Gisela Rao:
1) Por que existem mulheres que só atraem homens casados?
2) Como mudar esse padrão?
3) Mudando esse padrão é possível conquistar um relacionamento saudável com um homem disponível?
Luiz Cuschnir:
Algo que aparece em muitos lugares como uma constante pergunta e parece uma crença que vai se alastrando por aí. “Onde estão os homens disponíveis para namorar ou casar?” Ou “Não há homem na praça.”
Acreditando ou não, ocorrendo com cada mulher interessada diretamente nisso, vai-se tomando essa crença em realidade absoluta e muita coisa pode advir dela.
A mulher vai se acostumando a não acreditar mais que naquela festa, naquele happy-hour, no aniversário do amigo (ou amiga ou parente), pode topar de frente com outro disponível, ou ao menos um homem que não está bem com quem está enamorado. Não é incomum um relacionamento iniciar antes que o outro não tiver terminado.
Homens sozinhos em geral estão incômodos com a exposição social, principalmente se o interesse é voltado a relacionamentos com um compromisso maior, ou com uma disponibilidade para iniciar uma nova entrega e abertura de seu espaço interno ou dedicação à construção de um vínculo afetivo que pode depois se transformar em amoroso.
Alguns até acreditam em se apaixonar novamente, em encontrar a mulher que estão procurando, mas que nem existe por aí. Somente as imagina perfeitas quando vê de longe, totalmente criadas na sua fantasia de que assim ou assado a partir do jeito que se veste, o cabelo que tem ou o corpo que o atrai.
Bom, isso tudo é uma introdução para podermos traçar algum perfil de muitos homens dos que estão mais livres para essa nova etapa da vida deles de acreditar (agora a crença deles) que vale a pena traçar o esporte, os bares para ficar bebendo e paquerando alguém (que provavelmente vai dar alergia no 2º ou 3º encontro, com ou sem experiência sexual, e satisfatória ou não).
Visto isso aparecem aqueles que são mais ou menos assim, mas que estão casados. Estes não acreditam (ou não querem fazê-lo) mudar radicalmente suas vidas. Estão construindo, ou já o fizeram, um patrimônio que inclui casa, filhos, parentada toda, roda social próxima e distante, e por aí em diante.
São homens que estão bem insatisfeitos com a vida sexual, em geral monótona e realizada com ares de obrigação, e que desejam variar e se estimular, com a idéia que conseguirão agüentar esse casamento até o fim de suas vidas.
No máximo pensam em se separar e irem atrás de uma vida mais interessante que a que levam depois que os filhos crescerem ou se casarem.
Aí vêem pela frente uma mulher mais interessante. Acham-na divertida. Instigante. Bem mais dócil que a que têm em casa. Viva, com uma conversa “super” atualizada. Tudo naquele momento o fascina.
Mal ela sabe que essa visão e compreensão, e profundo interesse por ela vem de uma insatisfação de vida bem maior e mais ampla que o que ela está significando naquele momento.
Agora, o lado de lá, ela está tomada por aquela crença que falei lá no início: “não há homens interessantes disponíveis na praça”(podemos suprimir o “interessantes” se necessário).
Dizem que é carência. Termo já amplamente e vulgarmente utilizado para definir existencialmente que uma mulher está sem um sentido de vida que condiz com sua essência. Falo muito no meu último livro “A Mulher e Seus Segredos” sobre isso. A essência feminina está vinculada à noção de amor. E vice-versa, amor pressupõe a conexão da concepção de mulher. Ela pode estar voltada integralmente para sua vida profissional, com uma carreira estimulante e vitoriosa, plenamente satisfeita com o que está conseguindo ou já o fez. Mas se parar para pensar (ou sentir) entra em contato com qual o sentido de vida dela mais profundo: quer se realizar afetivamente. Leia-se com isso, amorosamente, com um parceiro que a acompanhe, que participe da sua vida, com quem possa trocar afeto, amor, sexo, além de dúvidas, medos, palavras doces e presentes, e é claro, viagens, finais de semana, noites junto com ele e outros tantos sonhos que muitas vezes são até maçantes para muitas mulheres casadas.
A rotina fica chata e só se anestesiando ou fantasiando muito as casadas acham tudo muito eletrizante. Muitas têm uma relação que está confortável se tiverem uma relação de amor com o marido também baseada na repetição de programas e suprimindo todas as decepções que estão instaladas em seus corações além da própria memória.
Mas esse não é um perfil de todas e estão muito bem como casadas.
Mas também, pode não ser coincidente a temperatura de satisfação plena de seus maridos: eles se deparam com um desejo de “não sei o que”, e pode ser um “o que” de completarem-se ao menos alguns minutos, horas ou dias de fantasia de conseguirem ter uma vida mais gostosa que a que estão vivendo.
É com estes que as mulheres se deparam.
Alguns poucos mudaram de vida.
Outros poderão se alimentar, e muito, de um relacionamento que trará mais sabor a vida rotineira (muitas vezes outros adjetivos bem menos comportados), que levam.
E aí as mulheres que trombam, ou procuram, passam a se envolver e iniciar um relacionamento amoroso, gostoso também, se sentindo muito amadas, e até algumas aliviadas por terem a liberdade de dedicarem-se ao que lhes interessa também.
Enfim, também, podem nem precisar de homens tão disponíveis na praça.