Entrevista concedida à revista Ana Maria
Vanessa Vieira: Esse poder transformador do amor se justifica pela vontade de agradar ao outro? Há outros elementos que pesam para essas modificações?
Luiz Cuschnir: O verdadeiro poder transformador do amor está na crença e na valorização do que o outro tem de melhor, no olhar compreensivo e no entendimento das fraquezas do outro como ser humano, deixando o parceiro agir com liberdade para inclusive conhecer a si próprio. O amor verdadeiro (incondicional) se manifesta como apoio, compreensão e carinho. Em uma relação a dois, para que as coisas dêem certo, é importante que os dois estejam bem, por isso, a parte mais saudável pode fazer um resgate para evitar que os dois caiam em situações de desequilíbrio como esta. A dedicação, o empenho e o cuidado com o outro podem ajudar a “curar feridas” que acarretam nessas modificações.
Vanessa Vieira: Qual o limite entre ajudar alguém a se melhorar e tentar mudar o parceiro, extremo que leva tantos relacionamentos ao fim?
Luiz Cuschnir: Quando a própria pessoa percebe que tem uma dificuldade e sente a vontade de mudar, ter uma pessoa ao lado incentivando e apoiando é fundamental para que esta mudança ocorra com sucesso. O amor pode fazer as pessoas se esforçarem para serem melhores. Digo quase sempre pois há casos em que as pessoas não conseguem corresponder ao amor, se sentem cobradas e podem chegar até a se destruírem. Há também as que tentam moldar a outra conforme o seu ideal de parceiro, passando por cima de qualidades e características do outro para conseguirem o que querem. Nestas situações, fica mais difícil a mudança positiva, pois há uma desvalorização do outro de como ele realmente é, rebaixa a auto-estima e gera uma tensão na relação, o que faz as pessoas ficarem mais irritadiças e resistentes a qualquer opinião do outro. Podemos dizer que o limite para estas mudanças é o respeito à vontade, ao tempo e ao bem estar do outro.
Vanessa Vieira: Algumas mulheres tentam fazer seus parceiros mudar de atitude cobrando, falando, insistindo, sem nenhum resultado. Por que essa estratégia acaba sendo tão ineficaz?
Luiz Cuschnir: As insistências e cobranças podem levar o relacionamento a caminhos obscuros, onde a pessoa não se sente amada e desejada por aquilo que ela é. Muitas vezes não dão certo porque não fazem parte do amor, e sim de um sentimento egoísta que tenta modelar um homem para preencher o seu próprio vazio interior, ignorando características, vontades e desejos de seu parceiro. Cobra dele o que falta em si mesma para se sentir plena.
Vanessa Vieira: Outro questionamento é como ajudar o companheiro sem se anular. Na novela, por exemplo, Noêmia cuidava do filho de Cristiano quando ele bebia, o ajudou durante vários dias a estudar para um programa de perguntas na TV e até se ofereceu para digitar as reportagens dele quando ele quebrou a mão. Como se dedicar ao parceiro, ajudá-lo a superar suas dificuldades sem se tornar escravo do outro? (como preciso fazer um quadro sobre este aspecto, o senhor me ajudaria muito se se demorasse um pouco mais nesta resposta!)
Luiz Cuschnir: A pessoa que se ama e se respeita conseguirá amar, respeitar e ajudar o parceiro sem se anular. Esta deve ser uma tarefa prazerosa, com muito diálogo, respeito pelos limites do outro e companheirismo, não um fardo a ser carregado com reclamações, “ar de vítima”, brigas e sofrimento. Cada um é responsável pela sua própria vida, não devendo se responsabilizar ou se martirizar pelas atitudes ou fracassos do outro. Tem certas situações que os limites não ficam muito claro entre ajudar e invadir, apoiar e cobrar os resultados, pedir ajuda e se acomodar em uma posição de incapaz. Para que fiquem mais claros estes limites, é importante perceber o que esta relação traz de positivo, se as tentativas de mudanças estão dando resultado. Se você também está crescendo com tudo isto e se o relacionamento do casal se fortaleceu ou enfraqueceu durante este período. Tensão entre o casal, esgotamento físico e mental, esvaziamento dos sentimentos são indícios de auto-anulação. Por mais que desta forma você consiga ajudar o seu parceiro, existe um perigo muito grande da relação permanecer assim, uma pessoa se anulando para a outra conseguir viver bem. Para que isto não aconteça é importante dar autonomia à no “tamanho e medida certa” outra pessoa. Deixar com que ela faça o que é preciso, dando suporte e segurança para que ela possa caminhar com suas próprias pernas. Quando gera resultados positivos, valorizá-los, dando chance para o outro tomá-los como dele próprio, se apossando da conquista.