Entrevista concedida ao Diário de Ribeirão Preto
DRP: Você acha que essa “nova mulher” (que trabalha, é independente, toma decisões próprias) assusta o homem?
Luiz Cuschnir: No meu ponto de vista, o que assusta o homem não é a mulher que trabalha fora ou toma suas próprias decisões (isso pode ser até muito bom para o casal) mas sim a que obtém sucesso e destaque em sua carreira. As mulheres que ficam em evidência seja pela beleza, inteligência ou qualquer outra qualidade que lhes dêem um status superior, podem intimidar homens com baixa auto-estima. Geram em muitos deles um sentimento de competição e conseqüente stress no relacionamento, ou inferioridade associando-o a um fracasso. O primeiro tipo de competição é externa, com outros homens, já que a mulher em evidência possui canais mais abertos para possíveis conquistas da parte dela, ou ser alvo de outros. A outra competição é interna, dentro do próprio relacionamento, pois faz com que se sinta ameaçado em seu papel homem. Homens estão o tempo todo se comparando com outros quanto a sua masculinidade.
Hoje em dia, na maioria da população brasileira, tornou-se fundamental ter outras fontes de renda que não só o emprego do homem da casa. A mulher saiu para trabalhar também por uma necessidade de aumentar a renda da família. Porém quando ela começa a ganhar mais que o marido, inclusive nas famílias de baixa renda, causa, na maioria das vezes, um desconforto no casal.
DRP: Mulheres que têm “espírito livre” podem muitas vezes ser temidas num relacionamento? (entenda-se espírito livre como gostar de sair sozinha, às vezes, viajar, curtir os amigos e a família etc)
Luiz Cuschnir: Não sei se a palavra certa é temida. Acho que muitas vezes os homens evitam se relacionar com mulheres com esse tipo de perfil. é muito fácil hoje em dia a confusão entre liberdade e libertinagem, e as mulheres mais extrovertidas, que querem sair e viajar sozinhas, são muitas vezes mal interpretadas pelos homens, não são levadas a sério. Não acho que se teme a mulher em si, mas sim o envolvimento com ela e o medo de perdê-la ou ser enganado. Tudo é uma questão relacionada a desconfiança que eles têm delas.
DRP: Na sua opinião, os homens não sabem administrar muito bem a relação quando a mulher também tem como prioridade a carreira, o trabalho?
Luiz Cuschnir: Tanto o homem quanto a mulher não gostam de ficar em segundo plano no relacionamento. As prioridades são muito relativas, mas se houver um exagero por parte do parceiro ou parceira em relação ao trabalho, a falta de atenção, a ponto de ser um motivo freqüente de brigas; tanto um quanto o outro deve repensar a relação, e mesmo se está pronto para ela, ou realmente interessado em uma vida afetiva. Esta proposta a dois precisa ser alimentada e se espera muito que a mulher cuide muito bem disso.
DRP: Quando a mulher é segura dos seus desejos sexuais e demonstra experiência na cama, pode também suscitar um certo receio no homem?
Luiz Cuschnir: Sim, o homem ainda separa em sua mente a “mulher para casar” das outras. Isto significa que a mulher que demonstra experiência e segurança na cama, faz alguns homens pensarem que ela já esteve com muitos antes dele, suscitando um receio de estar com uma mulher vulgar, ou “rodada” como os jovens chamam hoje em dia. Tentam separar os sentimentos do sexo, numa tentativa de não se envolverem emocionalmente. Outro receio que pode ser suscitado é o de não corresponder com as expectativas de uma mulher experiente na cama. Podem falhar ou fracassar como homens, muitos nem se aproximam por medo de não serem bons o suficiente a ponto de dar prazer para uma mulher que pensam ser mais exigente. Como falei, eles comparam e imaginam como ela o está comparando com experiências anteriores que ela teve.
DRP: Que dica você daria para os homens que se encaixam neste perfil de “assustados e arredios” ao comportamento feminino?
Luiz Cuschnir: A maioria das mulheres, por mais ativas e independentes que sejam, ainda preservam a vontade de ter um homem forte ao seu lado. Não duro, mas que saiba tomar decisões e se posicionar com firmeza. Ao mesmo tempo espera que ele entenda as suas vontades, respeitando e incentivando o papel duplo da “nova mulher” na sociedade, que trabalha e é mãe, mulher e amante. Mulheres ainda gostam de sentirem protegidas e queridas, seguras para poderem se entregar e serem acolhidas com amor. Mesmo as que parecem fortes, bem sucedidas e independentes ainda são mulheres, e devem ser incentivadas e tratadas como tal. Quanto mais incentivada em sua feminilidade, mais o homem poderá se apossar de sua masculinidade, gerando uma conexão harmônica entre essas duas maravilhosas forças. Fortalecer-se e enfrentar suas máscaras como descrevi no livro “Homens e suas Máscaras – Paixões e Segredos” (Ed. Campus).