, se manterem femininas e desejáveis aos olhos dos homens.

Para o psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir, autor dos livros Quando mulheres poderosas se tornam mulheres conquistadoras e Por dentro da cabeça dos homens, o mercado de trabalho, muitas vezes, é implacável. Exige delas uma performance de tão alto nível, que não lhes sobra a menor disponibilidade para viverem o lado feminino como gostariam. “Isso as exaure e, muitas vezes, faz com que criem barreiras contra seus desejos, o que acaba contaminando a sensualidade e resultado em atitudes mais duras e menos femininas”, analisa.

De qualquer forma, a mulher moderna está completamente empenhada em ser a melhor profissional e a mãe impecável de seus filhos. Na visão de Cuschnir, que acompanha o movimento das mulheres na sociedade em geral, bem como no âmbito profissional, há cada vez mais uma tensão na carreira feminina, cujos resultados são muitas vezes desastrosos para a vida afetiva e, por consequência, para a realização pessoal da mulher. A boa noticia é que muitas mulheres vêm buscando praticar o exercício constante de disciplina para se manterem ativas em todos os campos, seja no profissional, seja no pessoal ou afetivo.

Vale ressaltar que não é nada fácil para elas acharem um espaço privilegiado para si nessa concorrência com a carreira e família, “Às vezes, essa competição é desleal, pois os apelos psicológicos, que contêm as exigências dessas áreas, as impedem de se dedicar como gostariam à curtição dessa feminilidade que poderiam viver”, afirma o psiquiatra. Ele entende que muitas mulheres acabam se deixando levar pelo aspecto mais racional e frio, o que as afasta do feminino mais essencial que cada uma tem naturalmente dentro de si.

Muitas mulheres foram deixando de lado sua essência feminina, de forma inconsciente, até pelo modo como foram educadas. Poucas foram instruídas para serem femininas e sensuais. Algumas, talvez tenham sido criadas para serem boas esposas, mães, e hoje, são educadas para serem bem-sucedidas. Felizmente, as que procuram despertar esse desejo, resgatar o lado feminino, são o que chamamos no inicio de supermulheres. “Quando esboço a possibilidade de fazermos um trabalho de resgate da feminilidade, elas reagem positivamente. Dão a impressão de que nem tinham percebido como abafaram completamente esses aspectos tão importantes para a identificação com suas identidades femininas”, relata Cuschnir.

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